Apesar de os russos negarem de forma veemente quaisquer crimes na cidade de Bucha contra civis, acusando mesmo o ocidente de ter montado uma farsa para prejudicar a Rússia ao justificar novas e pesadas sanções, os mercados temem que estas, finalmente, incidam fortemente sobre o sector energético russo e que isso leve a uma forte disrupção na oferta global de crude.

Para já, a União Europeia colocou o carvão russo na lista de proibições a importar da Rússia, faltando agora o gás e o crude, embora estes sejam ossos mais duros de roer visto que os países-membros da União Europeia mais influentes, como a Alemanha, Países Baixos, França ou Itália, são altamente dependentes destas matérias-primas.

Porém, a lista de novas sanções, que será conhecida ainda hoje, apenas tem asseguradas punições novas ao sistema financeiro russo, a políticos russos com cargos proeminentes no Estado e seus familiares.

Embora, pelo que se sabe até agora, antes do final da manhã desta quarta-feira, 06, o Presidente ucraniano exija mais sanções, abrangendo o sector do petróleo e do gás, o que se não suceder - e, para já, não deverá acontecer -, poderá levar Kiev a, contra a vontade ocidental, abrir novos pontos de diálogo com Moscovo para negociar os termos de um cessar-fogo, primeiro, e depois um acordo de paz.

O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, disse isso mesmo no Conselho de Segurança de terça-feira, quando, ao dirigir-se pessoalmente a Volodymyr Zelensky, defendeu que os países ocidentais, União Europeia e EUA, não têm outro interesse que não seja usar a Ucrânia para atingir a Rússia através de sanções somadas umas em cima de outras, estando disponíveis a, "para esse objectivo seja atingido, alimentar a guerra na Ucrânia até ao último soldado de Kiev!".

Para já, as exigências de Zelensky não estão, segundo as agências internacionais, a ser correspondidas com esta nova lista de sanções europeias e norte-americana à Rússia, que, além do carvão, não mexe em mais nenhuma das commodities do sector energético, embora isso só possa ser confirmado após a divulgação oficial da lista. Mas a promessa de sancionar o gás e o crude russos estão permanentemente na retórica sancionatória euro-norte-americana...

Todavia, mais este pacote de sanções foi suficiente para travar a queda que se sentia há já alguns dias nos mercados petrolíferos, estando hoje, 06, a reflectir os efeitos destas anunciadas sanções, com o barril de Brent, em Londres, perto das 11:20, hora de Luanda, a subir 1,88%, para os 108,32 USD, enquanto em Nova Iorque, o WTI subia 1,82%, para os 103,70 USD.

A travar estes ganhos, estão, segundo a Reuters, a continuidade do confinamento gigantesco na cidade chinesa de Xangai, mais de 20 milhões de habitantes, devido a um surto de Covid-19, e um inesperado reforço dos stocks nos EUA, a maior economia do mundo, anunciado alguma retracção no consumo global de energia...

O consistente reforço do dólar dos EUA face às restantes moedas internacionais também está a aligeirar os ganhos, porque este regresso da boa forma da principal moeda franca mundial, torna a matéria-prima mais cara para os países que a pagam convertendo as suas moedas nacionais em USD.

Mas este cenário pode voltar a alterar-se fortemente quando, dentro de alguns dias, segundo a Reuters, os membros da Agência Internacional de Energia decidirem quanto crude das suas reservas estratégicas vão libertar de forma a reequilibrar os mercados, sendo que o único dado conhecido é dos EUA, que já anunciaram que vão libertar 180 milhões de barris, dos quase 700 milhões que têm em stock estratégico, ao longo dos próximos seis meses, o que dá 1 mbpd.

Para Angola, manter o barril acima dos 100 USD é estrategicamente importante para, enquanto assim se mantiver, dar um forte impulso ao combate à crise económica que o País atravessa, sendo, como se sabe, fortemente dependente das exportações de crude para isso.

A razão é igualmente conhecida: o petróleo responde a 95% das exportações nacionais, a mais de 35% do PIB e a mais de 60 por cento das despesas de funcionamento do Estado.

Apenas a fraca performance da produção nacional atrapalha estas contas, visto que Angola tem vindo a diluir o seu potencial produtivo, está hoje inferior a 1,1 milhões de barris por dia - já foi mais de 1,8 milhões em 2008/09 -, o que retira alguma margem de manobra ao Executivo de João Lourenço na gestão desta crise, que começa, face aos números mais recentes, a sair agora de um período de cinco anos consecutivos de recessão.