Este valor, que aparece nos gráficos do Brent abaixo da cotação de 13 de Setembro, dia anterior aos ataques que danificaram de forma severa a infra-estrutura petrolífera saudita, deixa claro que a guerra comercial entre as duas maiores potências económicas do planeta, os EUA e a China, voltou a ser o elemento gerador de maior influência no sobe e desce dos mercados petrolíferos internacionais.
Isto, porque até o conflito latente no Médio Oriente, devido às sanções dos EUA sobre o Irão e a envolvente ameaça de um ataque militar punitivo a este país em resposta aos drones e misseis lançados a 14 de Setembro sobre as refinarias sauditas - que Washington e Riade dizem terem sido de autoria iraniana e não dos rebeldes do Iémen, como estes reivindicaram -, parece estar agora menos agreste, com sinais vindos da Administração norte-americana de um suavizar do tom ameaçador até aqui em uso contra Teerão.
Aparentemente indiferentes foi como os mercados, entretanto, reagiram a uma rara entrevista do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, à tv norte-americana CBS, onde este adverte para a possibilidade de o mundo se confrontar em breve com "preços incrivelmente altos" do petróleo de o Irão não for amansado, sublinhando que prefere, para isso, as vias pacíficas às militares, aconselhando mesmo um enconro entre Trump e o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, o que aponta para um provável concerto de posições entre Riade e Washington na forma como lider do Teerão.
A par disto, a capacidade exportadora petrolífera saudita parece estar já totalmente reposta após os bombardeamentos, situando-se acima dos 11 milhões de barris por dia, embora esta não esteja a ser totalmente utilizada por decisão própria e no âmbito dos acordos no seio da OPEP+ (que inclui a Rússia e a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com a produção artificialmente diminuída para evitar que a matéria-prima perca demasiado valor.
Se uma putativa guerra envolvendo EUA e Irão alimentou o "fogo" que fez arder o barril nos mercados, agora, com essa possibilidade a diminuir em contraciclo com o crescendo das tensões Washington-Pequim, devido à guerra de tarifas aplicadas pelos EUA sobre os produtos importados Made in China, o efeito de arrefecimento sobre os gráficos do Brent é notório, levando o crude para valores cada vez mais próximos dos 55 USD, valor usado como referência pelo Governo angolano para elaborar o OGE 2019 revisto, aumentando os já graúdos constrangimentos económicos do país.
E o "ambiente" entre Irão e EUA/Arábia Saudita pode ficar ainda mais distendido se se confirmarem as notícias das últimas vindas a lume na imprensa norte-americana de que Donald Trump terá comunicado já a Teerão a sua decisão, não só de não atacar o Irão mas, indo mais longe, de diminuir a rugosidade das sanções económicas existentes, que impedem os iranianos de exportarem o seu petróleo, sendo este país um dos maiores produtores do mundo, potencialmente o 5º maior entre os membros da OPEP.
O efeito nos mercados desde desanuviar da tensão entre Teerão e Washington será imediatamente sentido nos mercados - Como alguns analistas admitem já estar a suceder - porque se trata do regresso de uma quantidade muito apreciável de petróleo aos mercados já de si saturados - com oferta maior que a procura - devido ao escalar da guerra comercial entre s EUA e a China.
Esta guerra comercial é, apesar de tudo, o factor mais determinante para a evolução negativa do valor do crude, visto que, em se tratando das duas maiores potências económicas globais, a retracção do consumo de energia pelas suas máquinas industriais conduz directamente a um declínio do preço do barril.
Recorde-se que os EUA acusam a China de estar há décadas a "roubar" a economia norte-americana através de políticas económicas proteccionistas, de roubo de tecnologia, e de espionagem empresarial, entre outras irregularidades face às normas da Organização Mundial do Comércio, o que levou Donald Trump a punir Pequim com tarifas extra sobre mais de 300 mil milhões USD em bens Made in China, num total de 500 mil milhões de importações anuais em média, contra as quais Pequim retaliou com igualmente pesadas tarifas sobre quase 100 mil milhões de bens Made In USA.
Os analistas começam a admitir que se esta descompressão no Médio Oriente se mantiver a este ritmo - por exemplo, um encontro enre Trump e o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani - e a guerra comercial Pequim/Washington não perder ímpeto, o petróleo pode entrar em breve numa perigosa e incontrolável queda-livre, com consequências desastrosas para as economias petrodependentes, como é o caso da Angola.
Mas isso, ao mesmo tempo, seria um amortecedor relativamente eficaz para as pretensões eleitorais de Donald Trump, que precisa de combustíveis baratos para motorizar a sua máquina de campanha rumo às eleições de Novembro de 2020.
Isto, se não for destituído antes por causa do escândalo em que está envolvido, em conjunto com o Presidente da Ucrânia, e que levou a oposição do Partido Democrata a avançar com um pedido de "impeachment" na Câmara dos Representantes.