A "profunda preocupação" foi tornada pública pelo secretário-executivo da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), Workneh Gebeyehu, e resulta da reacção acalorada da Somália ao acordo assinado no início desta semana entre a Etiópia e a Somalilândia, a província secessionista somali, que prevê o acesso livre aos portos marítimos do Mar Vermelho por parte de Adis Abeba.

Logo depois de o Governo etíope e as autoridades da Somalilândia, cuja independência autoproclamada na década de 1990 não obteve qualquer reconhecimento internacional, terem assinado o melindroso acordo, o Governo de Mogadíscio torou pública a sua recusa sem margem para negociações deste acordo assinado à sua revelia, e contou de imediato com o apoio claro e inequívoco do Egipto.

Em termos práticos, este xadrez deixa em posições de confronto as duas grandes potências militares desta sub-região africana, a Etiópia, com mais de 110 mlhões de habitantes, e um dos maiores exércitos do continente, e o Egipto, que com os seus 100 milhões de habitantes, ostenta uma das maiores capacidades militares regionais de África.

Como se isso não bastasse, Adis Abeba e o Cairo estão igualmente, sendo que alguns analistas entendem ser essa a razão para o célere apoio egípcio à Somália, em lados opostos da barricada quanto aos impactos da Grande Barragem do Renascimento Etíope, no Rio Nilo Azul, devido ao risco de esta infra-estrutura reduzir o caudal do Rio Nilo, o curso de água vital para a subsistência de milhões de egípcios (ver links em baixo nesta página).

Face a este cenário, que pode resvalar para o regresso da guerra a estes países, como sucedeu entre 1997 e 1978, igualmente por causa de disputas territoriais (ver links em baixo nesta página), o director-executivo do IGAD mostrou-se "profundamente preocupado" com os recentes desenvolvimento da disputa entre os dois países e a região secessionista somali da Somalilândia.

O acordo, ou Memorando de Entendimento entre a Etiópia e a Somalilândia, que pressupõe o acesso etíope ao mar via Somalilândia, enquanto a Etiópia se compromete em reconhecer internacionalmente esta região como país independente e soberano, pode levar, de forma acelerada, à via militar para resolver esta disputa, o que seria uma potência tragédia de grande envergadura porquanto, como já deixou claro o Egipto, o envolvimento de outros países da região seria pouco mais que inevitável.

Para já, o IGAD, segundo este responsável, está a monitorizar a situação "de muito perto", reconhecendo o perigo de uma escalada descontrolada, apelando a um compromisso de ambos os países com uma solução negociada e com a recusa da violência para desenhar uma saída para este diferendo.

O IGAD, criado em 1986, é integrado por quatro países do Corno de África, Etiópia, Eritreia, Somali e Djibuti, dois do Vale do Nilo, Sudão e Sudão do Sul, e dois dos Grandes Lagos, o Quénia e o Uganda.

União Africana exige respeito pela integridade territorial da Somália

A União Africana reagiu esta semana ao crescendo de tensão entre a Etiópia e a Somalia através de um comunicado publicado na sua página oficial e assinado pelo seu presidente da Comissão executiva, Moussa Faki Mahamat, exigindo o respeito pela integridade territorial de todos os países do continente.

Moussa Faki Mahamat, sem se dirigir em específico a nenhum Estado-membro da União Africana, lembrou que a sua Carta exige o respeito pela integridade territorial total e de todos, o que, na prática, exige à Etiópia que não assine qualquer documento com uma região secessionista da Somália que não tem qualquer reconhecimento internacional.

Mas apelou, no mesmo documento, à calma e à serenidade das partes, e que se esforcem para reduzir as tensões de forma a que um qualquer evento inesperado possa levar a consequências mais graves.

E deixou como recado para todos os intervenientes um apelo à reflexão para o risco de que a estabilidade regional alargada poder estar em causa se as partes não optarem claramente pelo diálogo como ferramenta de trabalho para resolver o diferendo.