A seguir aos ataques à maior refinaria do mundo, em Abqaiq, e a um dos mais importantes campos produtivos sauditas, em Khurais, o mundo assistiu a uma subida vertiginosa de quase 20 % no valor da matéria-prima.

Por detrás dessa subida de 19,5% na segunda-feira seguinte aos ataques, que ocorreram num Sábado, esteve a confirmação pelo Governo de Riade de que o maior exportador do mundo tinha ficada, da noite para o dia, sem 5,7 milhões de barris por dia (mbpd), o equivalente a 5% da produção mundial, para injectar nos mercados e com longos meses pela frente para normalizar a situação.

Agora, o refluxo tem como justificação o facto de a Arábia Saudita, afinal, ter garantido que a produção e capacidade exportadora serão normalizadas muito antes do inicialmente previsto, apenas escassas semanas até que os 5,7 mbpd voltem a estar disponíveis para a economia mundial.

A par dessa normalização, a empurrar o crude para baixo está ainda o tom agressivo contra a China usado por Donald Trump no seu discurso na abertura da 74ª Assembleia-Geral da ONU, no qual voltou a reafirmar o endurecimento da sua "guerra" comercial com o gigante asiático, o que resulta num confronto de titãs, porque na contenda estão "apenas" as duas maiores potências económicas do planeta, cujo arsenal "bélico" em utilização são tarifas sobre tarifas aplicadas pelos EUA sobre os produtos Made in China e por Pequim sobre as importações Made in USA.

O que, em suma, resulta numa menor produção mundial, que conduz à menor necessidade de energia, que, por sua vez, leva à menor procura por petróleo, de onde emerge este ciclo em baixa do valor do barril nos mercados internacionais.

Alias, numa nota citada pelas agências, o alemão Commerzbank explica que já há vários dias que as atenções dos mercados e dos analistas não estão focadas nos efeitos dos ataques de 14 de Setembro, mas sim nos factores que estão a determinar uma baixa na procura mundial pela matéria-prima.

Num momento em que o Presidente norte-americano está sob pressão eleitoral - as eleições nos EUA estão marcadas para Novembro de 2020 - e o preço dos combustíveis é um factor determinante para amaciar o eleitorado norte-americano, Donald Trump, que quer garantir as melhores condições possíveis para facilitar a sua recondução no cargo, usou a tribuna das Nações Unidas para empurrar para baixo o valor do barril.

E fê-lo como sabe fazer bem, disse que ia manter a pressão tarifária sobre a China, o que é o mesmo que dizer aos mercados que o melhor é baixar os ânimos e vender e comprar baixinho, porque o futuro da economia mundial assim o aconselha.

Dito... e feito. Hoje, em Londres, o Brent, cerca das 09:50 estava nos 61.53 dólares, apenas 1,31 USD acima do valor de 13 de Setembro, mas muito abaixo dos mais de 71 USD de 16 deste mês, por efeito dos ataques reivindicados pelos rebeldes Houthis, do Iémen, contra a indústria petrolífera saudita. Mas, como é normal nestes voláteis mercados...

tudo pode mudar do dia para a noite...

isto, porque Donald Trump, se por um lado, carece de petróleo barato para se fazer reeleger, tem à ilharga um problema maior que, como é da tradição, os Presidentes norte-americanos costumam resolver encontrando um lugar distante para lançar uns mísseis Tomahawk de forma a fazer esquecer o problema.

Neste caso, o que pode levar Trump a sentir-se encostado às cordas é o facto de estar prestes a ser o 5º Presidente dos EUA com um processo de destituição - "impeachment" - pendendo sobre a sua cabeça, o que já foi anunciado pela líder da Câmara dos Representantes - câmara baixa do Congresso -, a Democrata Nancy Pelosi.

Isto, porque Trump foi "apanhado" a pressionar o Presidente ucraniano, Vladimir Zelensky a mandar abrir uma investigação judicial a Hunter Biden, filho de Joe Biden, o mais que provável nomeado pelo Partido Democrata para ser candidato presidencial em Novembro de 2020 contra Trump, e a quem as sondagens dão uma clara vantagem, tanto na disputa interna do seu partido, como na disputa directa com o actual inquilino da Casa Branca.

Caso o impeachment siga o seu curso, mesmo que o desfecho não surja até às eleições, a verdade é que os factos que vão começar a saltar nas páginas dos jornais e nos ecrãs de sites online de notícias e tv"s, terão, forçosamente, um efeito demolidor nas possibilidades eleitorais de Trump que, neste momento, já são escassas, se se tiver em consideração os gráficos das sondagens, que dizem que vai perder contra todos os candidatos possíveis dos Democratas e por larga margem contra Joe Biden.

E essa é a razão pela qual Trump queria entalar Joe Biden com uma investigação ao seu filho na Ucrânia, país onde a empresa em que Huner Biden trabalha tem negócios.

E a questão mais permissiva para justificar um eventual ataque norte-americano que permita, potencialmente, diluir o seu problema político interno, é o Irão, país que Washington acusa de ter estado por detrás dos ataques contra a Arábia Saudita, e de ser um grande financiador do terrorismo internacional, e de estar a prosseguir esforços para conseguir a bomba nuclear.

Recorde-se que Trump retirou os EUA do acordo nuclear com o Irão, assinado em 2015 pelo seu antecessor, Barack Obama, e ainda a União Europeia, Chuna e Rússia, aumentando o já de si volumoso pacote de sanções económicas a Teerão.

Contra esta "saída" para Donald Trump do nó do impeachment está o facto de o Irão negar de forma veemente a autoria dos ataques, de uma guerra poder incendiar todo o Médio Oriente e de a China e a Rússia já terem vindo a terreiro alertar para a urgência de bom senso na Casa Branca.