Por detrás desta descida abrupta do valor do barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estão as tarifas disparadas pelo Presidente norte-americano contra a China, Canadá e México.

O efeito resulta da possibilidade de uma desvitalização da economia global, e, com especial incidência, na China, o maior importador mundial de crude, cujo sector exportador depende em grande medida da vitalidade das grandes economias, agora ameaçadas pelas tarifas norte-americanas.

Além disso, a própria economia dos EUA, a maior do mundo, além de ser o maior consumidor da matéria-prima, deverá ressentir-se deste confronto comercial porque tanto Pequim como Otava e a Cidade do México já anunciaram medidas reciprocas no valor de centenas de milhares de milhões de dólares.

Além deste cenário de guerra comercial entre EUA e China, como sucedeu ao longo da primeira Administração Trump (2017-2021), a OPEP+, que agrega a OPEP e a Rússia, al+em doutros "independentes", segundo vários analistas, deverá consumar aquilo que muitos temem há meses, um aumento da produção já em Abril.

Com esse cenário verificado, a primeira vez desde 2022, o efeito de retracção nos preços do barril serão imediatos, naquilo que muitos analistas temem poder vir a ser a tempestade perfeita para dificultar ainda mais a navegação dos "navios", como Angola, que dependem fortemente das exportações de crude.

E é esse contexto que faz com que há três dias, que coincidem com a perspectiva consolidada da declaração de guerra comercial dos EUA à China, Canadá e México, porque Trump entende que estes países se estão a aproveitar da bondade norte-americana, o petróleo esteja a perder valor.

É que, apesar da OPEP+ estar a anunciar uma subida na produção mito ligeira para Abril, de apenas 138 mil barris por dia, a verdade é que nos planos de prazo mais lato, o "cartel" tem em cima da mesa a normalização da produção, o que significará, quando estiver consumada, a injecção de mais cerca de 6 mbpd nos mercados.

Se tal acontecer ainda este ano, será inevitável que o Governo de Luanda avance para uma revisão do OGE 2025, porque a fasquia dos 70 USD poderá mesmo sofrer um abalo semelhante ao que aconteceu entre 2014 e 2016, com a inundação dos mercados, que pode atirar a matéria-prima para abaixo dos 40 USD.

Esse cenário é possível ainda mais porque é um dos objectivos da Administração norte-americana, de forma a combater a inflação, e que, com o anúncio da OPEP+, indicia que poderá haver um acordo secreto com russos e sauditas, os dois gigantes da organização, nesse sentido.

Alias, alguns analistas admitem mesmo que este tipo de iniciativas estarão entre os tópicos negociados nas conversas que norte-americanos e russos tiveram há duas semanas na capital da Arábia Saudita, que deu início ao processo, ainda em curso, das suas relações bilaterais.

E foi assim que o barril de Brent chegou esta quarta-feira, 05, aos 70,26 USD, perto das 11:40, hora de Luanda, ameaçando claramente a fasquia dos 70 USD se mantiver, como os analistas esperam, o acelerado ritmo de perdas, que está no 1,04% a esta hora face ao fecho da anterior sessão.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que, apesar de ainda acima desse valor, estão agora mais próximos da linha em que os alarmes começam a disparar nas capitais dos países mais dependentes das exportações da matéria-prima, como é o bem conhecido caso de Luanda.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.