No Médio Oriente impera a volatilidade e a incerteza do que vai fazer o Irão... se ataca ou espera para ver o que Israel pode oferecer para apaziguar a sede de vingança no país dos aiatolas, mas, nem sempre é o mexilhão que sofre com as batidas no mar na rocha, por vezes é também o negócio do petróleo.
À medida que os porta-aviões norte-americanos se movimentam nas águas do Mediterrâneo Oriental, as ondas que geram chegam às costas de Gaza e do Irão quase ao mesmo tempo, para mostrar como o conflito na Palestina pode influenciar os ânimos no país do Golfo Pérsico.
E se os gráficos do Brent, que é a referência que interessa para as exportações angolanas, estão, nos últimos dias, ligeiramente acima dos 80 USD, numa posição de espera, não de caçador mas de presa, esta quinta-feira, 15, pode decidir se se põe a correr ou se esconde.
Isto, porque o Qatar volta hoje a ser palco de uma ronda negocial para um cessar-fogo em Gaza, as primeiras desde que Israel arruinou tudo o que tinha sido feito em largos meses ao assassinar Ismail Haniyeh, o líder do Hamas, a 31 de Julho, em Teerão, capital do Irão.
E o que suceder em Doha vai definir em larga medida o que vai ser o "volume" da retaliação iraniana pela ousadia israelita de ter ido à sua capital matar um ilustre hospede que ali estava para presenciar a cerimónia de posse do seu novo Presidente, Masou Pezeshkian.
Se, apesar de o Hamas não se ter feito presente, mas está representado pelo Qatar e pelo Egipto, Israel e os EUA alinharem numa versão do mapa da estrada para chegar à paz que agrade aos palestinianos, então o Irão poderá engolir um sapo e abdicar do ataque a Israel.
Isto, porque uma cedência, com garantias à prova de fogo, de Israel for severa, então o Irão sentir-se-á apaziguado.
E isso, porque a cedência israelita seria um forte castigo para o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau, que não sobreviverá politicamente devido ao intrincado novelo de compromissos com os partidos radicais da sua coligação, se aceitar um cessar-fogo com o Hamas.
É por tudo isto que o barril de crude se aguenta nos 80 USD, estando esta quinta-feira, 15, perto das 15:00, hora de Luanda, nos 80,87 USD, +1.37% que na sessão anterior, mas com uma perspectiva de forte valorização se as chamas chegarem ao barril de pólvora do Médio Oriente.
Sendo igualmente verdade que as perdas serão igualmente abrasivas, pelo menos para as petroeconomias dependentes das exportações para equilibrar as suas contas públicas, como é o caso de Angola, se tudo acabar com um aperto de mão sólido em Doha, Qatar.
Enquanto isso, da economia global, chegam más notícias da China, com menos procura, boas notícias dos EUA, sempre na perspectiva das contas angolanas, com uma queda inesperada no volume das suas reservas, e com a Reserva Federal a prometer cortes nas taxas de juro...
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, a instabilidade actual no Médio Oriente e os dados melhorzinhos da economia norte-americana podem ser mesmo um alívio para as suas apertadas contas públicas.
Mas, para já, ter o Brent nos 80 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.