A "crise de nervos" para os países exportadores, como Angola, só durou três dias, porque já nesta quinta-feira, 06, o barril está de volta aos confortáveis 80 USD, embora ainda falte algum caminho para o regresso a "casa" estar completo.

Os próprios especialistas admitem agora que, mais uma vez, os mercados reagiram não com base em dados efectivos mas com os nervos à flor da pele e um misto de pessimismo na macroeconomia global.

Também como resultado de alguma especulação e, como sublinham os analistas do Starndard Chartered, um "excesso de entusiasmo com os algoritmos das trocas comerciais", que é como quem diz, o uso, provavelmente, excessivamente optimista da Inteligência Artificial (IA) neste negócio.

Ou seja, já há quem esteja a olhar para este universo do negócio trilionário da energia e a reparar que a fria IA não se estará a dar muito bem com os excessos de calor emocional que há décadas traçam o dia a dia deste emotivo e sensível mercado.

Recorde-se que, no Domingo, a OPEP+, organização que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de desalinhados com a Rússia no topo, anunciou um fade ou organizado no seu programa de cortes até 2025.

Com isso, paulatinamente, o "cartel" quer fazer regressar aos mercados cerca de 5,5 milhões de barris por dia (mpd), antes retirados, faseadamente desde 2020, para equilibrar os mercados afectados por fragilidades da economia global, por entender que já não existem os mesmos vectores que a isso levaram.

Porém, nalguns fóruns a análise é menos lisonjeira para a OPEP+, que tem visto, os últimos anos, o seu poder a resvalar porque, apesar de ainda concentrar mais de 40% da produção mundial, novos actores estão a chegar ao negócio e a alterar as regras, como, entre outros, a nova estrela Guiana, ou o velho Brasil com cada vez mais matéria-prima para vender.

E, antes que a crise se instale no seio do "cartel", que perdeu recentemente Angola, devido a perdas relevantes geradas pelas quotas associadas a esta política de controlo da produção, a OPEP+ desenhou este plano de recuperação da produção faseada.

Os actuais cortes em curso resultam de 3,5 mbpd do programa oficial e perto de 2 mbpd em resultado de subtracções opcionais de sauditas e russos, os dois gigantes da organização.

Uma das razões para que os mercados tenham voltado a acreditar é que actualmente ninguém pode afirmar com um mínimo de certeza o que vai ser a realidade da economia global em escasso meses, o que significa que muito menos de poderá fazer esse prognóstico para dois anos.

Ainda por cima, nesse anúncio, a OPEP* deixou bem claro que este plano estaria sempre sujeito a alterações em função de eventuais alterações das condições dos mercados, que é como quem diz, também novos cortes são possíveis que a isso as circunstâncias aconselharem.

E com o decurso dos conflitos na Ucrânia, envolvendo a Rússia, que responde por mais de 10 mbpd, de uma produção global de pouco mais de 100 mbpd, ou seja 10 por cento desse "bolo", além da guerra em Gaza, que não deixou de ter o potencial de desestabilização do Médio Oriente, de onde sai 35% do crude consumido no mundo, nenhum oráculo pode garantir que uma severa crise se instale neste sector com graves disrupções na oferta entre as possibilidades.

Assim, já esta manhã de quinta-feira, 06, o barril de Brent, a medida das contas angolanas, chegou aos 79,05 USD, recuperando de forma substantiva dos pouco mais de 76 da última terça-feira, 04, estando claramente numa rota ascensional, revendo-se que a fasquia dos 80 USD seja trespassada ainda durante o dia de hoje.

O que é uma boa notícia para as contas angolanas

... apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 79 USD, embora sendo ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, o que permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária, a verdade é que mostra uma redução inquietante desse superavit.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.