Os buracos nas ruas de Luanda não são novidade há muito tempo. As razões são várias e repetem-se ciclicamente. Muitas vezes, as crateras são causadas pelo excesso de chuva, que faz saltar o alcatrão; outras é o excesso de tráfego e de carga que as vias têm de suportar. Mas a razão principal é a falta de investimento público. Os populares reclamam, mas as queixas, quando não caem em saco roto, regressam passado pouco tempo, porque o asfalto volta a abrir.
O Novo Jornal fez uma ronda por alguns municípios e distritos e em todos eles a queixa repete-se, com poucas variações.
Moradores da rua Quicombo, no bairro do São Paulo, há muito que vêm solicitando melhorias na via. O estado precário de conservação do asfalto aconselha medidas. Os utilizadores da estrada dizem que já contactaram a administradora do distrito do Sambizanga, que disse que a reparação não depende da administração. E neste jogo do empurra a situação mantém-se para desespero de quem tem de andar para se fazer à vida.
João Tomé é a voz do inconformismo. Este morador diz não entender como é possível o Governo Provincial de Luanda deixar aquela via nas péssimas condições em que se encontra. "Estamos a viver no país do pai banana. Não sei que tipo de dirigentes temos. Esses problemas que vivemos aqui no São Paulo existem por quase toda a Luanda. Eu estou muito agastado com esta situação, passei agora no bairro da Brigada e a situação é a mesma. Não sei onde é que vamos parar com estes dirigentes corruptos", denuncia.
TRISTEZA E REVOLTA
Mostrando-se aborrecido com o actual estado das coisas, João Tomé defende a criação das autarquias para o povo decidir em quem votar para dirigir o município ou o distrito. "Tinha que ser por voto, muitos destes administradores de meia-tigela não estariam onde estão. Estou muito triste e, ao mesmo tempo, revoltado com o estado das vias desta cidade", rematou. No interior do bairro Operário, todas as ruas se encontravam cheias de água, o que causou inundações em muitas casas.
O estado degradante das vias no bairro do São Paulo é extensível a quase todas as ruas. No interior do bairro não há como os carros circularem e as pessoas também têm dificuldade em andar, por falta de espaço seco para pisar.
O estado degradante em que se encontram as estradas do São Paulo começa no prédio do Livro e vai até à Comarca Central de Luanda. Não há um metro que se aproveite. Um martírio constante para quem tem de utilizar diariamente este percurso.
Já no município do Cazenga, a reportagem deparou-se com um cenário pior na via principal que liga o São Paulo ao Cazenga. Da linha férrea até à fábrica da Cuca, a via está em péssimo estado. Ali só as viaturas 4x4 é que circulam, as outras nem arriscam porque ficam atoladas. Os moradores já contactaram o administrador municipal que, segundo eles, nada faz para solucionar o problema.
Também na rua do Porto Santos o quadro é mau. Os carros há mais de dois meses que não circulam. A degradação das estradas começa junto à gráfica das Edições Novembro e vai até ao mercado dos kwanzas.
No interior dos bairros, a situação é igual. Segundo os moradores, há um mês o governador de Luanda, Bento Bento, visitou a rua Porto Santos, tendo garantido que, dai a alguns dias, iria resolver a situação, o que não aconteceu até hoje.
A estrada que dá acesso ao mercado do Asa Branca também se encontra intransitável.
PARA QUÊ PAGAR TAXA?
No distrito do Rangel, os moradores confrontam-se com igual cenário Alguns automobilistas ouvidos pelo NJ dizem não entender porque é que as pessoas têm de pagar a taxa de circulação se todas as estradas estão em péssimo estado e os carros não conseguem circular.
Na rua da Brigada, os motoristas realizam manobras perigosas para evitar danos nos veículos. Estas manobras podem ocasionar acidentes graves até mesmo para os peões, já que o tráfego na rua é constante. As crianças são as que estão mais sujeitas ao perigo. "Em dias de chuva, é quase impossível pular os buracos. Já houve algumas quedas na tentativa, mas, por sorte, ninguém se machucou gravemente", comentou um morador.
"A rua não recebe melhorias há tempos. Esses buracos são uma vergonha, estamos cansados de pedir melhorias. Somente quando alguém se machucar ali é que irão tomar providências", criticou outro residente.
Várias reivindicações foram feitas junto do Governo Provincial de Luanda e das administrações municipais, mas até agora não surtiram efeito. "Eles sempre dizem que irão verificar a via nos próximos dias, mas nunca aparecem. Agora dizem que vão arranjar no tempo seco. A verdade é que quando as chuvas começam vamos voltar a ter os mesmos problemas", lamentam.
Alguns jovens no município do Cazenga resolveram arregaçar as mangas e fizeram um abaixo-assinado, solicitando melhoramentos nas ruas do município. O documento foi entregue ao administrador municipal. Revoltados com a situação, os jovens esperam que o governo cumpra as suas promessas.
NINGUÉM FISCALIZA
O taxista Luciano André não se recorda de outra oportunidade em que as ruas estivessem em situação semelhante à que se encontram actualmente. "É difícil apontar uma rua só. Todas estão em péssimo estado. Não sei qual é o trabalho que o governo está a fazer! O que mais me deixa triste é o facto de ver algumas vias feitas o ano passado e que já estão esburacadas. O grande problema que temos é que ninguém fiscaliza as obras. Fazem obras sem qualidade para ficarem com o dinheiro", comentou Luciano.
O profissional da condução revelou que prefere fazer caminhos mais longos a ter que transitar por determinadas ruas.
Ainda de acordo com a fonte, as causas para o número elevado de buracos estão relacionadas com as inúmeras infiltrações das redes de água e esgoto, o desgaste provocado pelo tempo e o trânsito intenso.
Durante a ronda, o Novo Jornal constatou que os bairros com o maior número de reclamações são os do Quicombo, São Paulo, Porto Santos, na Nocal, distrito do Rangel, e a rua da Brigada.
Moradores, como a comerciante Tânia Cardoso, já perderam a paciência. "É a segunda vez que esse buraco se abre na rua onde moro. Não quero saber de quem é a culpa, só quero que o problema seja resolvido. Não é justo que os moradores, que pagam impostos tão caros, passem por isso", sentenciou.