O grande problema do primeiro-ministro israelita é que, se por um lado, verá o seu Executivo ruir caso assine o acordo com o Hamas, por outro está obrigado a fazê-lo porque o documento é uma proposta directa da Casa Branca que não deixa margem para recusas.

Ou seja, Benjamin Netanyhau morre politicamente se assinar o acordo e morre politicamente se não assinar o acordo.

Mas este cenário de beco sem saída nem sequer é uma novidade para Benjanim Netanyhau, que nas várias tentativas de chegar a um entendimento mínimo com o Hamas para um cessar-fogo, os dois ministros ideologicamente radicais e religiosamente extremistas ameaçam sair da coligação.

O que Bezalel Smotrich, ministro das Finanças e líder do Partido Sionista Religioso, e Itamar Ben Gvir, ministro do Interior e líder do Otzma Yehudit, partido ultranacionalista e anti-árabe, já vieram a público dizer é que não haverá Governo se Netanyhau aceitar as ordens de Washington.

Ambos sublinham que tal acordo ditaria uma derrota total de Israel neste conflito com o Hamas, porque nenhum dos três objectivos propostos pelo Governo quando, a seguir ao 07 de Outubro de 2023, lançou a operação militar em Gaza.

Objectivos que eram a destruição total e irreversível do Hamas, a libertação de todos os reféns levados pelo Hamas para Gaza e que Gaza deixará de ser um local de insegurança para Israel, o que, até agora, não foi conseguido nem total nem parcialmente.

E o que foi conseguido, a libertação de um grupo limitado de cerca de 30 entre os mais de 200 reféns detidos pelo Hamas e pela Jihad Islâmica, foi-o no seguimento de acordos negociados pelos intermediários Catar e Egipto.

Ao fim de quase oito meses de guerra, o mais poderoso exército do Médio Oriente, e um dos mais sofisticados do mundo, com acesso directo aos arsenais norte-americanos, não conseguiu ainda, com mais de 350 mil soldados envolvidos na "operação Gaza", derrotar os pobremente armados combatentes do Hamas.

Face ao impasse, apesar de Gaza ser hoje um território, onde habitam 2,3 milhões de pessoas, totalmente arrasado, e mais de 36 mil civis, na maior parte mulheres e crianças (16 mil), mortos, apenas um acordo poderá salvar a face de israelitas mas também de Washington, o grande e inigualável aliado do Estado hebraico.

Este acordo é uma oportunidade de saída para um conflito que ameaça eternizar-se e que ganhou nova e fulgurante dimensão a 07 de Outubro, num contexto de longas décadas de ocupação israelita da Palestina, quando o Hamas lançou um ataque ao sul de Israel.

Nesse ataque, além dos mais de 200 reféns levados para Gaza, os combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, fizeram perto de 1.200 mortos, a maior parte soldados apanhados desprevenidos nos quartéis.

Blinken diz que cabe ao Hamas aceitar acordo

O chefe da diplomacia dos EUA disse que cabe ao movimento islamita palestiniano Hamas aceitar uma "proposta para alcançar um cessar-fogo total" em Gaza e "elogiou a disponibilidade de Israel para chegar a um acordo".

O Departamento de Estado norte-americano indicou, em comunicado, citado pela Lusa, que as declarações de Antony Blinken surgiram no domingo, durante uma conversa telefónica com o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant.

Blinken e Gallant falaram sobre a proposta de Washington para "garantir a libertação de todos os reféns e aumentar a assistência humanitária em toda a Gaza", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, no comunicado.

O secretário de Estado norte-americano "sublinhou que a proposta ia servir os interesses de segurança de Israel a longo prazo, inclusive ao permitir a possibilidade de uma maior integração na região" e "reafirmou o firme compromisso dos Estados Unidos com a segurança de Israel".

Na qualidade de mediadores, Catar, Estados Unidos e Egito apelaram conjuntamente, no sábado, para que "o Hamas e Israel finalizem o acordo de cessar-fogo com base nos princípios enunciados pelo Presidente [norte-americano] Joe Biden". De acordo com a declaração conjunta, a proposta engloba as exigências de todas as partes.

Na sexta-feira, Biden anunciou um roteiro proposto por Israel para alcançar um cessar-fogo permanente por fases e sujeito a condições, e pediu ao Hamas que o aceitasse.

A primeira fase, explicou Biden, envolve um cessar-fogo de seis semanas acompanhado de uma retirada israelita das áreas densamente povoadas de Gaza, a libertação de certos reféns, mulheres e doentes, e a libertação de prisioneiros palestinianos.

As linhas gerais da segunda fase do plano serão negociadas durante o cessar-fogo, de acordo com o Presidente dos Estados Unidos.

No caso de negociações conclusivas, os combates cessam definitivamente, todos os reféns, incluindo soldados, regressam a casa e o exército israelita retira-se completamente da Faixa de Gaza.

Mas o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, sob pressão da extrema-direita, reafirmou que as condições para um cessar-fogo permanente incluem a destruição do Hamas e a libertação de todos os reféns.

O Hamas limitou-se a dizer que considerava o roteiro positivo, depois de ter reiterado as exigências de um cessar-fogo permanente e de uma retirada total de Israel de Gaza antes de se poder chegar a qualquer acordo.

Apesar dos apelos para um acordo, Israel prosseguiu no domingo com bombardeamentos em várias zonas da Faixa de Gaza, incluindo Rafah.

As autoridades do enclave governado pelo Hamas disseram no domingo que 60 pessoas morreram nas 24 horas anteriores na ofensiva israelita em Gaza, elevando para 36.439 o número de mortos no território palestiniano em quase oito meses de guerra.