Nesta quinta-feira, 19, Israel acordou com um novo capítulo neste conflito, ao verificar que as ameaças dos Estados Unidos entrarem na guerra ao lado de Telavive não obteve quaisquer resultados se a ideia era amedrontar Teerão.

Aparentemente a resposta iraniana foi mesmo de desafio, ao atacar, segundo fontes iranianas, um posto de comando da intelligentsia militar israelita situado no mesmo polo urbano do Hospital de Soroka.

Soroka é um grande hospital no sul de Israel, na cidade de Beersheba, que serve mais de um milhão de pessoas e é parte essencial da resposta de retaguarda, por exemplo, para os militares feridos nos ataques iranianos às importantes bases da Força Aérea de Israel na região, como Ramon, Halzerin ou Navatim.

A justificação de Teerão para este ataque, que atingiu o Hospital de Soroka, de onde esteve por longas horas a sair um espesso fumo negro, de que o alvo eram as instalações militares no edifício, é claramente semelhante às razões evocadas por Israel nos repetidos ataques às dezenas de hospitais que destruiu em Gaza, matando nesses ataques centenas de civis.

Claramente enfurecido com este ataque iraniano a uma unidade hospitalar importante do sul do país, o ministro da Defesa, Israel Katz, vaio de imediato garantir que a resposta israelita será demolidora e que vai aumentar a intensidade dos ataques ao Irão.

Recorde-se que, por esta altura, ao sétimo dia de ataques intensos de Israel ao programa nuclear iraniano e às suas infra-estruturas energéticas, além das dezenas de chefes militares de topo e cientistas ligados ao sector atómico que foram assassinados nas primeiras horas, é já claro entre os especialistas que Telavive não possui meios que permitam destruir os locais estratégicos onde o Irão desenvolve o seu programa nuclear civil.

Como é igualmente claro que a entrada dos Estados Unidos da América nesta guerra (ver links em baixo) é já um dado adquirido, até porque se tal não suceder, pela forma como o Irão, também de forma surpreendente, demonstra uma capacidade inesperada de atravessar, com o seus misseis hipersónicos, as famosas camadas de defesa anti-aérea israelita, o risco de Telavive sucumbir neste conflito começa a ganhar contornos nunca vistos.

Além disso, para que seja possível abrir uma janela de oportunidade para que os sítios subterrâneos iranianos sejam atingidos, Israel precisa das bombas especiais dos EUA, como a GBU-57, de 14 toneladas, ou a MOAB, de 12 toneladas, com grande capacidade de penetração no solo, além dos bombardeiros B-2, que apenas os EUA possuem e são os únicos que podem largar estas armas.

Porém, é igualmente menos evidente agora que mesmo com o recurso a estas armas e a entrada dos EUA na que, o que levaria a uma inaudita escalada do conflito no Médio Oriente, seja possível chegar às profundidades necessárias.

E uma razão para isso é que os especialistas, como Ted Postol, professor emérito de Ciência, Tecnologia e Segurança Internacional no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) tem vindo a apontar, a engenharia de protecção aos locais estratégicos iranianos garante uma protecção alargada e impenetrabilidade, mesmo para as mais poderosas bombas.

Isto, porque, avança o professor Postol, a força em diamante das cúpulas de betão reforçado que protegem as instalações nucleares iranianas permitem de deflexão desses ataques, tornando-os praticamente inúteis, embora note também que ninguém sabe se este tipo de estrutura protege todos os locais ou apenas alguns.

O mais importante, Podrow, onde está o coração do programa nuclear de Teerão - há quem garanta que estes locais são apenas engodos porque o que é verdadeiramente relevante está noutras latitudes -, segundo Ted Postol, tem este tipo de protecção robusta e está a profundidades que podem chegar aos 100 metros ou mais.

Aparentemente, a possibilidade de as GBU-57 ou as MOAB serem ineficazes é uma das razões pelas quais Donald Trump ainda não decidiu entrar na guerra, pelo menos é isso que está aser avançado em alguns media ocidentais.

Porém, esta justificação tende a ser insuficiente porque, segundo alguns analistas, como o major-general Agostinho Costa, português, ou o suíço coronel Jacques Baud, antigo oficial de intelligentsia ligado à NATO, Washington está a deslocar uma quantidade de meios militares, navais e aéreos, para a região que dificilmente isso não significará a entrada dos EUA na guerra.

E há ainda a tese, ousada, mas perfilhada por cada vez mais analistas, que este conflito não é uma mera guerra isarelo-iraniana mas sim o início de um conflito global entre o Ocidente Alargado pela manutenção da actual ordem mundial liderada pelos EUA desde o fim da II Guerra Mundial, e a estratégia sino-russa de a desmantelar e substituir por uma ordem mundial multipolar entre iguais.

Tal cenário faz sentido se se considerar que o Irão é parte desse eixo Pequim-Teerão-Moscovo onde assenta o esforço de alteração da actual ordem mundial baseada nas regras ocidentais, e que, sendo o elo mais frágil, depois da Rússia ter superado o desafio da guerra na Ucrânia, é agora por onde os EUA e os seus aliados europeus, com o uso da força e ousadia israelita, procuram fragilizar a frente sino-russa.

Para já, enquanto Teerão e Telavive infligem mútuos ataques, cada vez mais agressivos, tanto no terreno como na retórica de guerra, o mundo aguarda com expectativa o que vai decidir Donald Trump, porque se os EUA entrarem directamente neste conflito, tal representará uma escalada a que nem chineses nem russos poderão fazer de conta que não estão a ver o que se passa.

Entretanto, na Rússia, o Presidente Vladimir Putin continua a procurar soluções negociadas para o conflito ainda israelo-iraniano, ao aproveitar uma conferência de imprensa à margem do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, para falar desse assunto.

E, foi sobre este conflito no Médio Oriente, que Putin largou a sua "bomba" mais explosiva em direcção a Trump e a Israel, afirmando que não quer sequer ouvir falar ou discutir" a possibilidade de os EUA e Israel se juntarem para assassinar o Líder Supremo iraniano Ali Khamenei, como o norte-americano disse que pode acontecer a qualquer momento.

"Esse é um cenário que não quero sequer abordar", avisou Vladimir Putin, que tem bem presente que a Rússia e o Irão têm uma parceria estratégica na Defesa assinada há pouco tempo, cerca de dois anos, e que Teerão foi dos primeiros aliados a apoiar Moscovo na guerra com a Ucrânia, enviando, entre outro material, milhares de drones, os famos Shahed, que permitiram à Rússia recuperar de uma clara desvantagem nessa área face a Kiev.

O que Putin está a querer deixar claro é que, num contexto em que os Governos de Israel e dos EUA já falam abertamente da possibilidade de assassinarem o aiatola Ali Khamenei, essa é ma linha vermelha que a Rússia não deixará passar sem reagir.

Ainda assim, sobre o conflito entre Israel e o Irão, e a possibilidade de os EUA entrarem em cena nas próximas horas, Putin disse que os iranianos não tinham pedido qualquer acção russa no contexto desta guerra, admitindo mesmo que o Irão não mostrou sequer grande interesse na possibilidade de aumentar a cooperação militar com a Rússia.

No entanto, sabe-se que a Rússia enviou para o Irão os seus sistemas de defesa anti-aérea S-300, menos sofisticados que os modernos S-400 e S-500, e ainda cerca de duas dezenas de modernos aviões SU-35, embora nenhuma destas armas se tenha ainda visto em acção no conflito com Israel.

O que alguns analistas consideram ser uma estratégia iraniana para depois lidar com a escalada esperada para esta guerra que é a entrada dos EUA no ataque ao Irão ao lado de Israel, naquilo que é uma putativa estratégia muito mais abrangente que o mero actual ataque ao programa nuclear de Teerão, indo mesmo ao coração da mudança de ordem mundial procurada pelo eixo Moscovo-Irão-Pequim. (ver links em baixo).