Quase ao mesmo tempo, as agências e sites especializados noticiavam que, para surpresa de muitos analistas encartados, a China está a recuperar na procura da matéria-prima com um não menos efusivo "renascimento" da economia do gigante asiático.

Somando o risco crescente de disrupções na refinação russa, com a nova realidade na guerra na Ucrânia, à procura em alta na China - com as reservas a extinguirem-se rapidamente -, como a Reuters está a sublinhar nesta manhã de quarta-feira, 20, o barril de Brent está a "inchar" substancialmente.

Entre o início da sessão de terça-feira, 19, e as 09:30, hora de Angola, desta quarta, 20, a referência Brent, que serve às exportações angolanas, subiu quase 3 USD, estando a valer a essa mesma hora, 73,56 USD, com clara tendência ascendente.

No entanto, estes preços estão longe do pico deste ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD.

Estes são importantes para Angola por ser dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, apesar do OGE nacional ainda em vigor ter como referência de valor médio no barril os 65 USD, o documento elaborado para 2025 subiu essa mediana para os 70 USD, o que deixa as contas nacionais a balancear.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.