Apesar de serem ainda muitas as dúvidas no horizonte, como a evolução da pandemia, agora sujeita aos caprichos da nova variante, a Ómicron, que já domina o mundo devido à sua extrema rapidez de propagação, embora muito menos grave que a anterior, a Delta, tendo levado a novas restrições na mobilidade, com impacto na economia e, logo, no consumo de energia, a OPEP+, se as previsões dos analistas baterem certo, vai, hoje, manter para Fevereiro um aumento de 400 mil barris por dia à sua produção diária.

Se assim acontecer, o "cartel" estará a confrontar as grandes potências económicas, como os EUA, a Europa ou o Japão, sem esquecer a Índia, que há muito acusam sauditas e russos de estarem a manipular artificialmente os preços em alta, restringindo a produção e, assim, atrasando o ritmo da recuperação da economia mundial neste quase, quase sair da crise pandémica permitido pelas massivas campanhas de vacinação nos países mais ricos do Hemisfério Norte.

Por exemplo, se os mercados, como quase sempre sucede, mantiverem a capacidade quase extra-sensorial de antecipar as decisões dos "donos" do crude mundial - na verdade, é apenas pouco menos de 50%, mas que permite exercer ou aliviar a pressão no negócio global do petróleo -, então a OPEP+ vai manter o ritmo de aumento na produção de 400 mil barris por dia mensalmente, em Fevereiro, e, possivelmente, até ao fim do primeiro semestre, tal como vinha sucedendo desde Julho de 2021.

Para já, hoje, os principais mercados, o Brent, que serve de referência para o valor médio das exportações angolanas, e o WTI, que marca o ritmo do consumo nos EUA, a maior economia global e o maior consumidor planetário, estavam a "adivinhar" que assim vai ser, reflectindo isso no aumento do valor do barril em 0,77%, para os 79.59 USD, para contratos de Fevereiro, cerca das 11:30, hora de Luanda, enquanto o WTI, nos contratos para Janeiro, valoriza 0,87%, para os 76,74 USD por barril.

Por detrás deste cenário, optimista, na perspectiva de países com economias mais dependentes das exportações de hidrocarbonetos, como é o caso de Angola, está o controlo apertado na produção do cartel e alguns indicadores que apontam para uma paulatina mas sólida recuperação da economia, que chegou a ser efusiva no último trimestre do ano passado.

Essa efusividade foi travada pelo "tempero" da Ómicron inserido na forte recuperação sentida entre Outubro e Novembro de 2021, quando se pensava que o Sars CoV-2 estava, definitivamente, vencido. Foi como que um estalo na cara que fez acordar o mundo para o facto incontornável de que a pandemia ainda por cá anda... e deverá andar.

E com tamanho poder em mãos, desde que Moscovo e Riade mantenham o azimute no controlo dos preços em alta, dificilmente o petróleo sucumbira com estrondo nos próximos, largos, meses, podendo mesmo, como têm antecipado alguns dos organismos mais conhecedores dos mercados, como a Goldman Sachs, chegar rapidamente aos 100 USD se, eventualmente, a pandemia for debelada completamente.

Mas esse cenário tende a ser excessivamente optimista porque o mundo vive uma situação em que o combate ao novo coronavírus avança a duas velocidades, com uma auto-estrada feita de vacinas e medicamentos no mundo mais rico e desenvolvido, e por caminhos de cabras, no mundo mais pobre e subdesenvolvido, como é o caso de África, onde a média das taxas de vacinação completa é a mais baixa do planeta... de longe.

E com este contexto mundial, dificilmente a pandemia deixará de assombrar os mercados e restringir a recuperação da economia global, logo, limitando a valorização do sector energético, que depende em grande medida de uma mobilidade liberalizada, até porque os transportes aéreos e marítimos são responsáveis pelo consumo de 20% do crude em todo o mundo, que, em média, com a pandemia chega aos 95 milhões de barris por dia (chegou aos 88 milhões no início de 2020), mas que antes da pandemia ultrapassava os 100 milhões.

Mas entre os analistas há ainda um outro elemento que pode influenciar o curso da história dos mercados, que é o agravamento das tensões entre a Rússia e a Ucrânia, na Europa, ou a questão no Indo-Pacífico, onde a China e os EUA mantêm uma situação de perigo iminente devido à procura de ganhos de influência global, sem esquecer o ponto focal que é, ainda e sempre, Taiwan.

O que vier a ser anunciado hoje pela OPEP+ é essencial para Angola, que vive desde 2014 uma severa crise económica, devido à baixa abrupta do alor da matéria-prima, fortemente agravada pela Covid-19 a partir de 2020.

Isto, porque o crude ainda vale mais de 40% do PIB, é responsável por 95% das exportações nacionais e de perto de 60% do total das despesas de funcionamento do Executivo de João Lourenço.