A organização de Bretton Wooos considera que a resiliência da economia angolana melhorou desde o programa de assistência financeira, em 2021, e que os reembolsos projectados por Angola aumentarão a médio prazo, atingindo o pico em 2026, e antecipando que "num cenário de choque grave, a capacidade projectada para reembolsar os indicadores enfraqueceria, mas permaneceria gerível". No entanto, o FMI considera que "seriam cruciais medidas para mitigar este choque, incluindo permitir que a taxa de câmbio funcionasse como um amortecedor de choques, prosseguir a reforma dos subsídios aos combustíveis e racionalizar as despesas".

Segundo o FMI, os esforços das autoridades angolanas para levar a cabo as reformas económicas iniciadas durante o FEP 2018-21, incluindo nas áreas da gestão fiscal, mobilização de receitas, gestão da dívida, política monetária e estabilidade financeira, ajudaram a aumentar a resiliência da economia".

O crescimento da produção manteve-se positivo em 0,9 por cento em 2023, graças à recuperação da produção de petróleo no quarto trimestre; e prevê-se que estabilize numa média de 3,2 por cento a médio prazo, auxiliada pela reforma estrutural contínua e pela agenda de diversificação das autoridades, refere o FMI na análise à economia angolana, divulgada esta quinta-feira ao abrigo da avaliação pós-programa de assistência financeira, que durou de 2018 a 2021 e que teve um envelope financeiro de 4,5 mil milhões de dólares, lembrando que a inflação aumentou para o seu nível mais elevado dos últimos anos, devido à depreciação da moeda e às restrições da oferta.

"No entanto, prevê-se que a inflação comece a diminuir no segundo semestre de 2024, com uma melhor transmissão da política monetária e uma diminuição dos choques de oferta", antecipa.

A recuperação do choque de 2023 está em curso, as perspectivas de base são favoráveis, mas os riscos continuam inclinados no sentido descendente, segundo a avaliação do FMI, que refere que Angola foi simultaneamente atingida por um declínio na produção de petróleo e por um aumento nos pagamentos da dívida externa em 2023 considerando que a acentuada depreciação da taxa de câmbio que se seguiu ajudou a preservar as reservas externas e a mitigar o impacto fiscal.

Contudo, alerta o FMI, "a redução dos ganhos cambiais contribuiu para a depreciação da taxa de câmbio e as pressões inflacionistas, e reduziu o crescimento económico não petrolífero, subjacente à necessidade de melhorar as operações monetárias e o funcionamento do mercado cambial. A perspectiva de base prevê uma melhoria gradual do desempenho do crescimento, mas a exposição significativa ao sector petrolífero cria riscos significativos".

Segundo o Fundo Monetário Internacional, é necessário um ajustamento orçamental sustentado para mitigar os riscos. É fundamental racionalizar as despesas a curto prazo e continuar a reforma dos subsídios aos combustíveis (com medidas de mitigação para apoiar os vulneráveis e uma estratégia de comunicação proactiva).

As autoridades devem também, de acordo com o FMI, criar reservas adicionais através de medidas de política fiscal para mobilizar receitas internas não petrolíferas e realizar mais progressos na agenda estrutural fiscal, incluindo reformas na gestão das finanças públicas e na gestão do investimento público.

"São necessários esforços contínuos para melhorar o quadro da política monetária para reduzir a inflação e apoiar o crescimento não petrolífero a médio prazo. A manutenção de uma tendência mais restritiva na política monetária no curto prazo e a melhoria da gestão da liquidez interbancária - juntamente com um movimento gradual no sentido de uma maior flexibilidade cambial - ajudariam a aliviar a inflação, ancorar melhor as expectativas de inflação e a reduzir os custos de financiamento dos sectores público e privado", refere.

São necessários esforços contínuos para reforçar a estabilidade financeira, diz o FMI, adiantando que o BNA registou progressos na operacionalização de novos quadros de supervisão e resolução bancária, mas necessita de uma implementação e execução mais decisivas".

"Para salvaguardar a estabilidade financeira e reduzir o risco fiscal contingente, o BNA deve preparar-se para uma resolução decisiva ou liquidação dos bancos problemáticos, conforme necessário, protegendo ao mesmo tempo os pequenos depositantes e minimizando os custos para os contribuintes" lê-se na avaliação.

A implementação de reformas estruturais abrangentes é vital para melhorar o ambiente empresarial, reforçar e manter o crescimento no contexto de um declínio a longo prazo do sector petrolífero, considera o FMI, acrescentando que a abordagem de questões relacionadas com a governação, o género e as alterações climáticas continua a ser fundamental para alcançar a diversificação económica e o crescimento sustentável.