Mas a semana já "nasceu" com o barril a deslizar para a barreira dos 72 USD devido aos sinais claros de que o Médio Oriente, após o derrube do regime de Bashar al-Assad na Síria, não entraria numa espiral de violência regional como se chegou a admitir na passada semana.
Para já, o Brent, a referência maior para as ramas exportadas por Angola, estava, perto das 09:30, hora de Luanda, a valer 72,81 USD, menos 0,70% que no encerramento da anterior sessão, reflectindo precisamente as notícias oriundas de Washington.
Este anúncio de menos vigor no ritmo de descida das taxas de juro pela FED assume especial relevância para o sector petrolífero porque pode comprometer o desempenho da economia dos EUA, não apenas a maior do mundo como é também a que mais "queima" combustíveis fósseis.
E há ainda outra razão para preocupação entre os analistas que projectam a capacidade das grandes economias em consumir crude, que é o facto de a FED ter sido obrigada a avançar para esta redução do ritmo de descidas das taxas de juro devido à elevada inflação nos EUA.
Com elevada e crescente inflação e taxas de juro menos apelativas para os investidores, usualmente ocorre uma contracção no consumo, o desemprego assoma enquanto ameaça ao virar da esquina do tempo e, como por vezes sucede, gera-se um remoinho de pessimismo que se auto-alimenta e gera desconfiança, que é a infecção mais grave para o corpo dos mercados petrolíferos.
Face a isto, havia que ir procurar se já há efeitos visíveis desse pessimismo. A resposta é que sim, há, como acaba de anunciar a JP Morgan, o gigante financeiro norte-americano que admite que a procura em Dezembro é menor em 700 mil barris por dia do que o que tinha antecipado há alguns meses.
Alias, estes números encaixam com uma assustadora perfeição, na perspectiva dos exportadores, nas previsões feitas em meados do ano pela Agência Internacional de Energia, e, já em Novembro, assimilados pela OPEP+, que reverteu os seus planos de dar por findo o longo plano de cortes na produção para nivelar os preços por cima dos seus interesses.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, tanto na economia norte-americana, que segue lado a lado com notícias relativamente pessimistas da economia chinesa, tende a manter os preços em baixa, mesmo que com algumas oscilações, o que é sempre uma má notícia para as economias petrodependentes, como é o caso da angolana.
Preços estes que se afastam a grande velocidade dos quer foram atingidos no pico deste ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD.
E Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
No entanto, apesar do OGE nacional ainda em vigor ter como referência de valor médio no barril os 65 USD, o documento elaborado para 2025 subiu essa média para os 70 USD, o que deixa as contas nacionais a balancear se a descida se mantiver.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.