Perante fortes críticas internas, e depois de o seu partido, sem a sua presença - ainda estava na Europa -, ter reunido em Kinshasa, tecendo duras críticas à sua decisão de aceitar Faylu para se candidatar em nome da UDPS, Tshisekedi não encontrou alternativa à saída desse acordo.

Numa declaração feita na Suíça e reproduzida pela imprensa congolesa, o líder da histórica e essencial para desenhar o futuro da RDC, UDPS, Féliz Tshisekedi disse que se deu conta que o que tinha sido acordado não estava a ser cumprido na íntegra e que, por isso, retirava a sua assinatura do documento assinado em Genebra.

Acordo esse que contou com quase todos os pesos-pesados da oposição congolesa: Félix Tshisekedi, o ex-vice-Presidente, antigo "senhor da guerra" e Senador congolês, Jean-Pierre Bemba, o homem de negócios e ex-governador do Katanga, Moise Katumbi, e ainda Adolphe Muzito, antigo primeiro-ministro, e Freddy Matungulu, economista e antigo ministro das Finanças.

Este reposicionamento de Tshisekedi resulta de, segundo o próprio, não estar contemplado tudo aquilo que a base do seu partido tinha decidido como mínimo para integrar um acordo de tamanha envergadura.

Face a este cenário, o líder da UDPS afirmou que vai explicar à base da formação política o quer se passou e discutiu em Genebra e, de seguida, vai arrancar com a sua campanha para as Presidenciais de 23 de Dezembro, abandonando os restantes signatários, onde estão Jean-Pierre Bemba, que está impedido de se candidatar devido ao seu passado com a justiça do Tribunal Penal Internacional, à conta do qual cumpriu 10 anos de prisão devido a crimes cometidos em 2003, na República Centro-Africana, e Moise Katumbi, que a justiça congolesa afastou das litas devido a alegadas irregularidades com a sua documentação pessoal.

Com esta decisão, Tshisekedi desmorona uma das escassas possibilidades de condução de um processo eleitoral pacífico na RDC, pais que nunca assistiu a uma transição de poder, desde a sua independência, em 1961, sem resvalar para a violência.

Como o NJOnline tinha noticiado ontem, a oposição da RDC escolheu, em consenso alargado, Martin Fayulu, antigo gestor da petrolífera ExxonMobil, actual deputado e líder do partido Movimento pela Cidadania e Desenvolvimento (ECIDE), para concorrer às eleições Presidenciais de 23 de Dezembro.

Numa reunião que teve lugar no Domingo, na Suíça, as principais figuras da oposição na RDC, optaram pelo nome de Martin Fayulu para enfrentar nas urnas o candidato do actual Presidente da República, Joseph Kabila, e seu antigo ministro do Interior, Emmanuel Ramazani, indicado pela Frente Comum para o Congo (FCC), uma plataforma política criada por Kabila.

Este encontro de Genebra, onde os intervenientes reflectiram também sobre um programa político comum, foi organizado com o apoio da Fundação Kofi Annan, que, tal como outros organismos internacionais, entende que o consenso entre a oposição é essencial para evitar que as coisas resvalem para a violência na campanha e no pós-eleições, como sucedeu em todos os actos eleitorais que definiram uma transição de poder na RDC desde que o país alcançou a sua independência, em 1960.

Passado recente violento

A RDC chegou a este ponto, onde se perspectivava, e ainda existe essa possibilidade, de interromper um ciclo de violência pós-eleitoral, ziguezagueando por entre episódios de violentas manifestações contra o ainda Presidente Joseph Kabila, que começaram em 2015, quando este tentou alterar a constituição para se poder recandidatar a um 3º mandato, e se prolongaram por 2016 e 2017.

Essa violência só foi interrompida porque em 31 de Janeiro de 2016, com a intermediação dos bispos católicos, foi assinado um acordo entre Kabila e a oposição que permitia o adiamento das eleições para 2017. O que não veio a suceder porque foram mais uma vez adiadas.

Durante as manifestações violentas de 2016 onde milhares de pessoas exigiram nas ruas a saída do poder de Joseph Kabila, Fayulu foi gravemente ferido nos confrontos com a polícia, tendo sido internado durante vários dias.

Em Setembro de 2016, Kinshasa e outras grandes cidades da RDC foram palco de manifestações contra a admitida intenção de Joseph Kabila em não deixar o poder, adiando as eleições, cujo resultado se saldou em centenas de mortos.

Manifestações essas que se repetiram em 2017, com igual violência, porque, tal como em finais de 2016, Kabila voltou a adiar as eleições em finais do ano passado, o que lhe permitiu manter-se mais dois anos no poder do que aquilo que a Constituição congolesa permite.

O segundo e último mandato possível de Kabila terminou em Dezembro de 2016, e as eleições deveriam ter sido realizadas em Novembro desse ano.