Em Londres, a medida de referência para as exportações nacionais, o Brent, também iniciou a semana em queda, na ordem dos 3%, menos expressiva que em Nova Iorque, mas, ainda assim, com estrondo, porque nas últimas duas semanas as grandes organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o G20, que agrega as 20 maiores economias mundiais, se juntaram aos esforços da OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e 10 não-alinhados "liderados" pela Rússia, no sentido de gerar estímulos para acabar com a crise provocada pela pandemia da Covid-19 e de apoio aos países com economias mais débeis.
A principal medida, anunciada a 12 deste mês, foi o corte de quase 10 milhões de barris por dia (mbpd) acordado pela OPEP+, com o apoio dos EUA, o que constitui um recorde histórico, mas nem assim foi possível garantir o equilíbrio dos mercados, porque, essencialmente mas não a única razão, a crise económica que está a transformar o mundo num "pântano", no rasto da pandemia do novo coronavírus descoberto em Dezembro na China, retirou de circulação três vezes mais que esse valor, quase 30 mbpd com valores de Abril anunciados por analistas e agora confirmados pelo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE).
E nem o anúncio de abertura paulatina das sociedades mantidas em confinameto social (lockdown) nas últimas semanas, como é o caso dos EUA ou de países europeus, da China ou mesmo da Índia, parece tirar pressão à crise. Os Estados Unidos são a grande dúvida nesta reabertura das sociedades porque o Presidente Trump, por um lado, quer fazê-lo rapidamente, enquanto os governadores dos estados mais afectados dizem que é um erro tendo em conta o galopante número de infectados e de mortes, o que leva os mercados a ter dúvidas sobre o que vai suceder.
Mas razão primeira para este continuado sufoco no sector petrolífero, embora em pano de fundo esteja em permanência a crise pandémica, é agora a saturação da capacidade de armazenamento das grandes economias, com dados anunciados hoje, como é o caso da chinesa, que está, segundo a Reuters, a atingir o máximo, aproveitando este longo período de crude historicamente barato, e ainda os EUA, com as suas reservas estratégicas sem lugar para mais um pingo. A Índia e os países europeus estão igualmente em níveis de stocks a raiar máximos de sempre.
Ora, com a economia parada, a consumir, segundo a AIE, apenas 69 mbpd, em contraste com os 100 mbpd antes da pandemia, a procura de petróleo estatelou-se em níveis preocupantes para as petroeconomias, como é o caso da angolana, uma das mais fustigadas por esta crise por ser, também, uma das mais dependentes das exportações de "ouro negro".
E foram as reservas estratégicas que serviram, por algum tempo, para aliviar o stresse da queda na procura pela indústria, pelos transportes, marítimos e aéreos, que valem cada um deles cerca de 10% do consumo global de crude, mas, agora, quase a deitar por fora, os mercados não conseguem disfarçar mais a crise profunda que vivem e sinal disso é a brutal descida do valor do barril no WTI de Nova Iorque, que, a par do Brent, em Londres, são as duas mais importantes referências globais para medir o valor de mercado da matéria-prima.
Em Angola, por exemplo, depois de rumores nas redes sociais e notícias nos media internacionais sobre dificuldades de escoamento do petróleo angolano, com a agravante de as sondas - equipamento de pesquisa por novos campos e poços - estarem a desaparecer do offshore nacional, o que indicia um, pelo menos temporário, desinteresse das multinacionais, uma fonte ligada à tutela disse ao Novo Jornal que se trata de uma situação normal face ao contexto mundial de crise.
A mesma fonte lembrou que as sondas são o sinal mais evidente da existência de actividade do sector nas águas nacionais e que este temporário afastamento é isso mesmo, porque o país se apetrechou com legislação capaz de atenuar o impacto das crises, nomeadamente as Leis dos Campos Marginais, das Áreas de Desenvolvimento ou da Simplificação de Processos, entre outras, que "melhoraram de forma evidente as condições de investimento".
Perante as circunstâncias actuais, as economias africanas mais dependentes da exportação de matérias-primas estão a atravessar graves crises económicas, estando em curso, em todo o mundo, movimentos de pressão para o alívio das dívidas, de apoio ao combate à Covid-19, de estímulo ao investimento para combater a anunciada recessão global de mais de 3% estimada pelo FMI, ou ainda de pedidos, na forma de cartas abertas, para que o G20 tome medidas de apoio directo e eficaz aos países em desenvolvimento sufocados pelo peso das dívidas, incluindo, no caso de África, uma atenção especial à China.