Num momento em que o mundo se prepara para o boom económico quase certo devido à saída da crise gerada pela pandemia da Covid-19, o continente africano, "amordaçado" pela pobreza, nalguns casos extrema, e asfixiado pelos efeitos da crise pandémica, corre sérios riscos de, mais uma vez, ficar para trás devido à carga da dívida que corre riscos de não poder pagar.

Face a este problema, para o qual, por exemplo, muitos, incluindo o Presidente angolano, já chamaram a atenção, e depois dos relativos fracassos que foram as iniciativas no âmbito do G20 nesse sentido, organização que junta os 20 países mais ricos do mundo, entre outras, agora, por iniciativa do Presidente francês, cerca de 30 dirigentes africanos - João Lourenço está na capital francesa - estão em Paris para propor soluções que permitam desanuviar a carga que África transporta e impede o continente de progredir de forma decidida neste rescaldo da pandemia que se aproxima.

Apesar de África se dos continentes que menos sofreu com a pandemia, com números relativamente baixos quando comparado com os demais, os efeitos da crise pandémica são dos mais severos e podem ainda ser mais graves se o mundo não perceber que é preciso agir de forma a evitar essa asfixia.

Nesta Cimeira parisiense, os governantes europeus e africanos, bem como as organizações financeiras globais, vão debruçar-se sobre dois temas fundamentais: a questão da dívida e do financiamento e ainda como desenvolver o sector privado africano.

Esta Cimeira, que visa essencialmente garantir que o financiamento das economias africanas não é esmagado pelas dificuldades geradas pela pandemia, tem como pano de fundo a análise de 2020 do FMI que conclui que o continente pode observar, até 2023, um défice de financiamento de tal modo grande que comprometa o seu futuro.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimava em 2020 que esse défice de financiamento pode chegar aos 300 mil milhões de dólares, o que, a verificar-se, iria atirar milhões de pessoas para a extrema pobreza nos próximos anos, agravando assim os enormes problemas que o continente atravessa, como, alias, o Banco Africano de Desenvolvimento tem vindo a alertar.

Neste âmbito, o Presidente angolano tem como posição, que assumiu em Setembro, durante a 75ª Assembleia-Geral da ONU, em Setembro de 2020, onde defendeu como essencial que o investimento directo nas economias dos países em vias de desenvolvimento seja encarado como a via adequada para o desenvolvimento.

Na altura, João Lourenço referia-se ao trabalho em curso no âmbito do G20, mas que, agora, deverá manter.

"Pensamos ser fundamental que se encare o investimento directo nas economias dos países em vias de desenvolvimento como a grande equação para o seu crescimento económico e desenvolvimento", sublinhou o Presidente angolano na sua intervenção a 23 de Setembro.

Nesse mesmo momento, João Lourenço advertia que só será possível garantir que estes países não ficam para trás e mantenham como objectivo o desenvolvimento "se os países desenvolvidos se mobilizarem no sentido de criarem fundos de apoio ao investimento em África, a serem utilizados pelos seus investidores interessados em realizar negócios no continente africano, onde poderão produzir bens e serviços para o consumo local e exportáveis".

O foco da mensagem de João Lourenço nesta ocasião foi a questão da solidariedade que se exige nestes conturbados tempos, mas apontando no sentido de criar condições para ultrapassar de forma definitiva os problemas estruturais que o continente africano enfrenta, sublinhando que isso só pode acontecer com uma acção global, de forma a diminuir a maior parte das suas crónicas dependências.

Depois de concluída a Cimeira de hoje, os seus resultados serão anunciados pelo Presidente francês e pelo Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, que se encontra em Pais também na qualidade de Presidente da União Africana.

João Lourenço está em Patis desde segunda-feira e tem mantido uma intensa agenda de encontros e audiências com grupos económicos com interesse em investir em Angola e outros lideres presentes em Paris, como o Presidente sul-afrciano, Cyril Ramaphosa (na foto).