Que capacidade têm ainda os iranianos para a retaliação já prometida? É a primeira questão fundamental. A segunda é qual o papel dos Estados Unidos no plano hebraico para mudar o regime dos aiatolas e destruir o seu programa nuclear?
A primeira questão já começou a ser respondida pelo Irão que, na última noite, de sexta-feira, 13, para hoje, Sábado, 14, lançou algumas centenas de drones e dezenas de misseis balísticos contra Israel, menos de metade dos projéteis usados em Outubro do ano passado contra as bases aéreas israelitas para retaliar os sucessivos ataques de Telavive a figuras próximas de Teerão.
A fragilidade da resposta iraniana sobre Israel, mesmo que alguns dos seus misseis balísticos hipersónicos tenham atravessado as densas e eficazes camadas de defesa aérea hebraica, pode, segundo alguns analistas, como o major-general Agostinho Costa, ouvido pela CNN Portugal, ou Alexander Mercouris, analista de política internacional britânico, mostrar a eficácia dos bem planeados ataques israelitas.
É que a vaga de ataques israelitas, para as quais foram usados centenas de aviões de guerra e misseis de longo alcance, não foram direcionados apenas às instalações de enriquecimento de urânio com o qual Telavive e os seus aliados ocidentais garantem que Teerão visa obter armas nucleares, mas também, além das figuras de topo do regime, apontando a uma estratégia de mudança de regime em Teerão, à sua capacidade de lançar ataques contra Israel, incluindo os seus silos de misseis balísticos hipersónicos.
Porém, Mohammad Marandi, um académico iraniano, citado e ouvido em vários canais nas redes sociais, avançou, ao longo da tarde de sexta-feira, que o Irão vão fazer o que faz normalmente quando atacado por Israel, que é proceder a uma primeira resposta para consumo interno, depois usar os canais oficiais para protestar, como o Conselho de Segurança da ONU, que já fez, pedindo uma reunião de urgência que decorreu ontem, e contactar os países com melhores relações, como a Rússia e a China, para, depois, então colocar em prática aquela que será a sua retaliação.
Mohammad Marandi admite, porém, que, sendo claro que essa resposta será avassaladora para Israel, está não terá a dimensão que seria equivalente porque "Teerão está neste momento bastante isolada não apenas na região, mas também no mundo", porque russos e chineses, por exemplo, têm em cima da mesa a evidência de que os Estados Unidos da América são parte deste conflito e isso representa um risco acrescido.
E os EUA são mesmo um pilar do sistema militar israelita
Tanto o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, como o Presidente dos EUA, Donald Trump, vieram, logo após o ataque israelita, admitir que estão juntos nesta estratégia de ataque ao Irão, e em Washington ouviu-se mesmo a garantia de que as forças norte-americanas posicionadas no Mediterrâneo Oriental e no Índico estão empenhadas no apoio a Telavive, tanto na defesa como no ataque, como fica claro no uso dos aviões da Força Aérea dos EUA que permitem aos caças "israelitas" F-35 abastecer no ar de forma a alcançarem os locais de lançamento eficaz dos seus misseis e bombas de perfuração dos bunkers iranianos.
Ou na forma como a intelligentsia norte-americana, como garante Ray McGovern, antigo analista da CIA, ao sublinhar que a operação agora desencadeada só poderia ter a dimensão que teve, especialmente no desenho do mapa de localização das figuras de topo das forças militares iranianas e dos seus cientistas nucleares abatidos, com a planificação longa da Mossad, a secreta externa de Israel, e a CIA, numa "operação conjunta".
Mas a dimensão mais extraordinária deste momento histórico que anda está a dar os primeiros passos, porque, como todas as guerras de grande amplitude, sabe-se como começam mas não como vão acabar, é o inexplicável comportamento da Casa Branca e da Administração Trump como uma espécie de indutor de dormência para as autoridades de Teerão de forma a que baixassem a guarda para preparar este ataque.
Isto, como sublinha John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e um dos académicos mais respeitados em todo o mundo quando se trata de analisar a política internacional, neste momento todas as evidências conduzem para a ideia de que os EUA estiveram a entreter Teerão com negociações encenadas sobre o seu programa nuclear de forma a aumentar as probabilidades de sucesso deste ataque, não às instalações militares, mas às figuras militares e cientistas iranianos, para provocar uma mudança de regime.
Isso mesmo fica em evidência depois de Benjamin Netanyhau ter vindo, no momento a seguir ao ataque inicial de Israel, pedir uma sublevação popular no Irão, garantindo que "o regime nunca esteve tão frágil" e que não apenas o seu Governo e o povo israelita, como o resto do mundo está ao lado do povo iraniano que se levantar conta o "regime que o oprime há 50 anos".
Para já, essa estratégia, pelo menos até meio da manhã deste Sábado, 14, não está a funcionar, porque as chefias militares que foram abatidas pelas Forças Armadas israelitas (IDF) como o comandante da Guarda Revolucionária do Irão, general Hossein Salami, e do comandante-chefe das Forças Armadas iranianas, brigadeiro-general Mohammed Bagheri, foram substituídas numa cerimónia relâmpago.
Entretanto, alguns analistas já começaram a estabelecer comparações com o que se está a passar neste momento e o "teatro" que levou ao início da guerra no Iraque, em 2003, quando o então secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, foi à ONU mostrar provas falsas de que Saddam Hussein tinha um programa activo de produção de armas nucleares para justificar a intervenção militar.
É que, como nota Larry Johnson, antigo analista da CIA, a forma como em Washington Donald Trump e Marco Rubio, o seu chefe Da diplomacia, insistem, lado a lado com Benjamim Netanyhau, que o Irão está à beira de ter armas nucleares é o mesmo plano usado em 2003 para justificar a invasão do Iraque.
E este antigo analista da CIA nota ainda, em vários canais nas redes sociais, que depois desta participação clara de Washington neste extraordinário plano israelita para lançar o ataque ao Irão, onde a Casa Branca surge como ferramenta usada por Telavive, é preciso saber quem é que "voltará a confiar nos Estados Unidos enquanto parte de negociações entre Estados e ao mais alto nível?".
Porque, como estava a ser sobejamente noticiado antes do ataque israelita na noite de quinta-feira, 12, para sexta, 13, os EUA tinham agendada para Domingo, 15, a 6ª ronda negocial com Teerão para definir o futuro do programa nuclear que o Governo iraniano sempre garantiu ser de mero uso civil, estando agora essas negociações sem efeito, porque o Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, já veio dizer que o seu país foi "brutalmente traído" pelos EUA.
Tanto Masoud Pezeshkian como o aiatola Ali Khamenei, que é o principal líder iraniano, sobrepondo-se ao Presidente nas questões internacionais, já garantiram que estão em guerra com Israel e que "a vingança vai ter lugar de tal modo que o regime criminoso de Israel se vai arrepender de ter lançado este ataque cobarde contra o Irão" numa guerra "longa, dolorosa e vitoriosa"
Antes destas palavras dos dois líderes iraniano, já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, tinha dito que o seu país está preparado para a reacção iraniana e informado que os ataques vão continuar por mais duas semanas até todos os objectivos estarem atingidos, sendo que um deles é a mudança de regime em Teerão.
Entretanto, há questões que podem levar este conflito para um patamar nunca visto no Médio Oriente, porque tanto Masoud Pezeshkian como o aiatola Ali Khamenei já vieram advertir que se os EUA, a França e o Reino Unido, bem como os países onde estes têm as suas bases, poderão ser atacados se continuarem a ajudar Israel, não apenas a atacar o Irão mas também se ajudarem Telavive a se defender.
Porém, como sempre sucede, o Irão não reage sem ponderação e o seu ministro dos Negócios Estrageiros, Esmael Baghaee, já veio colocar alguma água na fervura garantindo que "ainda não foi tomada uma decisão" sobre como o país vai reagir a esse apoio dos aliados de Israel.