O Governo serra-leonês decretou um recolher obrigatório depois de um dia de violência generalizada na capital do país, contando-se, para já, oficialmente, pelo menos dois polícias mortos e dezenas de feridos entre os manifestantes.
O recolher obrigatório abrange todo o país para que as forças de segurança possam tentar reduzir os tumultos que, na quarta-feira, tiveram maior amplitude em Freetown e no norte da Serra Leoa, sendo uma das principais reivindicações dos milhares de jovens e mulheres, furiosos com o elevado custo de vida, é o afastamento do Presidente Julius Maada Bio, que governa o país desde 2018.
As autoridades de Freetown explicam a razão dos protestos populares com as consequências globais da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia, que levou a um acelerado aumento do custo de vida em todo o mundo, mas com especial incidência em África, desde logo nos alimentos da cesta básica e combustíveis.
Foram detidos centenas de manifestantes e as agências de notícias relatam que as forças de segurança dispararam munições reais contra os manifestantes desarmados ou empunhando apenas pedaços de madeira, ao mesmo tempo que exigiam a saíde Maada Bio, que foi apanhado de surpresa numa visita privada a Londres, Reino Unido.
Estes protestos foram preparados nas redes sociais onde desconhecidos incentivaram a saída à rua da população serra-leonesa para exigir a demissão de Maada Bio, que, alegam, é incapaz de interromper a escalada nos preços dos bens alimentares.
A Serra Leoa viveu, na década de 1990, uma das mais violentas guerras civis em África, numa tentativa de derrube do então Governo por uma frente revolucionária, em Março de 1991, tendo durado perto de 11 anos, com um registo de dezenas de milhares de mortos - ficaram para a história as imagens de crianças-soldado empunhando armas e muitas com as mãos amputadas num macabro ritual iniciado pelos múltiplos senhores da guerra - e mais de dois milhões viram-se obrigados a fugir para países vizinhos.