O balanço das vítimas da guerra israelo-iraniana, lançada pelos israelitas na noite de quinta-feira, 12, através de um coordenado e bem-sucedido ataque de misseis e drones, com operações clandestinas no interior do país, continua a subir noite após noite, mas o terror não é menos intenso em Gaza apenas porque os media internacionais dão agora menos atenção à invasão israelita daquele território palestiniano.

Nas últimas horas, um míssil israelita matou cerca de duas dezenas de pessoas que estavam à espera de alimentos em locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza, mostrando que Israel não abandonou esta frente de guerra, que abriu a 07 de Outubro de 2023, depois do ataque do Hamas ao sul de Israel, onde deixou um rasto de mais de mil mortos. (ver links em baixo)

Mas é claramente na troca de ataques aéreos com o Irão que Israel, empenhadamente apoiado pelos Estados Unidos e pelos seus aliados europeus, França, Reino Unido e Alemanha, principalmente, mantém o foco principal das suas guerras em curso, como o demonstra a ultima noite, de Domingo, 15, para esta segunda-feira, 16.

Em Teerão, os misseis israelitas, lançados pela sua aviação de longo alcance, com apoio no reabastecimento aéreo dos EUA, continuam a destruir infra-estruturas petrolíferas, bases de defesa anti-aérea iraniana e, como parece sem a frente mais sofisticada do Estado hebraico no Irão, o assassinato de figuras de topo da Guarda Revolucionária Iraniana, como o caso mais recente do chefe da intelligentsia desta força miliar de elite, o general Mohammad Kazem, e ainda dois dos seus mais próximos adjuntos.

Em Israel, os misseis de longo alcance iranianos continuam a passar pelas sofisticadas camadas de defesa anti-aérea israelita, voltando a surpreender os analistas militares ocidentais, visando especialmente as componentes energéticas do país, bases aéreas e locais referidos por Teerão como postos de comando da Mossad e da AMAN, a secreta militar israelita, as duas organizações que planearam e realizaram esta operação inicialmente.

As cidades israelitas de Telavive, centro-sul, e Haifa, no norte, são os alvos preferenciais das vagas de misseis de longo alcance iranianos, que usam largas dezenas de drones e misseis menos sofisticados para desgastar as defesas aéreas hebraicas para facilitar a penetração dos seus sofisticados projectéis hipersónicos, que estão a surpreender os media ocidentais com sucessivos impactos bem-sucedidos em alvos por todo o país.

Porém, embora em tempo de guerra, a informação seja uma arma e o que se sabe, através de fontes oficiais e mesmo de fontes secundárias, especialmente nas redes sociais, deva exigir um crivo apertado, o balanço das mortes de um lado e do outro permanece claramente desequilibrado, com mais de 400 mortos do lado iraniano e cerca de três dezenas em Israel, nas quatro noites sucessivas de ataques.

Só na última vaga de ataques, que apenas terminou às primeiras horas da madrugada desta Segunda-feira, 16, e de acordo com a televisão iraniana, foram disparados mais de 100 misseis em direcção a Israel, considerando este media estatal em Teerão que se trata de uma "resposta legítima" aos ataques israelitas.

Os estranhos objectivos desta guerra

Isto, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi, ter vindo a público abrir uma brecha para reduzir as tensões afirmando que o Irão parará com os ataques se o mesmo fizerem os israelitas, o que, em Telavive foi visto como uma manifestação de fraqueza, o que levou o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau a voltar a garantir que a guerra é para continuar até estarem alcançados todos os objectivos.

Objectivos esses que são conhecidos e passam por obrigar a ma mudança de regime em Teerão, pondo fim a uma "dinastia" de aiatolas de quase meio século e reduzir a cinzas o programa nuclear iraniano de forma a evitar que este país obtenha a ama nuclear.

Mas é aqui que alguns analistas começam a introduzir um terceiro objectivo, que não sendo novo, não se esperava que fosse activamente procurado por Israel, que é fragilizar o eixo Moscovo-Teerão-Pequim, onde assenta grande parte do esforço chinês e russo de acabar com a ordem mundial que vigora desde 1945, assente na hegemonia ocidental liderada pelos EUA.

Se esta guerra tiver como consequência a mudança de regime em Teerão, como o pretende Telavive e a Administração Trump, nos Estados Unidos, então uma das ferramentas mais ousadas com que a China e a Rússia procuram mudar a ordem mundial, que é o eixo da Iniciativa de Cintura e Estrada (Belt and Road Initiative) que passa pela Ásia central em direcção ao leste da Europa e ao Cáucaso - Rússia, estará seriamente comprometida.

Alias, isso pode mesmo ser a razão pela qual Donald Trump ter dito este Domingo que, mesmo sublinhando que espera um acordo entre Israel e o Irão, "por vezes é bom que (eles) lutem por algum tempo" antes de pararem, que é o mesmo que disse sobre a guerra entre ucranianos e russos...

Essa a razão pela qual alguns analistas competentes, como o académico Tiago André Lopes, ou o major-general Agostinho Costa, ouvidos na CNN Portugal, consideram ser natural que tanto a China como a Rússia enviem algum tipo de apoio para Teerão, até porque o Irão tem parcerias estratégicas na área da Defesa assinadas tanto com Moscovo como com Pequim.

Entretanto, e pelo que se percebe na frente diplomática, o Presidente russo, Vladimir Putin, depois de ter telefonado a Donald Trump, no fim-de-semana, tem em curso uma operação diplomática entre Teerão e Telavive, porque mantém boas relações com ambos os Governos, de forma a travar uma escalada no conflito, procurando, segundo alguns media russos, reduzir o leque dos alvos, como, por exemplo, tirar as áreas de interesse nuclear, do mapa dos alvos de um e do outro lado.

Aparentemente este passo está a dar frutos, porque Israel não tem, nas últimas horas, visado as infra-estruturas nucleares iranianas, onde o país enriquece urânio para, oficialmente, fins civis, e o Irão não procurou visar o conhecido reactor nuclear de Dimona, cidade com o mesmo nome no deserto do Negev, mantendo agora ambos os lados os seus misseis apontados a alvos militares e equipamentos energéticos, incluindo petrolíferos.

Um conflito que está para durar

Mas nem tudo são boas notícias, porque, de acordo com a russa RT, uma fonte oficial iraniana avançou que o Irão está-se a preparar para uma guerra com Israel há muito tempo e os planos existentes compreendem o "desmoronamento completo da máquina de guerra do regime israelita".

Um sinal de que a própria população iraniana está consciente de que esta é uma guerra para durar são as longas filas de viaturas que deixam Teerão, até porque o ódio entranhado nos dois países pelo outro é de tal ordem que os analistas mais próximos desta realidade no Médio Oriente admitem que dificilmente haverá um futuro pacífico sem que um ou outro regime sejam derrotados e mudados de formato.

E essa perspectiva pode ser aterradora, porque se o Irão é acusado por Israel e pelos seus aliados ocidentais de estar a procurar obter uma bomba nuclear nas suas instalações de enriquecimento de urânio, o facto é que os iranianos não possuem essa arma mas Israel sim, com a ONU a confirmar essa realidade que pode ser de 90 a 200 ogivas nucleares.

Porém, as autoridades iranianas não estão totalmente indefesas face à ameaça nuclear israelita, como o deixou claro Israel Katz, o ministro da Defesa de Israel, que ameaçou "transformar Teerão numa bola de fogo", porque o Paquistão, por muitos visto como o arsenal nuclear do mundo islâmico, já disse estar com o Irão nesta guerra e historicamente sempre disse que colocaria o seu arsenal atómico à disposição caso Telavive vá por esse caminho.

Entretanto, no Canadá, o G7, o grupo de maiores potências económicas ocidentais, está reunido com os conflitos em curso, da Ucrânia ao Médio Oriente, como temas principais, sendo de esperar que o encontro termine com um apelo forte à contenção mas mantendo o apoio fundamental a Israel, até porque, apesar das evidências de que foi Telavive que iniciou esta guerra, os media ocidentais continuam a espelhar as estratégias dos Governos norte-americanos e europeus.

Estratégia essa que passa por pedir contenção mas sublinhar que Israel tem o direito de se defender, mesmo que todos os ataques mútuos até agora tenham sido iniciados por Israel, como sucedeu em Outubro de 2024 e não haja nenhuma prova de que o Irão está a desenvolver um programa nuclear de natureza militar, embora seja igualmente verdade que ao longo do tempo vários líderes iranianos tenham preconizado a destruição do Estado de Israel. (ver links em baixo)