Recentemente, foi vítima de assalto seguido de rapto, mas conseguiu escapar são e salvo. Como está o Gilmário agora?
Eu estou bem, graças a Deus, quer em termos de saúde, quer em termos profissionais.
Foi notória a onda de solidariedade que recebeu da sociedade, da sua família, de amigos, assim como dos integrantes do seu antigo grupo, "Os Tunezas".
Sim, estiveram comigo todos os membros dos "Tunezas". E sou grato por isso. A onda de solidariedade não me espantou muito porque sou uma pessoa muito cordial. O angolano nestas questões de desgraça é muito solidário. A única diferença é que, às vezes, acontece com o António, que não é muito conhecido, e desta vez aconteceu com o Gilmário, que é muito conhecido. Eu já tive um irmão que esteve desaparecido, assim que publiquei o sucedido nas redes sociais, em pouco tempo várias pessoas partilharam a minha publicação. Quer dizer que a diferença está no número de pessoas que nos conhecem. Portanto, é, como já frisei, característica do angolano ser solidário. Os assaltos e roubos já fazem parte do dia-a-dia dos angolanos. Há sempre alguém que é raptado. No Kilamba, é melhor nem fazermos lista das pessoas que são assaltadas, nem dos seus quarteirões onde acontecem esses assaltos, que são muitos. Foi uma hora e meia de desgraça. No dia em que aconteceu o assalto, eu não absorvi logo todo o carinho das pessoas, mas, dias depois, percebi a onda de solidariedade e fiz um vídeo a agradecer pelo apoio.
Devido ao triste episódio que viveu, por ser uma figura pública, a questão da criminalidade e da segurança pública voltou a ser tema de debate nas redes sociais. Como é que olha para o assunto?
Continuamos muito mal. Para mim, é mais triste ainda por já ter vivido essa situação antes, de ser assaltado e ter bandido na minha casa, eu ainda na posição de filho. Então, passaram 20 anos, mas parece que as coisas só pioraram. Há 20 anos, não sei se era por falta de carro (risos), os gatunos normalmente não levavam as pessoas. E, acredita, há muita gente que não volta para casa. Quer dizer que, em termos de segurança pública, estamos a decrescer. A vontade com que os gatunos assaltam as pessoas deixa-nos muito preocupado. E esses assaltos acontecem numa zona como o Kilamba, que, por ser uma área urbanizada e que supostamente devia ter melhor sistema de segurança, o que dizer de outros bairros de Luanda. Vejamos, no Kilamba não há becos, não há muitos sítios para os meliantes se esconderem. Logo, se eles continuam a entrar no Kilamba a fazer das suas, quer dizer que, no resto da província de Luanda, a situação é pior. Acontece, na maioria das vezes, que as vítimas de assaltos não se queixam à Polícia. As pessoas já estão tão acostumadas a não ter retorno da Polícia, nesses casos, que já não vêem a importância de comunicar à Polícia. Então, o meu conselho para as pessoas é: não facilitem, fiquem atentos, não andem com os vossos bens e tenham já o dinheiro do gatuno no bolso (risos). Porque também, quando eles não te encontram sem nada, querem dar-te cabeçadas (risos).
Aqui chamamos a responsabilidade do Estado.
O Estado é o órgão principal responsável por manter a nossa segurança. Só vamos conseguir apoiar, enquanto cidadãos, fazendo queixas e denúncias, se o nosso sistema de segurança estiver em vigor. Mas, se, no Kilamba, durante um mês, são roubadas ou sequestradas três a quatro pessoas e até agora não há nenhuma informação sobre os autores de tais crimes, então, sentimo-nos completamente desprotegidos.
Vai levar esse assunto para o palco?
Nós sempre levamos esse tema para o palco e para a televisão. Temos várias piadas sobre isso. Lembro-me de que uma das nossas sátiras musicais, que já tem muitos anos, na altura ainda " integrante dos Tunezas", era intitulada "Cuidado com os telemóveis". Já naquela altura, muita gente era roubada e até perdia a vida por causa dos telemóveis. A nossa música era assim: (cantando) cuidado com os telemóveis...Movicel te dão chapada, Unitel te dão o chip...A arte é um bom barómetro para a realidade social. Se ouvirmos os "S.S.P", "N"sex Love" e outros grupos que iniciaram a cantar nos anos 80 e 90, vamos encontrar a criminalidade espelhada nas suas músicas. É como se nada tivesse mudado. Esse problema continua a perseguir-nos e parece-nos que nada se está a fazer para se mudar o quadro, infelizmente.
Fez uma paragem na carreira ou continua a trabalhar, apesar deste susto de que foi vítima?
É assim. Durante o ano passado, trabalhei muito. Foram sete meses de gravações e de espectáculos. E quando terminei todo trabalho, voltei para Angola para me dedicar, pelo menos o mês de Janeiro, à família, para depois retomar em Fevereiro. Portanto, não se trata de um stand by na carreira. Nós ainda não temos dinheiro para fazer stand by (Risos). Infelizmente, o nosso mercado ainda não permite ao artista fazer esse tipo de interregno, porque se ganha muito pouco. A Beyonce, sim, pode ficar dois ou três anos sem fazer espectáculo.
Que avaliação faz do nosso mercado artístico?
Estávamos a vir numa velocidade boa, mas, infelizmente, a situação pandémica colocou-nos um travão. Tem-se produzido muito a nível de humor. Eu, sozinho, nos últimos três anos, gravei quatro programas de comédia no canal Mundo Fox, que continuam a passar. Como sabe, agora trabalho para esse canal e faço os programas "Bar do Gilmário", "After Party" e "Hora do Limite". Esses produtos todos só o Gilmário Vemba, mas temos outras plataformas, como o "Goz"Aqui", "Os Tunezas", "Calado Show" e uma nova geração de humoristas que se vai afirmando.
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