Depois de perdas na ordem dos 3 mil milhões USD em 2020, Sebastião Gaspar, citado pela Bloomberg, vem agora apontar para um final de 2021 substancialmente diferente e com lucros, conseguindo esse feito não só por causa do preço do barril, que está actualmente à beira dos 80 USD, mas ainda porque a estratégia passa por uma redução dos gastos e a maximização das margens de lucro.

Esta perspectiva optimista de Gaspar Martins é ainda suportada, explica o próprio à Bloomberg, com esforços importantes no reforço da produção nacional de crude.

Para isso, o chefe da Sonangol quer manter a produção acima dos 1,1 milhôes de barris por dia (mbpd) quando, segundo os últimos dados, está actualmente abaixo dessa fasquia, muito perto dos 1,056 mbpd, consubstanciando isto, a confirmar-se, uma reversão do declínio sentido especialmente a partir de 2014, quando o barril escorregou para baixo dos 100 USD e, com isso, o investimento caiu dramaticamente no off shore angolano.

A crise da Covid-19 reforçou esse impacto negativo, especialmente na área da pesquisa e na manutenção da infra-estrutura produtiva.

Neste conjunto de respostas a perguntas dos jornalistas Cândido Mendes e Henrique Almeida, da Bloomberg, o PCA da Sonangol explica ainda que a petrolífera nacional pretende completar o programa de reestruturação em curso bem como a venda dos activos prevista.

Com isso, Gaspar Martins almeja enquadrar a empresa dentro dos requisitos internacionais financeiros e eliminar quaisquer possibilidades de os auditores possam encontrar antes da venda de 30% através de uma Emissão Pública Inicial (IPE).

Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB, este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.

A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,1 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento / envelhecimento dos campos mais activos.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.

Para já, com o barril quase nos 79 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de quase 41 USD em cima dos 38 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.

Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".