Hoje, quinta-feira, 09 de Abril, através de vídeo-conferência, a Rússia e a Arábia Saudita vão estar "sentados à mesa" com a agenda oficial marcada pela necessidade que ambos - dois dos três maiores produtores mundiais, aos quais se juntam os EUA no pódio - têm de definir um novo acordo para cortar a produção, mas a agenda oficiosa pode ser ainda mais importante, que é estarem sentados à espera de uma palavra de Donald Trump.
Moscovo e Riade já deixaram saber que, apesar da brutal guerra de preços que travam desde 06 de Março, com sauditas e russos a inundarem os mercados de crude barato depois de um desentendimento sobre o volume de cortes na produção, estão disponíveis para embainhar as espadas e avançar rumo a um corte que pode ir até aos 15 milhões de barris por dia (mbpd).
Mas, como em tudo, também no especioso mundo do petróleo, há sempre um mas, e este é simples de entender: 15 mbpd é o mínimo a cortar que pode ter impacto nos mercados, mas russos e sauditas não o podem fazer sozinhos, porque se trata quase de metade da sua produção conjunta.
E juntar pequenas parcelas de produtores mais pequenos, como Iraque, Nigéria ou Angola, pouco adianta, mas... mas o que resolve mesmo é Donald Trump anunciar que os EUA se vão juntar a esse esforço para reequilibrar o valor da matéria-prima, que voltou a cair num verdadeiro pântano, na casa dos 20 USD, embora nos últimos dias tenha subido acima dos 30, como o atesta o valor de hoje em Londres, com o Brent a valer 33,94, USD, mais 3,35% que na quarta-feira, devido à expectativa de que a reunião de hoje, seja frutuosa.
Trump, recorde-se, surpreendeu meio mundo há cerca de uma semana ao anunciar que tinha convencido sauditas e russos a retirar entre 10 a 15 mbpd de circulação, o que ambos negaram de imediato, porque, como chegou a ser avançado por algumas fontes citadas pelas agências, faltou acrescentar que também os EUA participariam nesse esforço.
E se hoje, durante o encontro da OPEP+, que é a organização que agrega os membros da OPEP mais a Rússia e um grupo de 10 produtores independentes, com, entre estes, México e Cazaquistão, mas onde, de facto, o que interessa é saber se Moscovo e Riade obtêm ou não o contributo, que seria histórico, dos EUA. O que, até às 10:00 de hoje, ainda não tinha sido noticiado como tendo sido conseguido.
Ou seja, Trump só está a procurar uma solução porque a indústria de fracking, ou petróleo de xisto, dos EUA, que consiste em explodir este tipo de rocha no subsolo para dela extrair crude e gás, está à beira do colapso devido ao seu elevado breakeven, à volta dos 60 a 70 UD por barril, totalmente insustentável face aos preços actuais, e que é uma das bases de apoio financeiro da campanha do actual Presidente e candidato às presidenciais de Novembro, onde vai tentar a reeleição.
O problema, é, porém, mais complexo do que parece, porque, se a indústria petrolífera russa e saudita são detidas pelos respectivos estados, na maior parte, nos EUA, esta é detida quase em exclusivo por privados, e serão estes a serem chamados para cortar produção no caso de um acordo tripartido: EUA-Rússia-Arábia Saudita.
Os efeitos de um "sim" de Trump, no imediato serão positivos no interesse dos produtores, com Angola na linha da frente dos grandes interessados em que isso aconteça, devido à severa crise económica que o país atravessa, mas ainda ninguém pode afirmar com segurança que serão suficientes, porque a crise provocada pela pandemia da Covid-19 esmifrou quase 25 mbpd, ou 30%, à procura mundial pela matéria-prima e um corte de 15 milhões ainda deixaria activo um excesso de oferta.
No entanto, o contrário, uma ausência de acordo, é certo e seguro que seria trágico e faria o barril deslizar para valores impensáveis, com as grandes casas financeiras planetárias a admitir um valor abaixo dos 10 USD por barril, o que, ainda assim, seria "alto" quando comparado com o i USD ou mesmo 0,50 USD por barril, como é admitido por alguns investidores que estão a apostar no desmoronamento total do sector petrolífero.
O que não deixa de fazer algum sentido, porque, por exemplo, o Brent, apesar de estar a valer hoje 33 USD, o denominado " daily basquet" da OPEP, que junta um conjunto alargado de ramas, vale hoje apenas 21,19 USD por barril, e o petróleo de argila do Canadá está a ser transaccionado a menos de 7 (sete) USD.
Face a este cenário, vai ou não Trump anunciar que os EUA se juntam aos esforço de corte de russos e sauditas? Da resposta a esta pergunta, vai depender o alívio de países produtores, mergulhados em crises gigantescas, como Angola ou a Nigéria, ou o aprofundar do sufoco em que se encontram, com consequências difíceis de imaginar.
Um resultado do encontro da OPEP+ de hoje só deverá ser conhecido ao final do dia.