Depois de ter sido conhecida a decisão de obrigar o embaixador francês, Luc Hallade, a deixar o Burquina Faso, numa declaração do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros à Reuters, Paris admitiu que essa imposição tinha sido transmitida às autoridades francesas através de uma carta, embora se tenha recusado a pormenorizar, e o Governo burquinense também optou por não se estender em comentários sobre este escaldante assunto.
Mas na resposta à Reuters, o porta-voz do Quai d'Orsay não deixou passar a oportunidade de meter uma lasca diplomática na decisão de Ouagadougou ao referir-se às autoridades militares burquinenses como "transitórias" devido ao facto de se tratar de um Governo saído de um golpe de Estado em Novembro do ano passado, o segundo em escassos três meses.
Nessa resposta, por mail, é ainda dito que se trata de uma decisão "fora da prática normal" em diplomacia e que, por isso, não seriam feitas mais declarações ou pormenorizações sobre as que foram já feitas.
A par do Burquina Faso, recorde-se, também no Mali se assiste por estes tempos a uma severa deterioração das relações entre Paris e Bamako, com a expulsão de diplomatas e das forças francesas que integravam o contingente internacional de combate aos radicais do `estado islâmico" e da al qaeda do Magrebe, assistindo-se igualmente a uma aproximação a Moscovo naquilo que já é visto no continente como a diluição da famosa FranceAfrique, a definição de uma África francófona submissa a Paris.
Estas movimentações, que já acontecem há vários anos, desde que a Rússia optou estrategicamente por avançar na efectivação de uma cooperação alargada com diversos países africanos, quase sempre sustentada na vertente militar, com os para-militares da Wagner (que muitos apontam como uma empresa de mercenários ao serviço de Moscovo, responsável por alguns destes golpes militares).
Isto, para que esse relacionamento menos politicamente impositivo - indiferente aos Direitos Humanos, por exemplo -, se consolide com o Kremlin de Vladimir Putin, como está igualmente a acontecer na República Centro-Africana ou, entre outros, com o Chade, a Argélia, o Egipto ou ainda nalguns países da África Austral. Desde logo com uma reaproximação à África do Sul alimentada pela gratidão ao apoio da então URSS no combate ao apartheid.
A aparente ineficácia francesa para manter a influência na "FranceAfrique" como nos bons velhos tempos dos idos de 1990, quando Paris reinava sem oposição, começou a ser desenhada com a inaptidão para debelar os grupos de insurgentes islâmicos ligados ao estado islâmico e à al qaeda, coisa que, aparentemente, os russos da Wagner estão a conseguir melhor, embora sem uma clara demonstração disso no terreno, porque os ataques dos radicais islâmicos continuam a ser diariamente noticiados.
A isto juntam-se as largas manifestações em diversas capitais africanas desta região contra Paris, queimando bandeiras francesas, ao mesmo tempo que as bandeiras da Federação Russa surgem empunhadas pelos manifestantes, que, entre outras opções, destroem edifícios ligadas à França, como o Centro Cultural Francês em Ouagadougou, durante o golpe de Novembro de 2022.