A versão mais consensual que está a ser noticiada pelos media brasileiros para que este pedido de Jair Bolsonaro tenha surgido agora, visto que o seu silêncio nas primeiras 48 horas tinha claramente como objectivo dar lastro aos protestos, com o objectivo de obrigar a uma recontagem dos votos, é que os patrões da economia brasileira pressionaram o Presidente nesse sentido porque estes bloqueios estão a gerar fortes constrangimentos no tecido económico nacional.

Com uma derrota estrondosa, porque é o primeiro Presidente que perde uma recandidatura para um segundo mandato deste que tal é possível - década de 1990 -, Jair Bolsonaro conta, no entanto, com o facto de a vitória de Lula da Silva ter sido por uns escassos dois milhões de votos, em mais de 150 milhões de eleitores.

O que, em teoria, faz com que uma recontagem possa, se não mudar o resultado, torná-lo tão aproximado entre os dois candidatos que isso daria a Bolsonaro um poder negocial mais alargado para a transição e, especialmente, para que, depois da sua saída do poder, eventuais problemas judiciais sejam diluídos perante ameaças de eventual alargamento dos protestos às forças de segurança e às forças militarizadas estaduais.

O que é cada vez mais difícil de poder vir a acontecer depois de o Supremo Tribunal Eleitoral (STE) ter anunciado oficialmente os resultados e depois de a esmagadora maior parte dos lideres mundiais terem felicitado Lula pela vitória considerado as eleições livres e justas, como foi o caso, por exemplo, do Presidente dos EUA, Joe Biden, uma espécie de "farol" para concluir processos eleitorais em países subdesenvolvidos ou com democracias fragilizadas.

O argumento de Bolsonaro para pedir o deslocamento dos protestos das vias rodoviárias, que estão ainda a bloquear os acessos às grandes cidades, é que quem está na rua a manifestar a sua indignação não pode perder a "legitimidade" para os protestos que são. No seu entender, claramente justificvados.

A legitimidade de que fala Bolsonaro está a ser diluída com situações em que, por exemplo, os aeroportos de São Paulo e do Rio de Janeiro estiveram largas horas com problemas que levaram ao cancelamento de dezenas de voos, os mercados não estão a ser abastecidos e milhares de pessoas não estavam a conseguir chegar aos seus locais de trabalho, levando muitos a perguntar se os apoiantes de Bolsonaro são todos patrões e não têm de ir trabalhar?

Jair Bolsonaro pediu, num vídeo divulgado esta quarta-feira nas redes sociais, dirigido aos aos seus apoiantes, onde lhes pede que "desobstruam as rodovias" porque "isso não faz parte das manifestações legitimas".

O ainda Presidente do Brasil acrescentou que bloquear rodovias "prejudica o direito de ir e vir das pessoas" que é garantido pela Constituição.

"E nós sempre estivemos dentro dessas quatro linhas constitucionais. Eu tenho que respeitar o direito de outras pessoas que estão se movimentando, além de tudo isto gerar grandes prejuízos à economia", disse ainda.

Porém, e apesar deste apelo, 25 dos 27 estados do Brasil estão ainda, hoje, 03, a viver momentos de fúria por parte dos apoiantes de Jair Bolsonaro, com cortes de estradas, mantendo este o silêncio para com Lula da Silva, o Presidente-eleito do Brasil que a 01 de Janeiro vai tomar posse do lugar que deixou há 12 anos e ainda não recebeu a chamada "democrática" do derrotado.