A notícia foi hoje, 18, segunda-feira, avançada pela Reuters e teve como consequência imediata a subida vigorosa do preço das commodities do sector, como o gás e o petróleo, nos mercados internacionais, sendo conhecida a razão imediata para esta decisão do gigante estatal russo do gás, a Gazprom, que é a tardia decisão do Canadá em enviar para a Alemanha uma turbina essencial para o funcionamento do gasoduto Nord Stream I, por onde a Rússia escoa a maior parte da matéria-prima que envia para a maior economia europeia.
Esta declaração de "force majeure" da Gazprom não abrange todo o fornecimento de gás à Europa ocidental mas atinge com força as principais economias da União Europeia, directa, como é o caso da Alemanha, o motor da economia europeua, ou indirectamente, que são a generalidade dos países do bloco europeu.
A declaração do gigante do gás russo tem como fundamento oficial a questão da turbina da alemã Siemens, que a enviou para o Canadá para reparações, tendo este país da América do Norte, primeiro negado o envio do equipamento para a Rússia ao abrigo das sanções económicas que pendem sobre Moscovo devido à invasão da Ucrânia, e depois aceitando enviá-lo para a Alemanhaº por insistência de Berlim, que, por sua, o encaminhará para os russos. Prevê-se que a turbina chegue à Rússia no prazo de uma semana.
Porém, não é segredo que Moscovo está a castigar a Europa ocidental pelo seu posicionamento ao lado dos EUA contra a Rússia, no âmbito da guerra na Ucrânia, usando o gás e o petróleo como sanção face à volumosa dependência que as economias europeias têm da energia Made in Russia.
Existe mesmo, segundo alguns analistas, um risco sério de a Alemanha, e, por arrasto, a Europa ocidental, entrar numa grave recessão, até porque a furiosa inflação que a antecede, normalmente, já é uma evidência tanto nos EUA como na União Europeia, muito em resultado de uma subida vertiginosa do preço dos combustíveis.
Conforme a notícia de Julia Payne, da Reuters, a Gazprom, empresa que detém o monopólio da exportação de gás russo via gasoduto, tomou esta decisão com base num argumento conhecido mas a consequência imediata pode ser uma escalada das tensões entre Moscovo e o ocidente, o que pode ser já observado com a reunião do Conselho Europeu de hoje onde Bruxelas já desenha novas e volumosas sanções à Rússia.
Apesar disso, a Alemanha, ao mesmo tempo que insiste no envio da turbina que é essencial para o funcionamento do gasoduto Nord Sream I, mantém no discurso um tom de forte condenação à Rússia e de apoio às sanções contra Moscovo, embora esta decisão seja um claro furo na sólida muralha sancionatório a Moscovo.
Furo, alias, já fortemente criticado pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que disse mesmo não poder compreender a decisão do Canadá.
Enquanto isso, os consumidores europeus, a escassas semanas de começarem a sentir o pungente frio do Inverno, com temperaturas a chegarem aos 20 e 30 graus negativos, começam a ficar nervosos e esse nervosismo está já a atingir os governos, com receio de consequências eleitorais, como, de resto, já sucedeu com a deissão forçada do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, apesar de a sua máquina de propaganda procurar negar que existe uma razão directa entre a crise em Londres e a guerra na Ucrânia, ou na vitória escassa de Macron em França ou ainda a demissão em curso do chefe do governo italiano, Mario Draghi.
Recorde-se que semanas antes desta situação limite, a Gazprom já estava a reduzir lentamente o fornecimento de Gás aos países europeus, tendo mesmo cortado o fornecimento a alguns que se negaram a aceitar pagar as cargas em rubos russos, como determinado pelo chefe do Kremlin, Vladimir Putin.
Esta manobra táctica dos russos tem como pano de fundo ma decisão política estrutural da União Europeia de alcançar a independência total da energia russa até 2027, especialmente no gás natural, mas até 90% já em 2023, o que deixaria Moscovo sem uma importante arma económica, sendo esta a derradeira forma de atingir fortemente os adversários europeus antes destes fazem o desmame total dos hidrocarbonetos importados da Rússia.
Com esta decisão conhecida pelas agências de notícias, o gás natural subiu de forma abrupta nos mercados, perto de 4,35% em escassas horas, valendo o MMBTU, que equivale a 26, 8 metros cúbicos (m) de gás natural a 7,43 USD, mais 4,35% que na abertura dos mercados. O barril de crude também está a subir mais de 4,75%, para os 105,75 USD.
Para Angola, que tem visto crescer a sua produção de gás natural, atingindo em Maio deste ano, os 87,879 milhões de pés cúbicos, o que se traduz, segundo dados oficiais, numa média diária de 2,834 milhões de pés cúbicos, esta notícia tem importância vital, até porque o país se posiciona como um dos potenciais fornecedores substitutos do gás russo para a Europa ocidental, especialmente a Itália.