Tanto o Brent, em Londres, que define o valor médio das ramas angolanas, como o WTI, em Nova Iorque, acordaram hoje perder quase mais de 1,5% com o barril em Londres a ameaçar passar, de novo, em baixo, a barreira psicológica dos 50 USD.

Por detrás deste novo período de receios nos mercados está, em primeira instância, a descoberta no Reino Unido do novo coronavírus que se apresenta, de acordo com os primeiros estudos, com uma capacidade de contágio até 70% superior à estirpe "normal", levando a União Europeia a marcar para hoje, de urgência, uma reunião online ao mais alto nível para definir que medidas vão ser accionadas para lidar com a ameaça que vem do Reino Unido.

Este receio, apesar de os virologistas terem de imediato avançado que uma maior transmissibilidade não significa que a nova variante seja mais letal ou que a eficácia das vacinas já activadas esteja posta em causa, levou os mercados do petróleo a reagirem, como sempre, em pânico devido à possibilidade de novos confinamentos e a empurrar o barril para baixo.

Para piorar este cenário, as autoridades sul-africanas também informaram a OMS da descoberta de uma nova variante do Sars CoV-2 que tem como particularidade a sua fortalecida capacidade de infectar os mais jovens, a população que , até aqui, mostrava maior resiliência a esta infecção.

E tudo, quando o mercado global do petróleo estava a recuperar a olhos vistos e em valores recorde de mais de 9 meses, desde Fevereiro, quando a Covid-19 alastrou aos quatro cantos do mundo na forma de pandemia que começou, oficialmente, na cidade chinesa de Wuhan, em Dezembro de 2019.

Num esforço gigantesco para debelar a pandemia que está a destruir a economia global, sem poupar dos mais ricos aos mais pobres, mas com especial impacto naqueles que vivem em forma de dependência das exportações de energia, como é o caso de Angola, os países europeus estão a procurar perceber esta nova variante e se se rata mesmo de uma nova ameaça. O mesmo se passa na África do Sul.

Curiosamente, apesar de não haver, até ao momento, qualquer relação de causa/efeito, estes dois países têm em comum terem servido de palcos principais para os testes em humanos da vacina da AStraZeneca/Oxford nos últimos dois meses, mais ou menos o tempo que já leva das primeiras evidências desta nova estirpe na África do Sul.

Face a isto, o barril de Brent estava, perto das 10:10, hora de Luanda, a perder 1,58%, para os 50,24 USD, em relação ao fecho de sexta-feira, enquanto o WTI, em Nova Iorque, esvaziava, à mesma hora, 1,48%, para os 47,25 USD.

Estes valores, que são uma clara má notícia para Angola, que ainda tem no crude 94% do total das suas exportações, sem que a diversificação económica se faça sentir como ferramenta de alívio destes constrangimentos, mais de 50% do PIB e pelo menos 60% dos recursos do Executivo, surgem a culminar sete semanas de ganhos recorde de Março/Abril, quando, recorde-se, o barril chegou aos 20 USD em Londres e em Nova Iorque a 40 USD negativos, algo que nunca tinha acontecido na história da indústria petrolífera.

Como a Reuters noticia hoje, este terramoto nos mercados levou a que mesmo o anúncio nos EUA de uma ajuda para combater os efeitos da pandemia no valor de 900 mil milhões USD passou totalmente desapercebida, deixando ainda mais em evidência o momento periclitante que o sector atravessa.

O que se traduz, como avança o ministro russo da Energia, Alexander Novak, na constatação de que o mundo está ainda a consumir menos 6 a 7 milhões de barris por dia a menos que nos tempos pré-pandémicos.

E problema é tão agudo que o países da União Europeia (UE) vão marcaram para hoje uma reunião de emergência de forma a decidir medidas para lidar com a nova ameaça que vem de Londres.

Esta reunião visa organizar respostas da UE à variante da Covid-19 encontrada no Reino Unido, o que já não acontecia a este nível desde Janeiro deste ano, tratando-se de um mecanismo para a coordenação de crises transfronteiriças ao mais alto nível político.