O Botsuana é o país africano que conseguiu consolidar as suas instituições democráticas há mais tempo, praticamente desde a sua independência, em 1966, o que se revelou a melhor aposta, como mostram os números relativos ao seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Mas a crise no sector diamantífero, que conta entre as actividades económicas mais relevantes deste país austral, com cerca de 40 % do seu PIB e 50% das receitas do Estado, além do turismo (30%) e da agricultura, e a seca prolongada, estão a atirar o Botsuana para dificuldades sociais que há muito não conhecia.
Como vão os eleitores escolher os seus representantes para o Parlamente neste cenário difícil é, como se pode apreender pela leitura dos analistas citados na imprensa de Gaborone, a grande questão à boca das urnas.
Isto, porque, no sistema eleitoral do Botsuana, o Presidente é eleito pelos deputados após se conhecer a composição definitiva da Assembleia Nacional, e as dificuldades geradas pela seca, que afecta tanto a agricultura como o turismo, e a ainda mais relevante perda de receitas do sector diamantífero, podem levar os eleitores a opções inesperadas.
A possibilidade de escolhas radicais não é, porém, esperada pelos analistas, porque, sendo a mais longa e ininterrupta democracia africana, e uma economia pujante há décadas, com um dos melhores sistemas de ensino público, o Botsuana tem um universo eleitoral informado e com cultura política pouco comum no continente.
Em todos os processos eleitorais desde a aprovação da Constituição, no day after à independência de 30 de Setembro de 1966, a norma é a transição pacífica de poder ou reconhecida pacificamente renovação de mandatos.
O que desta vez aparece como elemento inesperado é o crescimento do desemprego devido à crise nos diamantes, cujos preços têm vindo a cair nos mercados internacionais, como, de resto, em Angola também se está a sentir, e no turismo, por causa da seca que afecta o núcleo duro desta indústria, que é o extraordinário mundo selvagem, onde se destaca a população de elefantes que chega aos 300 mil, a maior do mundo.
As dificuldades sociais estão a ser aproveitadas pelas franjas mais radicais da política nacional do Botsuana para procura furar o tradicional mainstream que tem garantido os bons resultados no desenvolvimento humano e social do país que beneficia ainda de contra com uma população pequena, cerca de 2,5 milhões de habitantes, o que permite uma distribuição efectiva das riquezas geradas através dos mecanismos criados pelo Estado.
E isso é feito sob as atenções dos seus 69 deputados e perto de 600 eleitos locais nas 16 circunscrições, sendo que o histórico Partido Democrático do Botsuana (BPD, sigla em inglês)) tem sido sucessivamente a escolha popular desde 1969, tendo em 2019 mantido o poder com 38 dos 69 lugares no Parlamento.
Os inquéritos feitos apontam para que o BDP volte a ganhar as eleições, mas não é seguro, como notam alguns analistas, que o período pós-eleitoral volte a ser tão pacífico como tem sido década após década num dos mais conseguidos países do continente africano, como o mostra à evidência os seus índices de desenvolvimento, que, nalguns sectores se comparam com a média europeia.
Mokgweetsi Masisi, de 61 anos, um professor liceal e actual e 5º Presidente do Botsuana, ideologicamente à direita liberal, apoiado pelo seu partido, o BPD, procura esta quarta-feira, 30, renovar o seu mandato, o que deverá conseguir, apesar de o seu primeiro mandato ter ficado marcado pela perda de vigor da economia nacional e pela subida do desemprego.
Na disputa pelo cargo estão três fortes candidatos, de onde se destaca Duma Boko, de 54 anos, da esquerda socialista apoiado pela Coligação Mudança de Esquerda (UDC), que em 2019 conseguiu 36% dos votos, contra os 52% do BPD, apelando agora a uma mais interventiva acção do Estado na melhoria das condições sociais do povo.
Outro candidato com expectativas é Mephato Reatile, da Frente Patriótica do Botsuana (BPF), que conta com o apoio do antigo Presidente Seretse Khama, que se empenhou particularmente nesta campanha, aumentando claramente o potencial de votos agora, depois de em 2019 o BPF não ter ido além dos 4%.
O social-democrata Dumelang Saleshando, de 54 anos, suportado pelo Partido do Congresso do Botsuana (BCP), chega a estas eleições com os 15% conseguidos em 2019 na condição de candidato da UDC e com fortes expectativas de crescer em número de votos e de influência, igualmente alicerçado nas fortes críticas ao partido no poder pela degradação económica dos últimos anos.
Os resultados deverão ser conhecidos pouco depois do fecho das urnas.