Em Angola "ninguém está a pensar nisso", disse o gestor, à margem da conferência Luanda Oil & Gas and Renewable Energy, que decorre em Luanda, questionado sobre o processo de transição energética.

Lago de Carvalho avisou que, "daqui a uns tempos", Angola não terá receitas de divisas porque acabou o petróleo e sublinhou que vão ser necessárias receitas alternativas.

"Daqui a dois anos, o país tem de ter desenvolvido alguma área suficientemente forte para obter receitas de exportação, como é que vão fazer? Ninguém está a pensar nisso", criticou, defendendo que é preciso trazer investimento para outros sectores, além do petrolífero.

O economista, que trabalhou na Sonangol e é empresário do sector dos petróleos, mostrou-se favorável à mudança energética, referindo, no entanto, que "é preciso saber viver com as duas coisas", enquanto se desenvolvem as alternativas ao carvão e ao petróleo.

"Eu estou de acordo com a mudança energética, mas não deixamos de andar de carro ou deixamos de ter electricidade em casa, quando muita da energia que se consome ainda usa carvão, ainda usa petróleo", notou, acrescentando que "é preciso fazer a transição", desde que "efectivamente haja outras fontes de energia".

Lago de Carvalho considerou que o hidrogénio desempenhará um papel fundamental neste processo, mas sublinhou o peso do investimento associado, reforçando que "é preciso saber viver com as duas coisas, é preciso ir desenvolvendo as alternativas e fazendo reduzir a parte do petróleo".

Especialistas da indústria petrolífera e empresas angolanas e internacionais estão reunidos entre quarta-feira e sexta-feira no Centro de Convenções de Talatona (Luanda) para a conferência e exposição organizada pela consultora Petroangola para debater questões ligadas ao sector da energia.

Sonangol tem sido o maior obstáculo à incorporação de conteúdo local no sector dos petróleos

O empresário disse ainda que a petrolífera estatal tem sido o maior obstáculo à incorporação de conteúdo local, como bens e serviços prestados por empresas angolanas, no sector dos petróleos.

"Essa área do conteúdo local está muito fraca no país precisamente por que foi bloqueada pela Sonangol. O maior inimigo do conteúdo local foi a Sonangol durante estes anos todos", disse o gestor à margem da conferência Luanda Oil&Gas and Renewable Energy, organizada pela Petroangola, que decorre até sexta-feira no Centro de Convenções de Talatona (Luanda).

Segundo Lago de Carvalho, os contratos negociados com as petrolíferas internacionais pela antiga Sonangol, que assumiu funções de concessionária e de operadora, foram "manipulados em benefício de empresas públicas, como a Sonangol ou de empresas de pessoas ligadas ao poder e que bloquearam completamente a possibilidade de privados independentes poderem desenvolver essas actividades".

O empresário admitiu que a situação não se alterou substancialmente, apesar de a Sonangol ter deixado de intervir na negociação de contratos, sendo a função concessionária assumida actualmente pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), e que agora será "muito mais difícil porque o volume de actividade também baixou".

Na sua intervenção no primeiro painel de hoje da conferência, a importância do conteúdo local e da sua incorporação nos contratos foi um dos temas em destaque, com Lago de Carvalho a defender que os países subdesenvolvidos têm de se proteger e transferir para eles muito do conhecimento, enquanto Heloísa Borges, directora de estudos de Petróleo e Gás da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Brasil, abordou a experiência do seu país neste domínio.

O Governo angolano aprovou no ano passado um novo Regime Jurídico de Conteúdo Local do Sector dos Petróleos para promover a diversificação da economia, a participação do empresariado nacional no sector dos petróleos, o aumento da produção interna e a redução das importações, bem como fomentar a criação de emprego e formação da mão-de-obra angolana afecta à indústria petrolífera.

Na semana passada, a Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANPG) publicou a lista com os serviços e bens fornecidos às empresas petrolíferas que as operadoras de blocos petrolíferos devem contratar exclusivamente ou dar preferência a empresas angolanas e de direito angolano.

A medida visa assegurar a criação de uma indústria de suporte às operações petrolíferas baseada em Angola e constituída por empresas locais, já que actualmente 95% dos bens e serviços consumidos nas instalações petrolíferas é assegurado por multinacionais estrangeiras.