A notícia foi hoje anuncia apela Sun Africa numa nota à imprensa, onde é anunciado que o projecto global de produção de energia solar em Angola é constituído por um conjunto de sete locais onde vão ser instalados milhares de painéis fotovoltaicos.

A produção de energia limpa, sem emissão de gases com efeito de estufa, é a principal do acelerado processo de transição energética imposto pelo Acordo de Paris, no qual crescerá a área das renováveis e a do petróleo e do gás caminhará, com mais ou menos pressa, para um fim assegurado, sendo este o primeiro passo com significado que o País dá neste âmbito, exceptuando a produção hidroeléctrica.

Com a sua produção de crude a baixar de ano para ano e com os sinais evidentes de que as grandes multinacionais do petróleo estão, também elas a acelerar processos internos de transição para a produção de renováveis, Angola, país com forte potencial, também, neste sector, tem agora um arranque promissor na produção de energia solar.

É um investimento avultado de mais de 620 milhões de dólares que vai ser conduzido pela Sun Africa, a subsidiária da Uban Green Tecnologies - Renewables, com sede na cidade norte-americana, Chicago, e que vai produzir 370 MW, patamar considerável nesta área, embora, por exemplo, substancialmente abaixo dos 2.000 MW da barragem de Lauca.

É, para já, o maior investimento, segundo a empresa, no fotovoltaico e baterias da África a sul do Saara, que conta com a participação da MCA, uma empresa portuguesa especializada neste sector, e que terá o papel de liderança no erguer deste megaempreendimento no sector das renováveis.

Este projecto engloba sete locais de construção e instalação de painéis fotovoltaicos espalhado por várias províncias, integrando o projecto o transporte da energia para outras regiões do País, começando por Benguela, no Biópio, onde será lançada, na quinta-feira, simbolicamente, a primeira pedra do primeiro e maior projecto.

A conclusão deste projecto está prevista para 2022, todos os outros estarão igualmente concluídos no segundo trimestre desse ano, ainda de acordo com a nota da Sun Africa, que tem no Biópio o ponta de lança deste avultado investimento, onde estará o maior projecto solar da África subsaariana, com uma capacidade de produzir 188 MW de energia.

Uma das razões expostas neste documento avançadas pela Sun Africa para a escolha de Angola é o seu potencial para a produção de energia solar devido à abundante exposição solar, que, neste sector, se traduz por "irradiações solares", uma das mais salientes do continente.

O financiamento deste projecto é fornecido pela Agência de Exportações da Suécia (SEK) e tem garantia da Agência Sueca de Crédito à Exportação (EKN).

Segundo uma informação disponibilizada pela portuguesa MCA, mais de 2,4 milhões de pessoas vão beneficiar da energia produzida por esta empreendimento solar, que contém ainda um inigualável benefício na redução de emissões de dióxido de carbono à volta de 1 milhão de toneladas/ano, graças aos cerca de 1 milhão de painéis solares que o compõem.

Recorde-se que a transição energética é uma prioridade global e Angola, apesar da sua forte dependência económica da produção e exportação de crude, que ainda conta por 94% do global das exportaões nacionais.

Angola e o futuro breve no sector dos hidrocarbonetos

NO que diz respeito ao petróleo, a produção actual está abaixo dos 1,3 milhões de barris por dia (mbpd) e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado, especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.

O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.

O alerta da Carbon Tracker

Um estudo internacional recente, elaborado pela iniciativa Carbon Tracker, aponta Angola como um dos países mais vulneráveis ao processo global de descarbonização da economia por razões de protecção climáticas que se traduz mesmo no desinvestimento das petrolíferas no sector para investirem nas denominadas energias limpas.

Este estudo denominado "Beyond Petrostates" nota que Angola enfrenta, até 2040, um défice de receitas na casa dos 76%, o que coloca o País na linha da frente das maiores vítimas deste processo planetário de substituição do petróleo como grande fonte energética mundial, o que exige de Angola um redobrado empenho na diversificação da sua economia.

O estudo diz isso mesmo, que os países nestas condições estão obrigados a definir políticas fortes de substituição de fontes de rendimento sob risco de enfrentarem dificuldades devastadoras para o seu futuro.

Para exemplificar esse abismo que têm pela frente, o estudo revela que as quedas das receitas nos próximos anos vão ser superiores a 13 mil milhões de dólares.

A Carbon Tracker é um think tank financeiro independente que desenvolve análises detalhadas e aprofundadas sobre o impacto da transição energética nos mercados de capitais e no potencial investimento em combustíveis fósseis.