Álvaro Manuel de Boavida Neto, na reacção à decisão da Procuradoria-Geral da República (PGR), que apreendeu diversos imóveis, empreendimentos comerciais, residências e empresas, no âmbito do processo de recuperação de activos constituídos com fundos públicos, sob responsabilidade dos generais Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa" e Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino", considerou que o seu comportamento foi "um mau exemplo".
"Eles devem colaborar com as instituições judiciais, porque o património que tinham na sua posse pertence a todos os angolanos", acrescentou o também deputado à Assembleia Nacional.
O deputado falava ao Novo Jornal no termo do discurso do Presidente da República, João Lourenço, sobre o Estado da Nação, onde este voltou a enfatizar a sua prioridade de combater a corrupção em Angola.
O Boavida Neto elogiou a forma com a PGR está a conduzir o processo de recuperação de diversos bens constituídos ou adquiridos com dinheiro do Estado, no âmbito do processo de recuperação de activos.
Por seu lado, o deputado da UNITA Raul Danda, também está de acordo com a decisão da PGR sublinhando que o processo deve correr com transparência e lisura para garantir a sua credibilidade.
"É normal a medida da PGR, porque o dinheiro utilizado para erguer estes impérios pertence aos angolanos. Esperamos que o processo prossiga correndo os seus trâmites normais", acrescentou, exigindo que a justiça deve recuperar os dinheiros que estas empresas produziram ao longo dos vários anos e está no estrangeiro.
Raul Danda lamentou ainda o facto do Presidente da República, João Lourenço, não ter feito referência no seu discurso ao alegado escândalo de corrupção que envolve o chefe do seu gabinete, Edeltrudes Costa.
"É isso que interessava aos angolanos ouvir neste discurso, mas, infelizmente, o Presidente da República não tocou no assunto", disse.
Mas o PR falou do combate à corrupção...
No seu discurso do Estado na Nação, João Lourenço admitiu que os desfalques possam ser superiores aos 24 mil milhões de dólares norte-americanos que disse ser o montante desviado nos últimos anos, numa entrevista a um jornal dos EUA, reforçando que "por si só", este valor "é superior à divida que o País tem para com o seu principal credor".
"Vai-se descobrindo coisas novas, sendo provável que mais tarde se venham a anunciar números bem superiores", disse João Lourenço ao Parlamento.
Na abertura da 4ª sessão legislativa da IV Legislatura da Assembleia Nacional, o Presidente voltou a dizer ao País o que já tinha avançado em entrevista ao Wall Street Journal: Que, até agora, foram recuperados 4,9 mil milhões dólares - 2,71 mil milhões em dinheiro e 2,19 mil milhões em propriedades, fábricas, terminais portuários, estações de rádio e televisão, gráficas, edifícios...
Lourenço recordou também a aprovação da Lei de Prevenção e do Combate ao Branqueamento de Capitais, Financiamento do Terrorismo e da Proliferação de Armas de Destruição Massiva, aprovada em Novembro de 2019, para falar dos "progressos que devem ser assinalados" no que respeita ao combate à corrupção e branqueamento de capitais.
Segundo o Presidente, o Tribunal de Contas redobrou a sua acção de fiscalização da ilegalidade das finanças públicas e de julgamento das contas que a lei sujeita à sua jurisdição.
"Esta intervenção do Tribunal de Contas tem permitido moralizar a execução financeira do Estado, diminuindo as margens de oportunidades para a prática da corrupção e a execução irregular do Orçamento do Estado", acrescentou João Lourenço, afirmando que "no que respeita ao combate à corrupção e à impunidade, mudou significativamente a percepção que tanto dentro como fora do País se tem deste nefasto fenómeno".