Ao mesmo tempo que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os não-alinhados liderados pela Rússia agregados na OPEP+ estão a cumprir a sua parte para que seja alcançada a cifra dos 10 milhões de baris por dia (mbpd), os sinais que chegam das economias vão no sentido de que a procura está a aumentar à medida que os países aligeiram as suas medias de confinamento.
Estes sinais mostram que o "buraco" provocado pela crise económica que nasceu da crise de saúde pública no rasto da epidemia da Covid-19, de 30 mbpd em Abril, está a ser esbatido, desde logo pelos 10 mbpd cortados pela OPEP+, mas também pelo aumento do consumo global e ainda porque algumas áreas do sector petrolífero, como o fracking norte-americano ou ainda algumas explorações pré-sal foram diminuídas ou mesmo fechadas devido aos seus elevados breakeven, contribuindo assim para uma menor oferta.
Este é o contexto que permitiu que nos últimos dias, precisamente a 19 de Maio, o barril de Brent, vendido em Londres, mercado que define o valor médio das exportações angolanas, passasse a barreira dos 35 USD, mantendo-se acima desde patamar de forma sólida.
Esse dado permite algum sossego ao Executivo angolano que acaba de rever o OGE 2020 dos 55 USD por barril iniciais para os 35 USD, como forma de lidar com a volatilidade abrasiva dos mercados, que se registava anteriormente à crise e se agudizou com o despoletar da pandemia em Dezembro, na cidade chinesa de Wuhan, onde o novo coronavírus foi descoberto.
Como, alias, o demonstra os gráficos do Brent e do WTI de hoje. Em Londres, o barril estava a valer, cerca das 09:30, 36,11 USD, mais 1,9% que no fecho da sessão de segunda-feira, enquanto em Nova Iorque, a medida - ambos para contratos de Julho - valia, à mesma hora, 34,17, mais 3,16 USD que no encerramento da última sessão, que, neste caso foi na passada sexta-feira devido a um feriado nacional nos EUA comemorado este ano a 25 de Maio, em homenagem aos combatentes tombados ao serviço do país.
Esta melhoria no cenário global não deverá, como o atestam os analistas, alterar as medidas em curso no seio da OPEP+, mas, como estava já agendado, os membros do "cartel" vão voltar a sentar-se à mesa no próximo mês para analisar a situação
Na linha da frente dos sinais de cumprimento pelos membros da OPEP+ mais estão os números provenientes da Rússia, mostrando que este país está à beira de descer a sua produção para os 8,5 mbpd, que foi a meta com a qual se comprometeu para os meses de Maio e Junho.
Estes dados deixam os analistas conformados com a ideia de cumprimento generalizado porque a Rússia é, por norma, o que mais procrastina no cumprimento das suas metas, embora também os números oficiais sejam de modo a satisfazer a generalidade dos produtores porque o barril, que estava a perder, em finais de Abril, em média, 70% do seu valor deste o início da pandemia/crise, está agora visivelmente a reduzir esse valor para cerca de 45 por cento.
Angola, por exemplo, que tem a sua produção em torno dos 1,35 mbpd, deverá reduzir para 1,1 mbpd, meta que também está a ser alcançada devido ao abrandamento na produção decidido pelas multinacionais a operar no offshore angolano como resposta à crise em curso e ao excesso de oferta face às substanciais quebras na procura.
Porém, visto que o acordo de corte de 10 mbpd tem como limite o fim de Junho, com a reunião da OPEP+ agendada para o início do mês, algures entre 01 e 05 de Junho, embora a data ainda não tenha sido definida, existe a possibilidade de os membros optarem por alterar o acordo de forma a apressar a recuperação, porque esta crise, têm sublinhado as grandes casas financeiras mundiais, desferiu um golpe muito pesado nas economias mais dependentes das exportações da matéria-prima, desde logo sauditas e russos, mas também a generalidade dos países africanos, nomeadamente os dois maiores produtores subsaarianos, Nigéria e Angola.