Também como se esperava (ver links em baixo), o Presidente norte-americano, horas depois do ataque, veio afirmar que pode não ficar por aqui se o Irão não levantar a bandeira branca da paz e aceitar parar para sempre o seu programa de enriquecimento de urânio.
Donald Trump disse ainda que o ataque, que envolveu pelo menos seis bombas de grande dimensão, as GBU-57 (destruidoras de bunquers) e três dezenas de misseis de cruzeiro tomahawk, foi "totalmente vitorioso" e "acabou para sempre o risco nuclear" iraniano.
Quase em simultâneo, o Irão, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, veio garantir que o Irão tem o direito de responder a este ataque "cobarde e contrário ao Direito Internacional" da forma como achar que melhor defende os seus interesses.
Numa primeira resposta, o Irão lançou dezenas de misseis balísticos sobre Israel, atingindo vários alvos em diversas cidades do país, com cerca de 90 feridos confirmados pelas autoridades de Telavive.
Segundo a Tasnim, a agência de notícias iraniana, o Ministério dos Negócios Estrangeiros acusa os EUA de terem desferido um ataque ilegal e violador da Carta das Nações Unidas, ao lado do "regime sionista" de Telavive, o que dá a Teerão toda a margem para responder da forma como entender melhor.
Uma das questões em cima da mesa, e que agora encaixam na definição de todas as possibilidades em cima da mesa do ministro Abbas Araghchi, são a saída do Irão do tratado internacional de não-proliferação nuclear, de que faz parte, mas não é o caso de Israel, que, efectivamente, possui centenas de ogivas nucleares.
A outra é a "bomba atómica" iraniana que seria fechar o Estreito de Ormuz, o que levaria a uma crise global sem precedentes, devido à sua importância no negócio mundial de petróleo e gás, porque por ali passa mais de 22% do crude mundial além de uma parte substantiva do gás natural.
E na sua primeira reacção a esta entrada dos Estados Unidos na "sua" guerra, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, que tem aqui a sua maior vitória, que foi arrastar Washington para o conflito que desencadeou a 13 deste mês, com um surpreendente ataque ao Irão, disse, com euforia, ser este "um momento histórico".
"O ataque dos Estados Unidos vai mudar a História do Médio Oriente para sempre", congratulou-se Netanyhau, ao mesmo tempo que elogiava Donald Trump pela sua ousada decisão".
Em pano de fundo...
... está a sucessão de "truques" e encenações norte-americanas para tentar surpreender e fragilizar o Irão, desde logo no contexto em que surgiu o ataque inicial desta guerra, por Israel, na sexta-feira, 13.
No momento em que o mundo era surpreendido pelo ataque israelita, que incluiu comandos infiltrados no território iraniano, Washington e Teerão estavam em pelnas negociações para desenhar o futuro do programa nuclear iraniano.
Essas negociações tinham em agenda a 6ª ronda negocial para Domingo, 15, e, dois dias antes, as Forças de Defesa de Israel (IDF) e as suas secretas, a Mossad e a AMAM (militar), lançavam centenas de drones do interior do Irão apanhando cerca de uma dezena de chefias militares de topo e cientistas ligados ao programa nuclear iraniano.
A surpresa foi de tal ordem, devido à encenação norte-americana em torno das negociações, que alguns dos comandantes da Guarda Revolucionária do Irão, a elite militar iraniana, foram apanhados e assassinados quando dormiam nas suas casas.
Já no que toca ao esperado ataque desta madrugada, perto da 01:00, hora de Luanda, os alvos dos misseis e bombas GBU-57, largadas a partir dos bombardeiros estratégicos B-2, que estavam no ar há várias horas, como foi noticiado por todos os media, foram os locais de enriquecimento de urânio do programa nuclear iraniano.
Os ataques concentraram-se nas instalações de Fordow, a principal, e há muito preparada para este tipo de ataques, com resistência reforçada (ver links em baixo), e ainda Natanz e Isfahan, sendo que há vários dias que alguns especialistas defende que o Irão tem estes locais no seu mapa principal dos "engodos" preparados para os EUA, tendo há muito dali saído o equipamento mais valioso e importante.
Trump confirmou isso mesmo, ao dizer que se tratam de locais que o mundo há muito conhece, e citados uma e outra vez, nos media como onde o Irão desenvolve o seu programa nuclear, e que foram agora "totalmente destruídos".
Na mesma declaração, o Presidente dos EUA, ladeado das figuras de proa da sua Administração, garantiu que se Teerão não aceitar a derrota, anunciar que desiste de enriquecer urânio, e avançar para a mesa das negociações sem condições, os ataques vão continuar.
O que é de esperar agora?
Apesar da retórica belicista, natural depois de o país ter sido atacado pela maior potência militar do planeta, ao lado do seu inimigo histórico, que é Israel, o Irão deve agora reunir as suas figuras tutelares, incluindo o Líder Supremo, aiatola Ali Khamenei, e o Presidente Masoud Pezheskian, para definir os próximos passos, que não serão dados sem ouvir os seus aliados China, e Rússia e Paquistão, a única potência nuclear islâmica.
Além disso, o Irão, como já confirmou o seu chefe da diplomacia, Abbas Araghchi, vai convocar de urgência o Conselho de Segurança da ONU, que é o que os países fazem quando estão a analisar a situação com ponderação antes de qualquer passo retaliatório.
É ainda de esperar uma crescente retórica contendo ameaças de retaliação, mas o Irão está consciente que, no momento em que os EUA entraram neste jogo, directamente, as regras mudam e qualquer acção deve ser ainda mais ponderada e decidida com o, pelo menos, conhecimento de Moscovo, Pequim e Islamabad.
O que não retira o facto de o Irão, garantidamente, estar obrigado a dar uma resposta sólida, até por razões de política interna e de defesa da solidez do regime teocrático dos aiatolas, que já contou com períodos de forte contestação.
Porém, essa resposta deverá recair sobre Israel, com a continuação dos ataques através de misseis de longo alcance, incluindo as novas que Teerão diz ter no seu vasto arsenal balístico, incluindo o míssil multiogivas Kheibarshekan, ou Kheibar Shekan, com tecnologia inovadora de trajectória imprevisível, que ainda não foi usado em contexto real mas já testado em 2022.
Uma resposta de impacto mais alargado, como sejam os ataques às bases norte-americanas na região, às embaixadas dos EUA nos países vizinhos, ou ainda o bloqueio do Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã (Oceano Índico) ou o Estreito de Bab-el-Mandeb, que liga o Mar Vermelho (Canal do Suez) ao Mar Arábico (Indico), que pode ser feito através dos seus aliados Houthis, a acontecer será noutra fase deste conflito se for observada uma escalada nesse sentido.