Com uma crise global forjada na elevada inflação nas grandes economias ocidentais e o risco a crescer dia para dia de uma recessão na Europa ocidental e nos EUA, a OPEP+ tem pela frente, na próxima quarta-feira, um complexo desafio: reduzir a produção para aumentar o preço ou baixar ou manter a produção, o que fará com que o preço do barril desça, o que, aparentemente, mas não é certo, pareça um contra-senso na perspectiva dos países exportadores.
A dúvida que atravessa a mesa dos 23 membros da OPEP+ é esta: Se baixar a produção, no imediato sobem os preços, aumentando os rendimentos dos produtores/exportadores, alguns deles, como Angola ou a Nigéria, muito dependentes deste sector, mas isso levará a que a inflação mantenha a sua fase de ascensão nas grandes economias consumidoras de crude, o que levará inevitavelmente a uma deterioração do seu tecido económico e, logo, a uma redução do consumo de energia, pressionando os preços em baixa.
Perante este dilema, alguns analistas admitem que o cartel será levado a escolher uma posição de prudência, com uma opção por manter a actual produção ou então, devido à pressão de alguns dos seus membros, mais dependentes da exportação de crude, a uma ligeira redução.
Mas não é assim que pensam, por exemplo, os analistas da JP Morgan Chase, uma das maiores casas financeiras do mundo, que, segundo a Bloomberg, avança que a OPEP+ deverá optar um corte de até 500 mil barris por dia de forma a estabilizar os reços num patamar acima dos 90 USD por barril.
Mas há quem veja o cartel a ir ainda mais longe, como os analistas da Reuters, que, corroborando a informação recebida de fontes com ligações aos membros mais proeminentes da OPEP+, apontam para um corte próximo de 1 milhão de barris por dia, o que será uma abordagem muito mais agressiva e contrária às expectativas dos dirigentes europeus e dos Estados Unidos, que estão actualmente a suar as estopinhas em busca de uma fórmula mágica que permita esmagar os preços e baixar, assim, os índices históricos de inflação, que, nos EUA é já de mais de 40 anos, tal como na Alemanha.
Esta reunião de quarta-feira, em Viena de Áustria, na sede mundial da OPEP, a primeira em dois anos que terá lugar presencialmente, promete ser já histórica e não é apenas porque os membros não se viam em pessoa desde Março de 2020.
Antes porque, com a guerra na Ucrânia em pano de fundo, os líderes de facto da OPEP+, Arábia Saudita e Rússia, deverão aproveitar para desafiar abertamente os EUA, com as relações entre Washington de um lado e Riade e Moscovo do outro, a deteriorarem-se a olhos vistos, sendo que os EUA anseiam por mais crude no mercado para menos dólares pagos por barril e menos custo a atestar as viaturas nos postos de abastecimento.
Isto, porque os actuais 88,8 USD por barril de Brent, a referência principal paras as exportações angolanas, perto das 10:20, hora de Luanda, ostentando uma subida robusta de mais de 4,5% face ao fecho de sexta-feira, é já uma consequência desta expectativa, retirando a matéria-prima de uma inclinação negativa que levou o barril para baixo do perigoso patamar dos 85 USD na passada semana. No WTI de Nova Iorque o perigo ameaça igualmente com a medida a fixar-se abaixo dos 80 USD.
Este sobe e desce é uma dor de cabeça permanente para os governantes angolanos que contam ainda muito com o petróleo para equilibrar as contas, porque este representa mais de 95% do total das exportações, 35% do PIB e perto de 60 por cento das receitas fiscais.
Todavia, e apesar de por razões nefastas, Angola é dos países, tal como os ouros membros africanos, como a Nigéria, que é menos afectado com cortes na produção porque o país há vários anos que não atinge a quota determinada no seio do cartel devido à deterioração da sua infra-estrutura produtiva, fustigada por forte desinvestimento na pesquisa e na manutenção desde a crise de 2014.
Actualmente Angola produz ligeiramente abaixo dos 1,1 milhões de barris por dia, uma diferença abissal para aquilo que foi o seu recorde de sempre, atingido em 2008/2009, onde chegou a bater nos 1,8 milhões de barris por dia.