A governante angolana falava aos jornalistas no Sábado, no final da visita do Presidente João Lourenço à Central de Compras de Medicamentos e Meios Técnicos (CECOMA) e aos hospitais Geral de Luanda e Josina Machel, na capital do país, em que o chefe de Estado não prestou declarações à imprensa.

As declarações da ministra da Saúde angolana foram feitas no mesmo dia em que mais de uma centena de médicos angolanos realizaram uma marcha de protesto, em Luanda, para exigir melhores condições salariais e de trabalho, bem como a colocação de 1.500 colegas que se encontram no desemprego e contra o "silêncio" do executivo que acusam de não responder às reivindicações.

Na marcha, em que foi avançada a possibilidade de realização de nova greve, à semelhança do que aconteceu durante três dias em Novembro do ano passado, os profissionais de saúde pediram aos governantes angolanos para "experimentarem" fazer consultas médicas nos hospitais públicos de Angola para se inteirarem das condições de trabalho.

Na marcha, os médicos empunhavam cartazes com frases como "governantes façam consultas nos hospitais públicos", "exigimos boas condições de trabalho e de vida", "respeito e dignidade da classe", "PGR faça auditoria do concurso 2018 do Ministério da Saúde" ou "se somos mais de 800 burros, encerrem as faculdades de medicina do país".

Nas declarações à imprensa, Sílvia Lutucuta não fez qualquer referência directa às reivindicações dos médicos, salientando indirectamente a necessidade de os hospitais contarem com mais profissionais de saúde e de melhores equipamentos.

"Colocamos esta preocupação ao Presidente da República e acreditamos que, a curto prazo, teremos solução para o enquadramento de mais quadros no sector", disse a ministra, mostrando-se "preocupada" com a classe médica "porque as faculdades não estão a formar quadros suficientes".

A ministra da Saúde angolana adiantou que João Lourenço ficou "preocupado" com a questão de recursos humanos, tendo prometido dar uma atenção especial ao assunto, "mas de forma transversal para todas as classes de profissionais da saúde", sendo, paralelamente, necessário "melhorar a eficiência dos que já estão no sector" e, ao mesmo tempo, "ir admitindo mais quadros de forma gradual".

"Uma falha de um profissional de saúde pode terminar em morte. Estamos cheios de processos e de inquéritos em curso. A nossa inspecção está a desdobrar-se em esforços para dar tratamento a esses inquéritos", admitiu.

Na última etapa da sua jornada, o Presidente da República, João Lourenço, visitou, demoradamente, todas as áreas do Hospital Josina Machel, uma unidade secular (fundada em 1883) com capacidade para 600 camas, mas que precisa frequentemente de obras de restauro, bem como de novos equipamentos, uma vez que os existentes estão obsoletos, tal como observou a responsável da unidade hospitalar, Mariquinha Venâncio.

Segundo a responsável da unidade hospitalar, existem equipamentos com mais de 13 anos que apresentam avarias constantes e que precisam de ser substituídos e que não permitem ao "muito pressionado" banco de urgência dar resposta aos 450 a 500 pacientes por dia nas várias especialidades.

"Precisamos de reabilitar as enfermarias e equipá-las com camas novas e outros instrumentos de trabalho, a par dos recursos humanos", salientou a directora do Hospital Josina Machel, que gere um orçamento anual de 6.000 milhões de kwanzas (16,9 milhões de euros) para o pagamento de salários e para a aquisição, "em número insuficiente", de meios terapêuticos, impossibilitando qualquer investimento.

Segundo Mariquinha Venâncio, o hospital, apesar de apresentar um défice de recursos humanos, permanece uma referência nacional em algumas especialidades, nomeadamente cirurgia cardíaca, laringologia, hemodiálise, oftalmologia e estomatologia.

Fundado em 1883 com a designação de "Maria Pia", a unidade hospitalar funciona actualmente com 485 enfermeiros, 90 médicos nacionais e 36 expatriados.

Em 1977 a instituição foi rebaptizada com o nome de Josina Machel, embora os dois nomes sejam usados no letreiro que identifica o edifício.

Classificado como um hospital nacional, sendo o seu órgão de tutela o Ministério da Saúde, a instituição comporta um banco de urgência, salas para internamento, blocos operatórios, laboratórios, entre outras dependências.