No relatório hoje tornado público, a cerca de uma semana do começo do encontro de Davos, nos alpes suíços, onde a elite financeira mundial se reúne anualmente para avaliar o estado da economia planetária, é ainda sublinhado que o mundo vai experienciar dificuldades a partir do previsível colapso parcial dos sistemas globais ou locais de abastecimento energéticos e alimentares, que, em agregado ao aumento do custo de vida e desemprego tem tudo para gerar instabilidade social no mundo.

Estes alertas que o FEM já lança há 17 anos têm como objectivo chamar a atenção para as interconexões da economia mundial e a sua preponderância nos riscos de expansão planetária que resultam de conflitos, tensões geo-económicas ou outros, procurado antecipar o seu surgimento de forma a criar mecanismos de resposta mais adequados.

O documento enviado ao Novo Jornal sublinha o facto de os potenciais riscos actuais terem um impacto fortemente negativo, desde logo os que têm o seu húmus na guerra da Ucrânia, em prioridades para a Humanidade.

Nesse âmbito, os autores do relatório destacam o combate às alterações climáticas e a transição energética, a única via que ainda pode reduzir o processo galopante de degenerescência ambiental que o mundo vive por estes dias e que parece estar a ser esquecido pelos lideres das grandes potenciais enquanto os povos dos países mais frágeis, como os africanos, sofrem a maior parte das consequências.

Mas também chamam a atenção para a redução dos esforços nacionais para inverter o défice de investimento no capital humano que resultam de fenómenos sérios como a pandemia ou a guerra no leste europeu, que deram asas à inflação gigantesca que ameaça as maiores economias do mundo com uma recessão, já certa na Alemanha e quase nos EUA, por exemplo, além da crise energética, alimentar e de segurança.

E é feita uma chamada de atenção ruidosa para o facto de a janela de oportunidade para a acção na resposta a estes graves desafios de longo-termo que a Humanidade enfrenta, estar a fechar-se rapidamente, exigindo-se uma resposta conjunta urgente antes que se chegue a um ponto de não retorno, que nunca este tão próximo como nos dias de hoje.

Estes recados não devem ser vistos com ligeireza, não só porque corroboram quase tudo o que tem vindo a ser dito por diversas organizações internacionais, incluindo a ONU, mas também porque o seu conteúdo, elaborado numa parceria entre a Marsh McLennan e o Zurich Insurance Group, envolveu a audição de 1.200 especialistas em risco globa, políticos e homens de negócios.

Pode ainda ser interpretado a partir deste documento uma chamada de atenção para o facto de, também ao nível dos Governos, existirem ameaças sérias à estabilidade social e à segurança no rasto das crescentes dificuldades de sobrevivência com o aumento do custo de vida e às rupturas nas cadeias de abastecimento.

Fica um aviso claro "Ou o mundo começa a cooperar de forma mais eficaz na resposta aos desafios climáticos nos próximos 10 anos ou a inércia conduzirá ao colapso ecológico e à aceleração letal do aquecimento global".

Em síntese feita pela directora-geral do FEM, Saadia Zahidi, o desenvolvimento ambiental e humano "tem de estar no centro das atenções dos lideres mundiais para acrescentar resiliência contra os futuros e esperados choques", que vão da eminente catástrofe ambiental, aos tumultuosos tempos na economia mundial ao virar da esquina, passando pelo potencial de deflagração de conflitos que é crescente, entre outros.