Teerão já era uma cidade com longas filas de carros a abandonar a cidade mas agora, com o aviso do Presidente norte-americano, e depois de um "mediático" ataque israelita à televisão estatal iraniana, onde morreram pelo menos 16 pessoas, aumentou a velocidade com que milhares abandonam a grande metrópole iraniana onde habitam mais de 11 milhões de pessoas.

O aviso de Donald Trump e o abandono inopinado da reunião do G7, o grupo de países mais industrializados do denominado Ocidente Alargado, colado às recentes informações do Pentagono sobre a deslocação histórica do maior número de meios navais e aéreos norte-americanos para o Médio Oriente, deixou claro, para a maioria dos analistas, que é agora um dado concreto a possibilidade de entrada directa dos EUA nesta guerra.

Se tal suceder, esta, que já é a guerra mais perigosa no Médio Oriente em muitas décadas, não apenas porque opõe as duas grandes potências regionais, Israel e o Irão, ou porque envolve ataques a instalações nucleares, pode evoluir para o estatuto de uma das mais perigosas guerras de sempre na história da Humanidade.

Até ao momento, nos cinco dias consecutivos de ataques e contra-ataques desde que Israel, na sexta-feira, 13, lançou a primeira vaga de bombardeamentos ao Irão, sem qualquer razão válida, a não ser a velha justificação com mais de três décadas, e nunca provada, de que o Irão visa obter uma arma nuclear, os EUA e os aliados europeus estão "apenas" a fornecer as bases aéreas e meios que permitem à aviação israelita atingir o espaço aéreo iraniano.

E se os EUA derem mesmo esse passo?

Se, como tudo indica estar prestes a acontecer, os Estados Unidos entrarem directamente nesta guerra ao lado de Israel, e quando se sabe que os aliados com quem Teerão tem parcerias estratégicas de defesa assinadas, a China e a Rússia, além do Paquistão, outra potência nuclear, estão a enviar remessas relevantes de armamento para Teerão, estar-se-á perante uma escalada flamejante neste conflito.

Isto, quando Pete Hegseth, o secretário da Defesa norte-americano, já confirmou o envio de mais um porta-aviões, com vários navios de apoio, incluindo submarinos nucleares, para a região, onde se vai juntar aos dois que já estão na região alargada onde decorre o conflito, somando a mais alargada força naval dos EUA em prontidão por causa de um conflito militar.

É um cenário mais que suficiente para, como já notaram vários analistas, se traduzir o aviso de Donald Trump à população de Teerão para deixar a cidade como uma password de acesso dos EUA ao conflito, não apenas a apoiar Israel mas ao lado do Estado hebraico a bombardear o Irão.

Tal aviso chega claramente tarde porque já há milhares de pessoas a deixar a cidade desde que começaram os bombardeamentos israelitas que já mataram centenas de pessoas, como o demonstra uma notícia do britânico The Guardian, que revela a existência de um cenário de caos nos hospitais de Teerão, onde os médicos citados pelo jornal falam de "um imenso banho de sangue".

Esta notícia do Guardian avança que o cenário é de tal modo devastador que os números avançados oficialmente de 224 mortos nas últimas horas está muito aquém da realidade, bastando ver o fluxo de feridos graves que entram em fila no Hospital Imam Khomeini desde a passada sexta-feira, 13, quando começaram os ataques israelitas.

Muito abaixo destes números catastróficos em Teerão e noutras cidades iranianas, em Israel, especialmente nas cidades de Telavive e Haifa, somam-se igualmente os mortos e feridos devido aos ataques iranianos através de misseis e drones de longo alcance, onde destruíram dezenas de alvos miliares, desde portos e aeroportos ou as sedes da "secreta" Mossad e das Forças de Defesa de Israel (IDF), ou instalações energéticas, como a refinaria do norte do país.

A surpreendente resposta iraniana

A capacidade iraniana de infligir danos severos em Israel, especialmente nas suas bases aéreas e outras instalações militares surpreendeu o Governo israelita de Benjamin Netanyhau, e os seus aliados ocidentais, o que pode estar a apressar, como o denota a declaração de Trump na rede social Truth Social, a entrada dos EUA na guerra.

Tal cenário já tem vindo a ser equacionado pelos analistas e especialistas militares porque Israel não tem as armas necessárias para penetrar nos bunkers onde estão protegidas as infra-estruturas de enriquecimento de urânio para o seu programa nuclear de natureza civil, como Teerão sempre garantiu, especialmente as denominadas MOAB (Mãe de todas as bombas), que só podem ser lançadas dos bombardeiros estratégicos B-2 norte-americanos e que Israel não possui, nem o avião nem a munição.

Todavia, apesar de tudo indicar que os próximos dias serão de grande escalada no conflito, existe a possibilidade de uma evolução para um acordo que, como Donald Trump tem dito, "é melhor que o Irão ceda agora antes que seja tarde demais", até porque, apesar da resposta severa de Teerão, o regime do aiatola Ali Khamenei está sob forte pressão da destruição que chega dos ares pela aviação israelita com o apoio dos EUA.

E isso mesmo foi dito pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, ainda em Alberta, no Canadá, onde decorre a reunião do G7, abandonada subitamente e sem aviso por Trump, ao dizer que o Presidente norte-americano saiu do encontro para ir gerir um acordo de cessar-fogo entre Telavive e Teerão.

Esta revelação do segredo enfureceu Trump que, rapidamente, na sua Truth Social, desmentiu Macron, acusando-o de estar apenas "em busca de protagonismo" sem fazer ideia do motivo que o levou a abandonar o Canadá abruptamente, mesmo que tenha repetido, de novo na sua rede social, que "o Irão devia ter assinado um acordo" de desistência do seu programa nuclear.

Os riscos para o regime em Teerão

Entretanto, se a oportunidade de um cessar-fogo estiver mesmo em cima da mesa, alguns analistas notam que dificilmente essa passo será dado sem um preço a pagar pelo regime iraniano, porque, depois de Israel ter assassinado diversos líderes militares e cientistas do programa nuclear iraniano, já esta madrugada foi abatido o Chefe do Estado-Maior do Irão, general Ali Shadmani, que estava no cargo apenas há dois dias, substituindo o general Gholam Rashid, uma das primeiras vítimas desta guerra iniciada por Israel.

Outra razão que dificulta um acordo que envolva os EUA é que a Administração Trump está a ser acusada em diversos corredores, incluindo em canais próximos de Moscovo e de Pequim, além do Irão, de ter participado numa "armadilha" contra Teerão ao ficcionar um papel de negociador de um acordo quando já sabia que o ataque israelita iria acontecer, promovendo assim um "adormecimento das atenções" iranianas.

Isto ficou claro quando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, confirmou que todo o plano de acção da "Operação Leão Crescente" desencadeada na sexta-feira, 13, foi acompanhado de perto dos Estados Unidos e pelo próprio Donald Trump, sendo que também o Pentágono confirmou que estava a par de todo o planeamento, o que pode ser visto como uma traição ao Irão que estava sentado à mesa das negociações e tinham a 6ª ronda negocial programada para este Domingo, 15.

Isto, quando, como refere a russa RT, citando uma revista militar sul-coreana Military Watch Magazine, os EUA tinham enviado 30 aviões-cisterna para a região de forma a apoiar os caças israelitas, especialmente os seus modernos e sofisticados F-35 americanos", a voar até ao Irão, uma distância para a qual não dispõem de autonomia sem reabastecimento aéreo.

O objectivo secreto de Telavive e Washington

Se, como se prevê, os EUA entrarem directamente nesta guerra ao lado de Israel, estará concretizado o principal objectivo do Governo de Benjamin Netanyhau, que era, além da destruição do regime iraniano, arrastar o aliado norte-americano para o conflito, que é a garantia segura de que Teerão cairá militarmente.

Porém, este caminho encerra perigos vários, incluindo uma crescente e ilimitada participação da China, da Rússia e do Paquistão, que já disse que o seu arsenal nuclear será posto à disposição do Irão caso Israel use o seu poder atómico contra Teerão, ao lado do Irão.

E a razão para esse passo ser dado, se todas as tentativas diplomáticas falharem, com o Presidente russo, Vladimir Putin, na linha da frente desse esforço, é que o Irão é uma plataforma vital e insubstituível ao eixo Moscovo-Pequim para a guerra global que trava contra a ordem mundial que "governa" o mundo sob a hegemonia ocidental norte-americana.

E uma das ferramentas essenciais desse esforço centrado no eixo Moscovo-Teerão-Pequim, que depois se alarga a Nova Deli, África e ainda ao Brasil e Médio Oriente no contexto dos BRICS, é a "Belt and Road Initiative" chinesa, ou "Iniciativa Estrada e Cinturão", com o qual Pequim quer abrir novas Rotas da Seda comerciais abertas em todo o mundo, sendo a passagem pela Ásia Central/Caucaso (Irão) uma parte vital desse projecto global.

E se Israel e os EUA, no que pode muito bem, como admitem alguns analistas, ser o objectivo maior desta guerra lançada contra o Irão, conseguirem fazer ruir o regime em Teerão, substituindo-o por um mais amigável para o ocidente, então é todo o gigantesco projecto chinês e russo de mudar a ordem mundial que poderá ficar sem... caminho para andar.

E isso é de tal modo visível que nos últimos dias se ficou a conhecer a cara para liderar o próximo regime iraniano se este cair sob as bombas israelitas e norte-americanas: é Reza Pahlavi, o herdeiro do Xá Moammed Reza Pahlavi, destituído na revolução islâmica em 1979, e agora um aliado de Washington e Telavive.

Uma nesga de esperança

Apesar de todas as evidências do compromisso norte-americano com Israel, Donald Trump voltou entretanto a surpreender, como lhe é peculiarmente natural, ao dizer, segundo a CBS News, que quer mesmo um "verdadeiro acordo" com o Irão que encerre totalmente o problema do nuclear iraniano.

O Presidente norte-americano disse isto antes de deixar o Canadá, onde estava para a reunião do G7, que deixou abruptamente, perto da meia-noite de segunda-feira para hoje, terça-feira, 17, onde avisou igualmente que Israel não vai abrandar nos ataques.

E ainda mais surpreendente foi ter dito, garante a CBS News, está pronto a enviar o seu vice-Presidente JD Vance ao Irão para falar com as autoridades de Teerão no formato de busca de um acordo de urgência que trave esta catastrófica guerra.

"Mas isso depende da realidade que encontrar quando estiver de volta a Washington", disse Trump na mesma ocasião, acrescentando, em resposta a um jornalista, que espera que o programa nuclear do Irão esteja "arruinado muito antes de uma eventual entrada dos EUA no conflito".

Se há uma garantia que Donald Trump sempre dá é que nunca se tem a certeza de que o que afirma é efectivamente o que pensa, como é prova disso mesmo a questão dúbia sobre a possibilidade de os EUA entrarem directamente no conflito, dizendo que é possível logo a seguir a ter dito que espera um acordo rapidamente.