A guerra na Ucrânia não mostra sinais de abrandar, o que permite "adivinhar" que as sanções da União Europeia contra a Rússia terão em breve o seu 10º pacote, depois do 9º, onde está a imposição de um preço máximo de 60 USD para o barril de crude russo, ter sido efectivado já neste Dezembro, o que levou o Kremlin a anunciar uma redução da produção russa e a anunciar que os países hostis, ou seja, os que acatam ou geraram este "castigo" vão ver as torneiras fechar em breve para a energia Made in Russia.
Também a subida das taxas de juro entre as principais economias do globo parecem estar para durar, desde logo na União Europeia e nos Estados Unidos da América, porque essa é a ferramenta de eleição dos respectivos bancos centrais para combater a inflação histórica e a recessão global que FMI e Banco Mundial, além das grandes casas financeiras internacionais, consideram inevitável para 2023.
E as sucessivas reuniões mensais da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a sua versão alargada, que junta a Rússia e outros exportadores desde 2017, a OPEP Mais, não escondem a férrea condição de disponibilidade permanente para o "cartel" reduzir a produção sempre que os preços nos mercados internacionais se insurgem em baixa.
Estas três "pedras" inamovíveis no caminho do crude não estão sozinhas, porque há surpresas a cada virar da esquina, como aquela que por estes dias é responsável por uma subida de quase três dólares no barril, tanto em Londres, onde é negociado o Brent, a referência principal para as exportações angolanas, e no WTI, em Nova Iorque, que mede o pulso à economia norte-americana, a maior do mundo, que é a sucessão de tempestades de Inverno nos EUA.
Apesar de ter, inicialmente, contribuído para uma baixa devido ao cancelamento de milhares de voos e deslocações rodoviárias nesta Época natalícia, os nevões e ventos de grande intensidade estão agora a contribuir para a valorização da matéria-prima ao obrigar à suspensão temporária de dezenas de unidades de extracção on shore e plataformas off shore das multinacionais do petróleo no Texas e no Gofo do México.
Segundo as agências de notícias, pelo menos 250 milhões de pessoas nos EUA e no Canadá foram afectadas por esta frente fria gigantesca que atinge a América do Norte neste final de ano, o que tem consequências imediatas no consumo de combustíveis, resultando, normalmente, em quebras nos mercados, embora neste caso o encerramento de plataformas no Texas e no Golfo do México estejam a anular esse efeito.
E é assim que esta segunda-feira, 26 de Dezembro, o barril de Brent, nos contratos para Fevereiro, estava a valer, perto das 10:30, hora de Luanda, 83,94 USD, uma subida expressiva de 3,65% face a sexta-feira, 23, e no WTI, o barril valia, à mesma hora, 79,56 USD, mais 2,67%.
Para os próximos dias é expectável que novas subidas com impacto global possam acontecer, até porque as principais "vítimas" são as economias ocidentais, sabendo-se como se sabe que a China, o maior importador do mundo, e a Índia, outro dos gigantes mundiais do consumo, estarem relativamente livres das subidas nos mercados por estarem há meses largos a comprar energia russa, tanto petróleo como gás, com grandes descontos.
E é por isso que o "cartel" da OPEP e da Rússia, com liderança pouco inclinada para agradar aos EUA e aos europeus, deverá sentir-me menos pressionado a aumentar a produção e, com isso, baixar o preço médio do barril, sendo que a guerra na Ucrânia é um elemento-chave para permitir justificar a opção de manter os mercados em equilíbrio alto por parte de sauditas e russos, que são quem, de facto, lideram este grupo responsável por mais de 50% de todo o crude extraído diariamente em todo o mundo, a rondar os 100 milhões de barris.
O último impulso, na sexta-feira passada, e que ainda hoje está em "vigor", em alta veio do vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, quando divulgou que Moscovo deve reduzir a produção de petróleo em 2023, estando em coma da mesa a possibilidade de essa redução poder chegar aos 7%, sendo que não será inferior aos 5%.
A este corte, somam-se os quase 18% que se estima que as sanções do G7 e da União Europeia, desde logo o embargo em vários países ao crude e ao gás russos, e o preço limite nos 60 USD, estejam já a retirar dos mercados, podeno agravar-se em breve, quando também os combustíveis refinados forem englobados nas proibições de importação pelos países ocidentais.
Para Angola, com o crude a ser a luz que mantém acesa à esperança de sucesso no combate à crise económica severa que o país atravessa desde praticamente 2016, porque ainda é responsável por 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e até 60% das suas receitas fiscais.
Estas são boas notícias para o Governo de João Lourenço encarar 2023 com optimismo, embora os riscos sejam conhecidos, desde logo as variações próprios dos mercados e dos seus humores de alta sensibilidade, mas também a questão da continuada baixa da produção nacional, que está actualmente ligeiramente acima do 1 milhão de barris por dia, quase metade do máximo histórico atingido em 2009, a bater nos 1,9 mbpd.
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O crude parece estar a dizer ao mundo que em 2023 não vale a pena esperar por saldos nos mercados internacionais, porque todos os factores que mantêm o barril em alta estão para durar, havendo mesmo algumas surpresas ao virar das muitas esquinas do ano que está a chegar.