Na terça-feira essa corda esteve quase a sufocar a "vítima", chegando o barril de Brent, que é a referência principal para as ramas exportadas por Angola, aos 68 USD, a escassos três dólares do valor médio com que o OGE24 foi elaborado pelo Executivo de João Lourenço.
E os ganhos da aproximação do "Francine" ao Golfo do México, onde estão uma boa parte das plataformas que permitem aos EUA ser o maior produtor de crude do mundo, mas também do México, só não estão a ser mais robustos porque a Agência Internacional de Energia (AIE) está agora mais pessimista para o corrente ano que na sua última informação sobre as expectativas de consumo.
Segundo a AIE, em 2024 o mundo vai consumir "apenas" mais 900 mil barris por dia em vez dos 2,1 mbpd que ainda há alguns meses estavam a ser considerados, sendo as razões, em larga medida, relacionadas com desempenhos menos bons das grandes economias globais.
Neste relatório, a AIE dá especial destaque para ao travão da economia chinesa, que deverá crescer, em termos de consumo de petróleo, apenas 180 mil barris por dia.
Mas, no que toca aos dados do dia, que são o que interessa para quem está com a corda no pescoço, que são a generalidade das economias africanas que dependem das exportações de crude, e também algumas asiáticas e sul-americanas, os ventos do "Francine" são como um bálsamo.
Isto, porque ao reter nos poços mais de 1,5 milhões de barris da produção dos EUA, o furacão Francine está a contribuir para um equilíbrio artificial entre a oferta e a procura que, com as pilhas a falharem na China, começava a pender para um excesso de oferta.
Segundo a Reuters, mais de metade da produção de gás no Golfo do México está fora do circuito devido ao Francine e pelo menos 39% do crude não está a ser extraído, com 171 plataformas "out of service".
O que, lendo a realidade como ela é, quer dizer que assim que os ventos do Francine se dissiparam sobre o Golfo do México, os olhos dos mercados vão voltar a focar-se nos números e esse são claros, o mundo começa a caminhar para ter mais petróleo disponível que aquele que consegue queimar.
E neste sobe e desce, mas desce que sobe nos últimos dias, considerando que entre terça-feira, 10, e quarta-feira, 11, o barril esteve mesmo abaixo da barreira psicológica dos 70 USD, graças ao Francine, o barril aparece esta quinta-feira, 12, com melhores cores, nos 71,63 USD, a crescer 1,39%, perto das 14:30, hora de Luanda, subindo até aos 72,32 esta sexta-feira, pelas 09:15 da manhã.
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário na meteorologia do crude não é augúrio de tempos fáceis.
Mas, para já, ter o Brent nos 71 USD, ainda ligeiramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, reduz substancialmente a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores travam o optimismo dos últimos meses e, por isso, aumentar a produção é ainda mais o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.