O motivo que levou a este rubor súbito logo no início da sessão nos mercados petrolíferos foi o anúncio pela Reserva Federal dos EUA que vai baixar as taxas de juro directoras em 0,5%, o que seria uma bênção para a economia do maior consumidor de petróleo do mundo se...

Se esta decisão da FED não tivesse por detrás um enorme susto provocado por dados assustadores para a maior economia do mundo, com destaque para os maus números do emprego, e ainda porque da China não chegam, ainda, nem bons ventos nem boas notícias.

A contrabalançar este movimento pendular e ritmado para o vermelho, surge uma nova frente de fogo no Médio Oriente (ver aqui) com um aumento abrupto das possibilidades de um confronto generalizado entre Israel e o Irão, com lastro profundo nos vizinhos Síria, Líbano, Iraque e Iémen, pelo menos.

Este recrudescer dos riscos no Médio Oriente é relevante porque esta região é ainda responsável por cerca de 35% de todo o petróleo consumido no mundo e uma guerra aberta conduziria de imediato ao fecho dos estreitos de Ormuz (Golfo Pérsico) e de Bab al-Mandab (Mar Vermelho/Canal do Suez), por onde circula o grosso da produção diária da matéria-prima.

Mas, para já, o anúncio do Outlook da FED para o médio prazo no que diz respeito às taxas de juro directoras parece estar a levar vantagem sobre o que se passa no Médio Oriente no impacto visível nos mercados, com uma subida de quase 1% até meio do dia desta quinta-feira, 19.

Com este cenário em pano de fundo, o barril de Brent, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava, perto das 15:00, hora de Luanda, a valer 74.36 USD, +1.13% que no fecho anterior, dando um vigor ao negócio fundamental para Angola seguramente bem vindo em Luanda face à grave crise económica e cambial que o país atravessa.

E com o bravio cenário no Médio Oriente, esta subida tende a ser ainda mais agressiva nas próximas horas, antecipando um final de semana verdadeiramente quentinho...

... para as contas de Angola

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário na meteorologia do crude não é augúrio de tempos fáceis.

Mas, para já, ter o Brent nos 74 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, acresce substancialmente a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária, apesar de algumas oscilações recentes em alta.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores alimental algum optimismo para as contas nacionais.

Mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro de 2023 anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 94% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.