Esta valorização da mais importante matéria-prima exportada por Angola, cerca de 95% do total, decisiva para o equilíbrio das suas contas e fundamental para a robustez da sua balança de pagamentos, é importante devido ao simbolismo da barreira dos 30 USD, mas ainda está longe do mínimo que permita respirar ao Executivo de João Lourenço, que elaborou o Orçamento Geral do Estado (OGE 2020) com um valor de referência de 55 dólares por barril.

Os ganhos que estão a ser registados em Londres nesta manhã de terça-feira, 24, podem ser, no entanto, alívio escasso e temporário porque não correspondem a uma mudança estrutural nos mercados, onde a crise gerada pela pandemia de Covid-19, que levou ao estado de emergência em dezenas de países em todo o mundo - o que deverá suceder mais cedo ou mais tarde também em Angola, se a pandemia se mantiver em valores crescentes - já matou mais de 14.200 pessoas e infectou mais de 320 mil em todo o mundo, está a esmagar a economia global, com uma baixa severa na procura por crude.

Por detrás destes ligeiros ganhos está antes um pronunciamento do Presidente norte-americano, Donald Trump, que, inquieto devido aos problemas que se avolumam na indústria do fracking, ou petróleo de xisto, resolveu agir directamente sobre a Arábia Saudita, o seu principal aliado no Médio Oriente, e maior exportador de petróleo do mundo.

Trump quer parar a guerra de preços do barril que os sauditas têm em curso com a Rússia, depois de falhadas as conversações da OPEP+, em Viena de Áustria, a 06 deste mês, ameaçando inundar os mercados com crude ao preço da chuva e em gigantescas quantidades, o que se constituiu como um dos principais factores por detrás da perda de valor da matéria-prima, que, recorde-se, desde o início do ano já perdeu mais de 60 por cento e na passada semana esteve solidamente na casa dos 27 USD, o valor mais baixo em duas décadas.

Para travar a guerra Moscovo-Riade, Trump nomeou uma conselheiro sénior do Secretário da Energia e historiadora, Victoria Coates, para representante especial junto do reino Saudita, no âmbito do esforço diplomático para estabilizar os preços do petróleo nesta fase de crise global.

Para já, o que os analistas estão a considerar como mais certo para o curto prazo é que a pressão esmagadora da pandemia na economia planetária é de tal monta que dificilmente a procura pela matéria-prima possa sofrer grandes alterações, mesmo que se mantenha firme a recuperação chinesa já anunciada pelo Governo de Pequim, ainda para mais quando russos e sauditas estão em estado de produção máxima - pump at will -, o que permitiu já às grandes economias restabelecer os stocks entretanto gastos com crude muito barato, diminuído as necessidades de novas e volumosas aquisições.

Para Angola, a questão principal mantem-se e a pressão da baixa no valor do petróleo está jáa ser reconhecido por várias consultoras internacionais, todas elas a preverem um impacto fortemente negativo na economia angolana, sendo a última a fazê-lo a Eaglesote, que vê esta crise a retirar mais de 6 mil milhões de dólares ao OGE nacional, impondo uma rectificação a este documento para breve.

Estes cálculos, feitos a partir de uma estimativa pessimista para o valor médio do barril, podem levar, aponta esta consultora, a que quase 7,5% do PIB angolano se esfume com esta crise.

"Os últimos dados mostram que o sector petrolífero representou mais de 96% das exportações do país, dois terços dos quais vão para a China, e 60% das receitas públicas no ano passado", o que significa que, "caso se venha a prolongar, este nível de preços bastante mais reduzido poderá ter fortes repercussões nas receitas públicas e na economia angolana", diz ainda a Eaglestone, citada pela Lusa.

Tal como economistas angolanas têm observado, uma rectificação do OGE deverá estar iminente se não ocorrerem alterações de monta neste cenário, o que, quando suceder, inevitavelmente vai ter lugar uma alteração substancial das prioridades plasmadas no actual OGE, sendo de considerar que o Executivo tem em cima da mesa, entre outras medidas estruturais, o fim da subsidiação aos combustíveis e a emissão de dívida, para além de uma eventual renegociação do acordo com o FMI.