Muita emoção e muita vontade de chegar logo ao destino. Quer sentir-se mais pobre? Então tome um autocarro! Foi assim que um grupo de jovens estudantes questionou, e logo respondeu, em voz alta, fazendo-se de comediantes para adoçar ainda mais a viagem.

Reduziu-se a oferta de transporte público em Luanda, forçando quem tem um pouco de dinheiro a usar o carro próprio ou o candondeiro. Eis o grande motivo de Luanda ser uma cidade com trânsito infernal e ar muito poluído. Nos outros países andar de autocarro não é só coisa para os mais pobres, realça o estudante Pedro Gonçalves.

Entre as cinco operadoras oficiais que operam em Luanda há uma concorrência salutar, como considera Jose Junça, director- geral da TURA. As anomalias surgem, em regra, com os chamados táxis colectivos que já se encontram implantados e a prestar um serviço que não é de desprezar. Mas têm de ser organizados. Em nossa opinião, as autoridades competentes deveriam atribuir zonas de circulação aos táxis colectivos.

Para os passageiros fiéis depender do autocarro todos os dias acaba por ser muito emocionante. Você nunca sabe o que irá acontecer. São tantas as emoções que ocorrem no momento da espera, durante o trajecto e na saída, que nem sabemos o que sentir, conta uma das zungueiras. Maria Isabel toma todos os dias o autocarro do Kapalanca, zona de Viana, em direcção ao centro da capital.

No trajecto aproveita para ouvir algumas fofocas de gente famosa ou do Governo e até mesmo combolar os mais variados tipos de biscoitos que vende. Mas para ela a vida não está fácil.

De segunda a sexta-feira, os dias mais concorridos, acabam por ser dias de ansiedade. Saí de casa às cinco, apressei o passo no caminho, pensei que talvez fosse até perder o autocarro. Nunca tem hora certa para partir, afirma dona Maria Isabel.

Em Luanda, dificilmente os autocarros têm horários certos. São vários os motivos. O mau estado das vias de circulação e a anarquia generalizada que se verifica no tráfego são as principais causas. Aqui é aprender a jogar com o tempo. Quanto mais cedo sair de casa melhor, aconselha o senhor Baptista, motorista do autocarro.

Dona Rebeca nunca tinha andado de autocarro. Foi a sua primeira vez. Para ela, andar de autocarro seria o que todos deveríamos fazer pela redução do trânsito e da poluição atmosférica. Mas em contrapartida acrescenta que é necessário ter as condições mínimas para que uma boa parte da população adira aos autocarros.

Em países onde o transporte público funciona não empurram os passageiros como se fossem carga. Os cidadãos deixam os seus carros em casa para ir trabalhar. Até nas horas de lazer utilizam os transportes públicos, acrescenta Rebeca.

O grande concorrente deste tipo de transportes são os azuis e brancos, que muitas das vezes dão as famosas mbayas aos autocarros. Há falta de responsabilidade profissional por parte de alguns motoristas. Não têm noção de como o autocarro fica cheio e continuam a deixar entrar gente e mais gente, replica Rebeca. A falta de controlo provoca diversas situações que acabam por incomodar os passageiros e colocam em causa as regras de segurança.

O preço do bilhete é 30 kwanzas. Mas para muitos, como é o caso da estudante Márcia Ramiro, ainda é muito. Deveria haver autocarros só para os estudantes. De graça. Ainda não trabalhamos e os nossos pais não têm como pagar o transporte todos os dias. Saímos todos os dias de Viana para o Largo das Escolas. Passamos muito mal. Chegamos sempre bem transpirados na escola, conta.

E os debates? Estes nunca faltam. Conversa-se de tudo um pouco. Mas para esta sexta-feira o tema era mesmo a desgraça de ter que andar de autocarro cheio. Distraídos pelo bate-papo, a equipa do Novo Jornal nem deu conta que estava no final - o Largo das Escolas. A viagem durou cerca de três horas.