O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, apelou na ocasião aos líderes do G20 para agirem em conjunto para encontrar soluções sustentáveis capazes de erradicar a fome globalmente, que classificou como "a mais degradante das privações humanas".
O ministro das Finanças brasileiro, Fernando Haddad, disse nesse mesmo momento, na quarta-feira, 24, que é necessário um aumento significativo de recursos para que os países cumpram o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com o qual se comprometeram a erradicar a fome até 2030, bem como buscar fontes inovadoras para financiar esses projetos.
"Outra forma de mobilizar recursos para o combate à fome e à pobreza é fazer com que os super-ricos paguem sua justa contribuição em impostos. Ao redor do mundo, os super-ricos usam uma série de artifícios para evadir os sistemas tributários. Isso faz com que, no topo da pirâmide, os sistemas sejam regressivos, e não progressivos", frisou o ministro no seu discurso no G20.
Os documentos constitutivos da Aliança, uma iniciativa proposta por Lula da Silva e aberta a todos os países, foram aprovados por aclamação hoje na reunião ministerial do fórum que reúne as maiores economias do mundo, pelo que a partir de agora qualquer país interessado em participar pode aderir.
A Aliança começará a funcionar oficialmente, com os seus membros fundadores e os seus diferentes projetos, na Cimeira do G20 que se realizará em novembro no Rio de Janeiro, quando terminar a presidência temporária do fórum, atualmente exercida pelo Brasil.
De acordo com os seus criadores, a ideia é que cada país elabore o seu próprio plano e defina os seus objetivos para combater a fome e a pobreza, e que a Aliança o ajude a alcançá-los, tanto financeiramente como em termos de experiência e tecnologia.
Em relação à possibilidade de um imposto sobre os super-ricos, essa discussão acontecerá a partir de quinta-feira, também no Rio de Janeiro, durante a reunião de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais do G20.
"A mais degradante das privações"
Lula da Silva quer ver os líderes do G20 a agirem em conjunto para encontrar soluções sustentáveis capazes de erradicar a fome globalmente, porque é "a mais degradante das privações humanas".
"A fome é a mais degradante das privações humanas. É um atentado à vida, uma agressão à liberdade", disse Lula da Silva numa reunião do G20, onde apresentou a Aliança Global contra a Fome a Pobreza, proposta do Brasil, que lidera o grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia.
Logo no início do seu discurso, Lula da Silva afirmou que o projeto de uma Aliança Global contra a fome e a pobreza é um dos pontos altos do seu terceiro mandado.
"Participar dessa reunião ministerial que lança as bases para a Aliança contra a Fome e a Pobreza, é um dos momentos mais relevantes dos 18 meses deste meu terceiro mandato. Neste espaço tão simbólico -- o Galpão da Cidadania -- damos um passo decisivo para recolocar esse tema de uma vez por todas no centro da agenda internacional", disse o Presidente brasileiro.
Aberta a todos os países, a iniciativa pretende coordenar ações e parcerias técnicas e financeiras para apoiar a implementação de programas nacionais nos países que aderirem e ainda o financiamento de políticas públicas para a erradicação da fome e da pobreza no mundo.
Lula da Silva considerou "estarrecedores" os dados divulgados quarta-feira pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre a insegurança alimentar no mundo.
O número de pessoas que vivem com fome no planeta aumentou em mais de 152 milhões desde 2019. Isso significa que 9% da população mundial (733 milhões de pessoas) está subnutrida, segundo a organização.
Lula da Silva criticou os super-ricos e citou as crises que tem afetado o mundo, a pandemia de covid-19, conflitos armados que interrompem a produção e distribuição de alimentos, eventos climáticos extremos, protecionismo e subsídios agrícolas como causas da fome e da pobreza, mas referiu que não resultam apenas de fatores externos, mas sim "de escolhas políticas porque o mundo produz alimentos mais do que suficientes" e, portanto, falta um esforço global para "criar condições de acesso aos alimentos".
"A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nasce dessa vontade política e desse espírito de solidariedade. Ela será um dos principais resultados da presidência brasileira do G20. O seu objetivo é proporcionar renovado impulso às iniciativas existentes, alinhando esforços nos planos doméstico e internacional", explicou o chefe de Estado brasileiro.
A Aliança lançada pelo Brasil, disse, será gerida com base num secretariado alojado nas sedes da FAO em Roma e em Brasília, com uma estrutura pequena, formada por pessoal especializado e funcionará até 2030, quando será desativada.
"Metade dos custos serão cobertos pelo Brasil. Quero registar a minha gratidão aos países que já se dispuseram a contribuir com este esforço. A Aliança tampouco criará fundos novos. Vamos direcionar recursos globais e regionais que já existem, mas estão dispersos", apontou o Presidente brasileiro.
Lula da Silva afirmou ainda que recebeu com satisfação os anúncios feitos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pelo Banco Africano de Desenvolvimento, que estabelecerão um mecanismo financeiro para o uso do capital híbrido dos Direitos Especiais de Saque em apoio à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
"É gratificante saber que a segurança alimentar será um tema central na agenda estratégica do Banco Mundial nos próximos anos e que a Associação Internacional para o Desenvolvimento fará nova recomposição de capital para ajudar os países mais pobres (...) A Aliança Global nasce no G20, mas é aberta ao mundo", concluiu.
A ideia é que cada país elabore o seu próprio plano e defina as suas metas de combate à fome e à pobreza, e que a Aliança ajude a cumpri-las com dotações financeiras e também com tecnologias e conhecimentos.