Com este valor no gráfico do Brent londrino, o barril de petróleo, cuja tendência, segundo vários analistas, é de baixa acentuada para os próximos dias, está já a apenas 3 USD do valor definido pelas autoridades angolanas para a elaboração do Orçamento Geral do Estado para 2020 - 55 USD -, o que, a continuar assim, poderá, mais cedo ou mais tarde, exigir do Governo de João Lourenço uma revisão do OGE.
Por detrás deste descalabro do valor do crude, situação que surge de forma distinta dos episódios mais recentes que levaram a uma situação semelhante, com um impacto negativo mais robusto e prolongado que, por exemplo, a morte do general iraniano Qassem Soleimani, a 02 de Janeiro, ou ainda os ataques à indústria petrolífera saudita, em Setembro do ano passado, está o pânico que varre a China, com mais de 30 milhões de pessoas em várias cidades obrigadas a ficarem em casa, com uma diminuição dramática nas deslocações de e para a China, com uma quebra nas exportações e importações de bens alimentares...
O gigante asiático está em mãos com uma severa crise de saúde pública depois de em Dezembro último ter sido noticiado o aparecimento de mais um vírus, do tipo coronavírus, na 3ª maior cidade chinesa, Wuhan, com 11 milhões de habitantes, que, entretanto começou a sua acelerado dispersão por várias cidades chinesas e por vários países, desde os EUA à Austrália, da Tailândia à França, da Coreia do Sul à Costa do Marfim, onde uma mulher está a ser testada e se for confirmado, este pode ser o momento zero da entrada do vírus em África.
Face ao impacto gigante desta crise de saúde pública na China, que está a resvalar para uma das mais graves súbitas crises económicas no gigante asiático em quase duas décadas, e com o barril de petróleo a ressentir-se dos seus efeitos, a Arábia Saudita, através do seu ministro da Energia, Abdulaziz bin Salman Al-Saud, já veio procurar colocar água na fervura com uma questão de crença no sucesso das autoridades sanitárias chinesas para conter este coronavírus.
Os coronavírus têm como particularidade afectar o sistema respiratório com maior ênfase, podendo, em alguns casos, ser vectores de gigantescas pandemias, como foi o caso do SARS, em 2002, com origem também na China, ou a MERS, em 2012, que surgiu no Médio Oriente. Este vírus de Wuhan já matou mais de 80 pessoas e mais de 3.000 casos estão confirmados.
E o pior é que este vírus se torna mais letal a cada dia que passa por causa da sua capacidade de mutação e porque tem capacidade de contaminar durante o período de incubação, sem existência de sintomas, o que faz deste um vírus muito diferente dos que geraram as pandemias anteriores, como a SARS ou MERS.
Bin Salman afirmou, ainda, que a OPEP está a monitorizar a situação, tendo defendido que os mercados estão a reagir de forma muito sensível a "factores psicológicos", sublinhando que, "efectivamente este vírus tem um impacto muito limitado na procura global por crude" apesar de os mercados estarem a reagir com "expectativas negativas".
O governante saudita lembrou, a esse propósito, que também em 2002, com a epidemia de SARS - semelhante a esta - os mercados terem reagido da mesma forma mas que, depois, se veio a confirmar que não tinha havido um impacto substancial na procura global", garantindo que a OPEP e a OPEP+ (OPEP+Rússia) têm capacidade de reagir para reequilibrar os mercados.
Por exemplo, o Brent de Londres, que define o valor médio das exportações angolanas, está hoje a perder quase 3 %, perda que já não era registada em tão pouco tempo desde Setembro do ano passado e em 2019 só duas vezes esteve tão baixo.
Por exemplo, a Goldman Sachs, uma das mais influentes casas financeiras do mundo, admite que a quebra na procuta de petróleo mundial pode chegar aos 260 mil barris por dia, com uma quebra superior aos 3 USD por barril, valores que já foram ultrapassados, apesar do pessimismo da nota da Goldman aos mercados.