Os ataques no Sábado contra a refinaria da Abaqaiq e um dos campos de produção mais relevantes do complexo produtivo saudita vão obrigar o país a retirar pelo menos 5,7 milhões de barris por dia de circulação, mais da sua metade actual de produção, o que fez o barril "voar" para a casa dos 70 USD na abertura dos mercados, hoje, tendo, posteriormente corrigido em baixa, mas mantendo a matéria-prima em forte alta.

Alegadamente foram usados drones nestes ataques e foram lançados pelos rebeles Houthis, do Iémen, que assumiram os ataques e, ao mesmo tempo, garantiam que a infra-estrutura saudita continuava na lista dos seus alvos prioritários.

Para contextualizar, tenha-se em consideração que a Arábia Saudita é o maior inimigo do Irão no Médio Oriente, que, para o Irão, só não é proporcional porque Israel ainda aparece à frente dos sauditas, ao mesmo tempo que os EUA são os principais aliados da Arábia Saudita e de Israel, com o Irão a ter na China e na Rússia uma base de contrabalanço nesta correlação de forças na mais volátil região do mundo e da qual sai mais de 25% do petróleo consumido em todo o planeta.

Logo a seguir aos ataques, que de imediato deixaram claro que estava em curso uma profunda mudança no Médio Oriente, onde a ténue aproximação entre Washington e Teerão acabara de ser implodida, depois de ter sido encetada por Trump, o que serve claramente os interesses sauditas e israelitas que há anos desafiam os EUA a atacar o Irão e não estavam contentes com o reatar das negociações entre os Estados Unidos e o Irão.

Irão que viu os EUA, por decisão de Trump, retomarem as sanções que tinham sido levantadas em 2015 quando o anterior Presidente dos EUA, Barack Obama, e um conjunto de potências mundiais, assinou um acordo para acabar com a corrida nuclear iraniana.

Este ataque ocorre quando Donald Trump estava a proceder a uma reaproximação ao Irão, tendo mesmo membros da sua Administração anunciado que este estava a preparar um encontro com o seu homólogo iraniano, Hassan Rouhani, sem pré-condições, para reatrr as negociações entre os dois países, o que deixou em brasa os governos de Israel e saudita.

Aproximação essa que deve ter acabado com um "recado" nas redes sociais, onde Trump garante, via Twitter, que os EUA estão "com o dedo no gatilho", que pode ser a tradução mais adequada à circunstância da expressão "We are locked and loaded", para responder contra o Irão assim que forem reunidas as provas necessárias, embora o Presidente norte-americano tenha evitado pronunciar de forma directa a palavra "Irão".

Mas nem por isso Teerão pode descansar, porque Trump disse que só esperava por uma clarificação da Arábia Saudita para premir o gatilho, ao mesmo tempo que afirmava ter razões para acreditar" saber quem esteve por detrás dos ataques, mostrando imagens dos alvos atingidos com informação indicando que a direcção da proveniências dos projecteis seria o Irão ou o Iraque.

Ambos os países negaram de forma veemente estas acusações e o Irão disse mesmo que se tratava de uma acusação sem sentido e pueril.

Abbas Mousavi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão sublinhou serem acusações "incompreensíveis, infrutíferas e sem sentido", ao mesmo tempo que o pr+oprio ministro, Javad Zarif, veio a público afirmar que os EUA passaram de uma estratégia de máxima pressão para a táctica do máximo engano".

A situação é de novo tão séria que os lideres da Guada Revolucionária do Irão, a força de elite do Exército Persa, já vieram advertir que o país está "preparado para uma guerra total" com os EUA, cujas principais bases na região do Médio Oriente estão ao alcance dos seus mísseis.

De igual modo, o líder saudita, Mohammed bin Salman, já veio a terreiro dizer que o seu país está igualmente preparado para lidar militarmente com a situação. Recorde-se que há pouco tempo, Trump assinou um contrato de venda de 100 mil milhões USD em armamento para os sauditas.

Os analistas mais experientes admitem que estas ameaças podem ter um efeito ainda mais severo sobre o petróleo que os ataques de Sábado, que levaram a uma subida no valor do barril que já não era observada desde 1991, quando o Iraque de Saddam Hussein invadiu o Kuwait, no aranque daquela que viria a se a I Guerra do Golfo.

Na abertura, por exemplo, do Brent, em Londres, o barril subiu 20%, para 71 USD, tendo corrigido a seguir em baixa, chegando aos 65,86 USD, o que corresponde, ainda assim, a uma subida de mais de 9 por cento face ao fecho de sexta-feira.