Se o micróbio protege o mosquito - é a fêmea que transmite a malária aos humanos - de ser contaminado com o parasita da malária, ou paludismo, então esse mosquito deixa de ser um potencial transmissor a humanos da mais mortífera doença actualmente existente em todo o mundo apesar de ser tratável e prevenível
Ou seja, se esta primeira abordagem se confirmar em posteriores testes, o que é preciso agora é encontrar forma de espalhar este micróbio por todos os mosquitos da espécie anófeles para garantir que o plasmodium deixa de ter como chegar aos humanos e, por essa via, iniciar um processo global de irradicação da malária, doença que, em 2018, matou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo e causou a doença em mais de 220 milhões, a maioria em África, onde Angola é dos países mais atingidos, com cerca de 12 mil mortes e mais de 200 mil casos nesse mesmo ano, sendo que mais de 50% são crianças com menos de 5 anos.
E África é, devido ao impacto desta doença, o continente onde esta descoberta poderá ter o mais importante impacto, mas ainda não existe uma data para que seja anunciada a técnica ou o conjunto de técnicas que vão se aplicadas para proteger os mosquitos e, assim, proteger indirectamente os humanos.
Os cientistas baptizaram este micróbio de Microsporidia MB e a descoberta aconteceu quando foi evidente, como explica o estudo publicado na revista Nature Communications, que todos os mosquitos que tinham o micróbio não tinham o plasmodium , sendo, então, evidente a existência de uma relação directa e, pouco depois foi evidente que era o micróbio que protegia o mosquito.
O Microsporidia é um organismo próximo dos fungos e é, tal como o plasmodium, um parasita, o que deixa em aberto a possibilidade de este proteger o mosquito por uma questão de protecção do seu espaço vital de sobrevivência no interior do insecto, estando presente em cerca de 5% dos testados e em todos eles - 100 por cento - não estava presente o parasita responsável pela malária.
A comunidade científica está a encarar esta descoberta como um passo de gigante na luta global contra a malária, mas para que os resultados sejam de acordo com as expectativas, vai ser necessário infectar pelo menos 40% da população de anófeles, porque o micróbio tem igualmente a capacidade de passar entre mosquitos e de se alojar na descendência da fêmea que o transportar, o que permite augurar uma protecção para os humanos de longo termo.
E estão a ser analisadas duas formas de infectar o maior número possível de indivíduos, seja infectando em laboratório os machos para infectarem as fêmeas no acasalamento, seja libertando esporos no ambiente com o micróbio para que este chegue aos seus hospedeiros pretendidos.
Mas uma decisão poderá tardar porque os cientistas ainda não sabem como é que, no seu ambiente natural, o micróbio chega aos mosquitos.