A fronteira de Raffah, entre o sul de Gaza e o norte do Egipto, é agora a linha que separa a esperança da tragédia que se abateu sobre este território, com pouco mais de 360 kms2 e 40 de extensão por nove de largura, desde que os militantes armados do Hamas invadiram o sul de Israel deixando um rasto de destruição e morte (ver links em baixo nesta página) como nunca tinha sucedido em décadas de conflito na Palestina.

Uma das dúvidas, boas dúvidas, que estão a encher as páginas dos jornais de todo o mundo esta quinta-feira, 19, é a dúvida sobre aquele que até aqui estava a ser apontado como uma das maiores tragédias deste conflito, que foi o ataque ao Hospital Baptista al-Alhi, onde todos os media assumiram como certa a morte de cerca de 500 pessoas, num ataque ocorrido na noite de 17 de Outubro, mas que, agora, fontes citadas pela AFP apontam para muito menos vítimas, provavelmente menos de 50.

Estes dados agora revelados, com a agência de notícias francesa a citar fontes palestinianas, encaixam com algumas leituras feitas após terem sido conhecidas imagens do local da explosão, onde não é visível qualquer cratera no parque de estacionamento atingido na área da unidade de saúde e não directamente nas alas de acolhimento de doentes, embora dezenas de carros apareçam carbonizados e tenham sido filmados diversos corpos nas imediações.

A autoria deste ataque continua a ser empurrada de israelitas para palestinianos e de palestinianos para israelitas, sendo que a única certeza assumida pela generalidade dos analistas é que se tratou de um erro de cálculo ou de mau funcionamento da arma usada, que ainda não foi determinado qual foi.

Entretanto, sem que os bombardeamentos israelitas tenham cessado, e os hospitais de Gaza se mantenham assoberbados com milhares de feridos que ali chegam diariamente, a esperança renasce a sul, em Raffah, onde dezenas de camiões com ajuda humanitária se preparam para avançar.

Porque, de acordo com as agências da ONO no terreno, Gaza estava a consumir os últimos alimentos e a gastar as derradeiras latas de combustível para os geradores dos hospitais, que se foram acabando desde que Telavive montou um cerrado bloqueio, cortando ao mesmo tempo a água e a electricidade.

Uma das questões que esta situação gerou é o porquê de, sendo a fronteira de Raffah, exclusiva entre o Egipto e Gaza, por ela não estão a entrar os bens básicos para Gaza? E isso é porque desde 1967 que Israel tem uma palavra a dizer sobre este posto fronteiriço, devido a um acordo feito após o fim da guerra Israelo-árabe, que os israelitas venceram de forma inapelável.

Para já, sendo outra boa notícia no meio deste caos de sofrimento e morte, é que a temida invasão terrestre da gigantesca máquina de guerra erguida na fronteira norte de Gaza com Israel, com milhares de blindados a rugir por vingança, parece estar definitivamente posta de lado, e isso, tal como o avanço da ajuda humanitária, ser resultado da visita do Presidente norte-americano, Joe Biden, que, em tempo de pré-campanha, precisa evitar a todo o custo um alastramento do conflito para o imenso barril de pólvora (petróleo) que é o Médio Oriente.

Os camiões carregados de bens de necessidade urgente em Gaza poderão começar a rolar ainda esta quinta-feira, 19, mas Israel já avisou que se alguns desses mantimentos ou medicamentos chegarem às mãos dos "terroristas" do Hamas, a fronteira volta a ser fechada de imediato.

Ora, esta é uma questão de grande melindre, porque o Hamas é também um momento social de presença transversal em Gaza, com, além da sua ala militar, as Brigadas Al Qassam, e a dimensão política, que governa o território deste 2007 depois de ganhar as eleições, tem ainda um braço social indelével porque são as suas infra-estruturas que distribuem a generalidade da ajuda humanitária aos mais de 2.3 milhões de habitantes.

A alternativa serão as instalações da ONU, que terá a responsabilidade de supervisionar as entregas, que tem igualmente várias escolas e áreas de distribuição de alimentos, mas com poucos pontos e, provavelmente, insuficientes para as necessidades.

Aparentemente, a entrada dos camiões, centenas aguardam autorização para avançarem, está a ser atrasada pela necessidade de arranjar as estradas que ligam a fronteira ao resto do território, que foram quase totalmente destruídas pelos bombardeamentos israelitas nestes dias.

Até ao momento já morreram mais de 3.500 palestinianos, cerca de 1.200 crianças, e 10 mil foram feridos pelos bombardeamentos israelitas, e cerca de 1.400 israelitas foram abatidos pelos combatentes do Hamas, além de terem sido feitos mais de 2 mil feridos e um número em torno dos 200 reféns que foram levados para Gaza pelos "terroristas".

A probabilidade de na sexta-feira, 20, estas cifras sofrerem alterações é grande porque tradicionalmente, no mundo árabe, o dia semanal das orações é palco das maiores manifestações populares de protesto, tendo mesmo já sido convocada uma jornada global anti-israelita.