Os dados sobre a procura emitidos pela economia norte-americana para o sector energético não são os melhores e isso tem igualmente exercido pressão negativa sobre os mercados, especialmente depois de a Bloomberg ter divulgado que, ao contrário do anunciado por Moscovo, não existirem indícios que quaisquer redução na produção diária da Rússia.

E é assim que o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava esta manhã de quarta-feira, perto das 12:00, hora de Luanda, a valer 75, 08 USD, menos 0,32% que no fecho de terça-feira, mas com os analistas a sublinharem quase em exclusivo a questão do anúncio da FED para a subida das taxas de juro, que, segundo um alargado consenso, não deve ir além dos 0,25%.

Isto, porque uma subida mais abrasiva pode acrescentar instabilidade ao sector bancário, já de si fragilizado pelos colapsos dos bancos Silicon Valley, o maior dos três, com mais de 200 mil milhões USD em activos, o Signature e o Silvergate, considerando que têm sido estas subidas agressivas para conter a inflação, que estão a derreter o valor dos activos de muitos bancos nos EUA, tal como sucedeu com o Credit Suisse, que teve de ser salvo através de uma aquisição polémica pelo igualmente suíço UBS.

O comportamento instável do petróleo é ainda resultado das evidentes dificuldades de Governos e bancos centrais das grandes potências ocidentais para conter a inflação, que permanece há meses em níveis historicamente elevados, e a recessão que já está entranhada nalguns países, na condição de ameaça ou efectiva, como a Alemanha e a Suécia.

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este momento dos mercados, apesar de a casa dos 70 USD satisfazer as necessidades básicas do Estado, está aquém do necessário para que o país possa realizar a necessária transformação económica libertando-se da dependência do crude, mesmo que tal venha a verificar-se nos últimos anos, se bem que menos que o desejado.

... com o barril a valer pouco mais de 75 USD, o Governo angolano volta a estar encostado à parede no que diz respeito a uma possível revisão do OGE 2023, se os mercados não conseguirem estabilizar no preço actual ou acima desta fasquia.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.