A De Beers e a Alrosa, duas das mais conhecidas multinacionais do sector, aumentaram o valor do quilate dos diamantes em bruto em perto de 15% para as pedras de menor dimensão e até 12% para as de maior dimensão e qualidade, o que revela, segundo os especialistas, uma forte recuperação deste mercado e abre perspectivas optimistas para 2022.
Com uma produção a rondar os 9 milhões de quilates, Angola, apesar de longe da meta dos 14 milhões apontada pelo Executivo, tem uma abertura saliente para fazer crescer um dos seus sectores estratégicos para ultrapassar a crise económica em que o País está mergulhado há vários anos.
Um bom exemplo deste arranque auspicioso do ano de 2022 vem da Lucapa Diamond Company, empresa australiana cotada que gere o Lulo, na Lunda Norte, com a Endiama e a Rosa & Pétalas, e a mina de Mothae, no Lesoto, e que viu os seus dividendos explodirem 393% no último trimestre de 2021, para os 13 milhões de dólares, a partir dos 39% que tem no Lulo e 70% na Mothae.
Os diamantes extraídos no Lulo são a jóia da coroa desta empresa, considerando que dela extrai dos mais valiosos do mundo, tendo mesmo batido o recorde mundial do ano de 2016, com 2.983 USD/quilate, tendo, no último quadrimestre de 2021, aumentado os ganhos em 294%, com uns reveladores 3.196 USD por quilate, perfazendo um volume de negócios de 26 milhões USD nesse período. Na sua minha do Lesoto, o quilate foi vendido a uma média inferior a 500 USD.
Mas o grosso, cerca de 80%, dos 9 milhões de quilates produzidos pela indústria diamantífera nacional provêem da Catoca, o gigante nacional da quantidade e o 4º maior kimberlito do mundo, embora aqui o valor médio do quilate apenas se situe ligeiramente acima dos 100 USD, estando a empresa a prever um amento de pouco mais de 7% para a sua produção de 2022, um ano claramente já fora dos efeitos nefastos da pandemia da Covid-19.
As principais razões para esta performance dos mercados diamantíferos, segundo aponta a generalidade dos analistas, é, seja no mercado dos brutos, seja nas pedras polidas, a escassez de oferta face ao aumento da procura e um bom momento das vendas nas grandes economias mundiais, como, e principalmente, nos EUA, mas também Índia e China, este último a mostrar-se mais tímido em sair da placidez gerada pela pandemia.
Luaxe, o brilho por encontrar
Uma das grandes apostas do País para aumentar a produção nacional é o projecto mineiro do Luaxe, na Lunda Sul, onde os russos da Alrosa, que investiram no projecto, estimam existir largos milhões de quilates em stock.
O projecto do Luaxe, próximo do Projecto Mineiro da Catoca, a 4ªa maior mina de diamantes do mundo, começou a ser consolidado em 2012, quando foi descoberto.
A conclusão da primeira fase do arranque da mina kimberlítica do Luaxe vai consumir 350 milhões de dólares, tendo já sido investidos de 2007 para cá 200 milhões de dólares, nos trabalhos de prospecção geológica e não só.
A mina de Luaxe está em fase de produção experimental desde meados do ano passado, pelo que estão a ser desenvolvidos trabalhos no sentido de se ter maior conhecimento da área de concessão de 1195 quilómetros quadrados.
Em busca de um lugar entre os maiores produtores do mundo
Angola tem em curso, nos últimos anos, especialmente desde que João Lourenço assumiu o poder, um conjunto de investimentos, medidas legislativas que visam acelerar a produção nacional e ainda um conjunto de operações envolvendo as forças de segurança para garantir a redução do garimpo ilegal cujo objectivo final é colocar Angola entre os três maiores produtores do mundo.
Com uma produção média de mais de 9 milhões de quilates por ano e com alguns dos mais importantes kimberlitos do mundo, seja o da Catoca, o 4º maior do mundo, seja ainda o promissor investimento do gigante russo Alrosa, no Luaxe, igualmente um dos maiores kimberlitos do mundo, a Endiama, ainda em Fevereiro de 2021 lançava o objectivo de alcançar uma produção média de 14 milhões de quilates.
Actualmente, apesar de estar entre os grandes produtores mundiais, Angola ainda está longe do pódio, que é ocupado pela Rússia, Botsuana e a República Democrática do Congo, estando ainda entre outros gigantes, como o Zimbabué, a Austrália ou o Canadá.
Recorde-se que a Rússia, produz mais de 39 milhões de quilates, o Botsuana passa ligeiramente os 23 milhões, enquanto a RDC, sem números oficiais fiáveis, deverá ter uma produção a rondar os 15 milhões de quilates, numa grande percentagem oriundos do garimpo artesanal e muito deste ilegal, por isso fora das contas oficiais.
Para ultrapassar estes três produtores, Angola vai precisar de ver o projecto mineiro do Luaxe activo, sendo que a russa Alrosa já avançou como estimativa para esta mina a presença de quilates no valor de 35 mil milhões USD, podendo levar a que o país, com a sua produção anual estimada de 9 milhões de quilates, quase que duplique quando em plena actividade.
Mas, além da gigante russa Alrosa, o Governo angolano precisa de atrair outros investidores, tendo, para isso, produzido fortes alterações à anterior legislação, sendo o toque mais notado a liberalização das vendas que estava, até há pouco tempo sujeitos à lógica do comprador preferencial.