O receio de uma quebra significativa do consumo de crude na China, com os 26 milhões de habitantes de Xangai confinados por ordem do Governo de Pequim, que se juntam aos milhões que estão confinados noutras cidades como forma de garantir a política chinesa de Covid-zero, levou os mercados a reagirem de forma abrupta, esvaziando os ganhos das semanas anteriores em mais de 5 dólares.

Ao final da manhã desta segunda-feira, 28, o barril de Brent, que serve de referência para as ramas exportadas por Angola, estava a valer 115,76 USD, menos 4.09% que no fecho de sexta-feira, sendo o comportamento semelhante em Nova Iorque, onde o WTI perdia, à mesma hora, 4,46%, para 108,85 USD.

Com casos de Covid-19 a surgirem em maior número na China, os analistas temem que outras grandes cidades com importância estratégica para a segunda maior economia mundial e o maior importador de crude do mundo possam vir a ser colocadas em confinamento, o que iria, seguramente, levar a uma perda na procura e, consequentemente, uma desvalorização ainda mais agressiva do valor da matéria-prima nos mercados internacionais.

Devido a estes confinamentos, e de acordo com a Reuters, a China deverá terminar o mês de Abril com um consumo de menos 800 mil barris por dia em comparação com a média anual, o que implica estreitar a distância entre a oferta e a procura, que, devido às políticas de controlo da produção definidas pela OPEP+, têm mantido os mercados sob pressão e o barril em alta efusiva há meses, primeiro devido ao fade out da pandemia, e, depois, por causa da invasão russa à Ucrânia, a 24 de Fevereiro, que levou, recorde-se, a 09 de Março, o barril aos 139 USD, apenas a oito dólares do recorde de sempre, de 147 USD, em Julho de 2008.

Este momento de perdas nos mercados deverá ser revertido já na próxima reunião mensal da OPEP+, na quinta-feira, onde os 13 países da OPEP e os 10 associados desde 2017 liderados pela Rússia, vão reafirmar, segundo os analistas, o seu compromisso com os mesmos perto de 400 mil barris de aumento mensal diário, contrariando as expectativas dos países ocidentais, com os EUA à frente, que estão a pressionar o "cartel" para aumentar mais a produção de forma a aliviar o stresse causado pela diluição das importações à Rússia movidas pelas sanções aplicadas no seguimento da guerra no leste europeu.

Angola é um dos países que mais tem estado a beneficiar deste período de ganhos no sector petrolífero e o Governo de João Lourenço tem - ou tinha - uma última oportunidade para investir na diversificação da economia com o rendimento extra do petróleo e num tempo histórico em que o mundo caminha a passos largos para a transição energética, libertando-se dos combustíveis fósseis, como único caminho de se defender da catástrofe climática que se adivinha.

Este sobe e desce nos mercados é de extrema importância para Angola, País que tem uma forte dependência das exportações de crude, que representa 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos custos com o funcionamento diário do Estado.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro, depois de semanas de impaciente expectativa, as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de KIev da soberania russa da Península da Crimeia, integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1992, com o colapso da União Soviética.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, em mais de 60%.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.